Quem sou eu

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Salvador, Bahia, Brazil
A língua está em mim, me perpassa, faz parte da minha formação como ser social inserido num grupo. Compõe ainda a minha própria formação acadêmica já que resolvi após o primeiro curso superior (Administração), cursar Letras. Essa língua me representa em todos meus conflitos, pois suas características são iguais as minhas, um ser multifacetado, de exterior sóbrio e estático, mas no íntimo um turbilhão em movimento. Assim como um rio congelado que apresenta a sua superfície estática, mas o seu interior está sempre em movimento, num curso perene. Capacidade de adaptação e compreensão com singularidade e regionalidades tolerantes como próprios à língua. Escrever é para mim, como respirar, sinto essa necessidade e é através da escrita como afirmou Aristóteles que transitamos desde o terror até a piedade de nós mesmos e do outro. Esse ofício da escrita nos eleva, nos projeta, nos ressignifica quando tocamos o outro com as nossas palavras, seja no universo ficcional, biográfico ou autobiográfico. Escrever é uma necessidade, escrever é transpirar no papel as nossas leituras.

sábado, 27 de fevereiro de 2016

ENTRE DOIS.





        Retornou, retrucou, redarguiu! Eram dois, eram um, eram depois. Depois de tudo nada havia, apenas  mentiras e agonia.
        Razões razoáveis aplicadas na razão de dois. Um vitimizava-se,  outro exorava para si a verdade. Achava-se preterido, rejeitado, fora defenestrado para fora da vida a dois.
        Inconformado não soubera perdoar, entender, relevar nem compreender. Emudeceu! E diante do silêncio encarava respostas. Retornar não poderia, nem mesmo sem ter concluído o objetivo, já seria muito tarde. 
        Revestiu-se da solidão  e retomando a caminhada, suspirou: - "agora somos um em busca do dois." 

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

BOURDIEU E O SISTEMA ESCOLAR










        Segundo Bourdieu (1970) o sistema escolar não vai igualar as oportunidades ou dar cultura a todos mas pode, no entanto, não reforçar a desigualdade.
        Dentre suas inúmeras contribuições está, de certo, essa de mostrar que, se a escola agrava, por assim dizer, as desigualdades que tem origem nas posições ocupadas pelos indivíduos no espaço social, ela o faz, justamente por privilegiar a cultura dominante, ao valorizar relações com os conhecimentos associados aos padrões de elite, ao construir e favorecer modos de avaliação cujos critérios também repousou sobre distinções sociais.
       Atualmente o Ministério da Educação está desenvolvendo a Base Nacional Comum Curricular com o intuito de igualar  o currículo no sistema pedagógico. Sistema é o conjunto  de vários elementos intencionalmente reunidos de modo a formar uma estrutura coerente  e operante. O sistema pedagógico (ou educacional) é o conjunto das instituições por meio das quais uma sociedade procura conscientemente e, principalmente, pela palavra, formar as ideias, os sentimentos, etc. (construção do indivíduo)
       Desde cedo, na obra de Bourdieu, a escola é tida como instância conservadora e a pedagogia como conjunto de procedimentos que podem agravar as diferenças sociais vividas na cultura escolar como diferenças de capacidades ou de aptidões, de "inteligência" ou de  "dons". Ele pensava que apenas uma "pedagogia racional" poderia neutralizar essa ação de intensificação das desigualdades no interior  do sistema escolar e, assim mesmo, apenas aliadas a uma vontade política de dar a todos oportunidades iguais perante o ensino. Essa pedagogia deveria ser fundada sobre uma sociologia das desigualdades culturais.
      A base nacional comum curricular torna-se um desafio uma vez que, os sistemas de ensino implica uma pluralidade de organizações públicas e particulares, um conjunto mais ou menos complexo de unidades escolares de natureza  e níveis diferentes superpostos, hierarquizados e ligados entre si por uma relação de coordenação e subordinação. Na sua estrutura e desenvolvimento há diferentes influências histórico-sociais. Na sua organização refletem os interesses das classes dominantes e as diversas demanda dessas classes.
      De acordo com Bourdieu exatamente porque conhecemos as leis da reprodução- as formas pelas quais ela se efetiva- é que passamos a ter alguma possibilidade de minimizar os efeitos da ação reprodutora da instituição escolar. Bourdieu analisa a ação pedagógica como ação de violência simbólica, isto é, de inculcação de significações e  de legitimação dessas mesmas distinções. Eles desentranham  das situações de ensino das formas pelas quais tal violência é exercida pelos agentes pedagógicos devidamente autorizados na instituição.
      Assim é que, para dar conta das especificidades do sistema educacional, são examinadas as diversas relações que se concretizam na instituição escolar entre o capital cultural dos indivíduos e os modos de viver a comunicação pedagógica, os discursos dos professores e as formas de compreensão dos alunos, o papel dos exames e os modos de selecionar os que podem ascender socialmente pela educação.
       Portanto é perceptível um estreito diálogo entre a base nacional curricular proposta pelo Ministério da Educação e as ideias de Bourdieu que ao gerar cuidadosa análise das formas pelas quais a escola concretiza no cotidiano, sua função reprodutora das relações de dominação vigentes na sociedade, Ele sustentou uma alternativa bastante peculiar de "cúmplice da utopia" propondo o trabalho de desvelar os modos ocultos da produção da violência da dominação ou da injustiça. Dentre as conceituações para a explicação de Bourdieu acerca da educação está a de capital cultural. Assim como o capital econômico e o capital social que é constituído por redes de relações e prestígio, o capital cultural também contribui para situar os agentes em posições definidas no espaço social.
      O capital cultural identifica-se sob a forma de conhecimentos e habilidades adquiridos quer na família, quer na escola. Desse modo , o capital cultural aparece como um conjunto de prioridades adquiridas pelos indivíduos que se consubstanciam sob três formas a começar por um estado incorporado- como disposições duráveis do organismo, um trabalho do indivíduo sobre si mesmo, como um "cultivar-se" que traduz o tempo investido na aquisição de modos potenciais de ação. Já o estado objetivado do capital cultural refere-se a um certo número de prioridades definidas apenas em relação ao capital cultural incorporado e que podem associar-se aos suportes materiais (escritos e quadros, por exemplo). Entretanto mesmo sendo transmissíveis como o capital econômico, na verdade dependem do capital cultural incorporado para que possam ser desfrutados.
      Além desses estados, Bourdieu indica igualmente a existência de outra dimensão, a do capital cultural institucionalizado e exemplifica através dos diplomas que, como "certidões de competência cultural ", conferem aos seus portadores um valor constante, convencionado e garantido com relação à cultura. Esse certificado é como se fosse um reconhecimento institucional do capital cultural do indivíduo e permite tanto que se compare aos "diplomados" quanto que se estabeleçam valores ou taxas de conversão entre o capital cultural e o capital econômico.
     Quer isso dizer que os diplomas estabelecem valores para seus detentores e valores em dinheiro, que podem ser trocados no mercado de trabalho.