Quem sou eu

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Salvador, Bahia, Brazil
A língua está em mim, me perpassa, faz parte da minha formação como ser social inserido num grupo. Compõe ainda a minha própria formação acadêmica já que resolvi após o primeiro curso superior (Administração), cursar Letras. Essa língua me representa em todos meus conflitos, pois suas características são iguais as minhas, um ser multifacetado, de exterior sóbrio e estático, mas no íntimo um turbilhão em movimento. Assim como um rio congelado que apresenta a sua superfície estática, mas o seu interior está sempre em movimento, num curso perene. Capacidade de adaptação e compreensão com singularidade e regionalidades tolerantes como próprios à língua. Escrever é para mim, como respirar, sinto essa necessidade e é através da escrita como afirmou Aristóteles que transitamos desde o terror até a piedade de nós mesmos e do outro. Esse ofício da escrita nos eleva, nos projeta, nos ressignifica quando tocamos o outro com as nossas palavras, seja no universo ficcional, biográfico ou autobiográfico. Escrever é uma necessidade, escrever é transpirar no papel as nossas leituras.

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

AFAZERES





Estamos todos na sala, minha mãe deu a ordem: - já para o quarto, amanhã vocês terão aula. Subimos, cada qual para seu quarto.
Após quinze minutos, ela também afirma: vou deitar, estou muito cansada. Tendo levantando-se do sofá, caminha até a cozinha, prepara o nosso sanduiche de pernil para o lanche da escola amanhã cedo, leva algumas louças que estavam na pia, recolhe as roupas da área de serviço que secas balançam com o vento noturno, guarda os prendedores na cesta junto à máquina de lavar, sem dar importância a alguns que caem no chão no movimento que ela faz para deixa-los na cesta.
Caminha até a sala novamente verifica se as portas estão fechadas, abre as cortinas. Vai em direção ao banheiro lava o rosto, põe o creme, enrolo os cabelos colocando a touca, nesse momento meu pai grita da sala: - mulher você já foi dormir!? ou continua rondando pela casa?! Ela permanece em silencio, põe a camisola, vem ao nosso quarto beija-nos a fronte desejando-nos boa noite.
A essa altura, meu pai com um bocejo, levanta-se e diz vou dormir, desligando a tv caminha até o quarto e prostra-se na cama em sono profundo, enquanto minha mãe ainda ler duas paginas do seu livro preferido.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

O VOTO




Ela sentia ausência de tudo, um grande vazio por dentro, a alma não a preenchia.
A solidão a acompanhava como sua própria sombra projetada do corpo pela luz.
Não possuía mais esperança, anoitecera e envelhecera o sentimento, já não guarda o momento.
Vive seu motivo, anda sem razão, machucara o coração.
Casou-se muito cedo, por conveniência. Não. Não era interesseira, não ambicionara grandes coisas, seu pai a obrigara cumprir o voto, seria bom para todos.
Em dez anos veio o desgaste, amanhece solitária no quarto da fazenda, tendo como herança dez cabeça de rês e um velório a realizar. O tempo desigual na idade a fizera viúva aos vinte e cinco anos, vivera infeliz por onze anos. Agora viveria só.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

EMOÇÃO




Klaus durante a reunião de família nos festejos natalinos refletia:
Cronos. Dia a dia, mês a mês, dezembro chega. Fim do ciclo. Tudo se inicia, mas nada muda.
O individualismo impera o outro nunca é visto. Há uma naturalização e banalização pelo sofrimento alheio. E a alheios a tudo seguimos. Seguimos as tendências, as modas, os costumes, as teorias, as previsões, os conselhos, mas nunca chegamos ao porto seguro.
Anseamos tudo e nada desejamos compartilhar. Estar bem é ser melhor ou mais rico que o outro.
E o vil metal estimula a corrida contra o tempo, nessa maratona o corpo envelhece enquanto os bens se multiplicam, ao fim nada desfrutamos, além das emoções vividas: dor, revolta, alegria, satisfação. Satisfação de praticar o bem, de compartilhar sem isso não existimos humanamente.