Quem sou eu

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Salvador, Bahia, Brazil
A língua está em mim, me perpassa, faz parte da minha formação como ser social inserido num grupo. Compõe ainda a minha própria formação acadêmica já que resolvi após o primeiro curso superior (Administração), cursar Letras. Essa língua me representa em todos meus conflitos, pois suas características são iguais as minhas, um ser multifacetado, de exterior sóbrio e estático, mas no íntimo um turbilhão em movimento. Assim como um rio congelado que apresenta a sua superfície estática, mas o seu interior está sempre em movimento, num curso perene. Capacidade de adaptação e compreensão com singularidade e regionalidades tolerantes como próprios à língua. Escrever é para mim, como respirar, sinto essa necessidade e é através da escrita como afirmou Aristóteles que transitamos desde o terror até a piedade de nós mesmos e do outro. Esse ofício da escrita nos eleva, nos projeta, nos ressignifica quando tocamos o outro com as nossas palavras, seja no universo ficcional, biográfico ou autobiográfico. Escrever é uma necessidade, escrever é transpirar no papel as nossas leituras.

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

DESVALIDO


Tenho muitos contatos, nenhum me procura. Tenho uma ansiedade sem cura. Sinto o abandono, transpiro solidão. Ando sozinho, exalo insatisfação.
Tenho o coração repudiado, o corpo estigmatizado, sou epígono do descaso.
Fui concebido na roda dos desvalidos, não conheço afeto. Olvidado diante de uma porta, recepcionado pela hipocrisia religiosa, cresci por amavios envenenado.
Anatematizo a moral, a ordem os padrões. Objetivo a estética, a verdadeira aparência do ser, a imagem da alma.

ATEMPORAL


Queria tirar o mal de mim, sempre vivi a competição.
Tenho vergonha do egoísmo, a couraça que me reveste. Sonho conquistas e prestigio, sem a preocupação de um herdeiro.
Envergonho-me do presente, o passado me atormenta, o futuro assusta-me.
Um sentimento reverbera em mim, o sentimento vazio, que nunca é preenchido por rotativos relacionamentos.
A vida me promove reencontros e nesses me sinto mais vazio e só. Nada tive, nunca. Eles sempre foram de outro sentimento, estou empedernido, desiludido sem alento. 

terça-feira, 23 de outubro de 2012

A PEDAGOGIA DO IMPLÍCITO



Bourdieu (2001), se apropria do conceito de habitus – encarnação dos costumes dos indivíduos, para demonstrar um esboço de uma teoria da prática.
Para Bourdieu o habitus seria um sistema de disposições duráveis e consumíveis que gera percepções, apreciações e ações. Seria as disposições como o indivíduo interioriza a exterioridade e exterioriza a interioridade, o exterior é aprendido através da ideia postulada nas estruturas sociais. Assim o habitus funciona como princípio gerador das respostas que damos à realidade social.
O conceito de violência simbólica foi criado por Bourdieu para descrever o processo pelo qual a classe que domina economicamente impõe sua cultura aos dominados.
Bourdieu concebe a cultura privilegiada no ensino escolar como sistema simbólico arbitrário. Sinteticamente, é possível dizer que as reflexões de Bourdieu sobre a escola partem da constatação de uma correlação entre as desigualdades sociais e escolares. As posições mais elevadas e prestigiadas dentro do sistema de ensino tendem a ser ocupados pelos indivíduos pertencentes aos grupos socialmente dominantes.
Para o autor essa correlação nem é, obviamente, causal, nem se explica, exclusivamente, por diferenças objetivas (sobretudo econômicas) de oportunidade de acesso à escola. Segundo ele, por mais que se democratize o acesso ao ensino por meio da escola pública, continuará existindo uma forte correlação entre as desigualdades sociais, sobretudo culturais, e as desigualdades ou hierarquias internas do sistema de ensino.
Essa correlação só pode ser explicada, na perspectiva de Bourdieu, quando se considera que a escola dissimuladamente valoriza e exige dos alunos determinadas qualidades que são desigualmente distribuídas entre as classes sociais, notadamente, o capital cultural  e uma certa naturalidade no trato com a cultura e o saber que apenas aqueles que foram desde a infância socializados na cultura legítima podem ter.
Em resumo, a grande contribuição de Bourdieu para a compreensão sociológica da escola foi de ter ressaltado que essa instituição não é neutra.
Formalmente a escola trataria a  todos de modo igual, portanto, supostamente, todos teriam as mesmas chances. Bourdieu mostra que na verdade, as chances são desiguais.
Alguns estariam numa condição mais favorável do que outros para atenderem às exigências, muitas vezes, implícitas da escola. Ao sublinhar que a cultura escolar é cultura dominante dissimulada, Bourdieu abre caminho, para uma análise mais crítica do currículo, dos métodos pedagógicos e da avaliação escolar. Os conteúdos curriculares seriam selecionados em função dos conhecimentos, dos valores, e dos  interesses das classes dominantes.
Desse modo, a transmissão dos conhecimentos seguiria o que Bourdieu chama de pedagogia do implícito, o pleno aproveitamento da mensagem pedagógica suporia, implicitamente, a posse de um capital cultural anterior que apenas os alunos provenientes das classes dominantes apresentam.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

REMINISCÊNCIAS


Sou um  velho em corpo de jovem, aprendo com erros alheios, habito as emoções inóspitas, vivo em permanente cinza. Observo, apreendo, concluo.
Não confio em sentimentos, a desilusão é meu alento. Procuro imbróglios satisfatórios, sou casado com o trabalho, a fadiga me alimenta, o dia sabático me entristece.
Anseio tocar o interior alheio. Caminho alheio à ordem, não obedeço a padrões e tendências, inauguro reminiscências.  
Sou jovem revestido de senilidade, sou excêntrico, sou saudade.

JARDIM


Domingo sempre foi dia de igreja, não me agradava. O rosário, o terço, a missa me enfadava.
Aos sábados íamos ao clube, a praia, logo cedo, fazíamos cooper e passávamos o dia na praia.
Era um grande espaço verde, muitos coqueiros, plantas xerófilas, o mar era bravio e impróprio para  banho.
Tinha o nome de Jardim de Alah e assim era, como um jardim, ali crescemos aprendemos a gostar de esporte, de piquenique, de pegar sol sem pressa para voltar pra casa, o sábado parecia uma eternidade no Éden.
Mas ao retornar, a realidade do lar era sofrível, encarar aqueles que meu sentimento desprezava, ódio, inveja, rancor avançavam contra mim. Ignorar era minha represália, sempre.
Saí incólume, agora não preciso mais suportes aqueles que me execravam. Estou livre, busco olvidar o passado de realidade triste.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

LABIRINTO



Procuro um bom momento, um grande sentimento, o sentido para a razão.
Procuro um companheiro que me ame o tempo inteiro, se, nenhuma objeção.
Procuro a satisfação do sucesso, o desempenho na carreira, a valorização máxima.
Busco galgar o topo, a excelência, o auge da existência.
Caminho no labirinto, atravesso circunstancias, não tenho rumo certo. Estou incompleto, falta-me a exatidão.
Na ilusão a busca da realização, almejando a compreensão, sigo selecionando a emoção.