Bibliografia: Perez, Glória Maria Ferrante. Caminho das Índias uma produção da TV Globo que estreou 19 de janeiro de 2009 com término em 11 de setembro de 2009; Silva, Ana Beatriz Barbosa. Mentes perigosas - O psicopata mora ao lado Rio de Janeiro: Fontanar, 2008
Nesse artigo pretendemos analisar a produção artística da autora Glória Perez, a novela Caminho das Índias, tomando como recorte a problemática da esquizofrenia e /psicopatia, discutida na novela e seus imbricamentos sociais, analisaremos também como duas produções artísticas dialogam no mesmo propósito; o de informar e conscientizar a sociedade sobre o preconceito existente em relação a essas patologias.
Preconceito que é cultivado por ambos, ricos e pobres, demonstrando que apesar de adquirirem cultura e riqueza, os anos gastos no interior das "torres de marfim" da academia não possibilitaram a esses intelectuais lidar com questões sociais tão sensíveis porém há um ponto positivo para a classe pobre, já que, essa é mais receptiva para aceitar e entender essas patologias quando recebe orientação profissional adequada, ao contrário da classe rica que devido ao ego, a sensação de onipotência pela condição social, se nega a aceitar que precisa de tratamento, apesar de ter acesso aos melhores profissionais da área médica e a hospitais sofisticados.
A produção artística de Glória Perez faz uma releitura da obra de Ana Beatriz Barbosa Silva, Mentes perigosas - O psicopata mora ao lado, (em que a autora alerta sobre o poder destrutivo dos psicopatas, que manipuladores, perversos e desprovidos de culpa, remorso ou arrependimento, são capazes de passar por cima de qualquer pessoa para satisfazer seus próprios interesses: "Eles podem arruinar empresas e famílias, provocar intrigas, destruir sonhos, mas [em sua maioria] não matam. E, exatamente por isso, permanecem por muito tempo ou até uma vida inteira sem serem descobertos ou diagnosticados. Por serem charmosos, eloquentes, "inteligentes", envolventes e sedutores, não costumam levantar a menor suspeita de quem realmente são. Podemos encontrá-los disfarçados de religiosos, bons políticos, bons amantes, bons amigos. Visam apenas benefício próprio, almejam o poder e o status, engordam ilicitamente suas contas bancárias, são mentirosos contumazes, parasitas, chefes tiranos, pedófilos, líderes natos da maldade".) em um formato (gênero) diferente, a fim de propiciar o conhecimento e trazer a discussão dessa temática às esferas da sociedade, o que não ocorria, tais discussões eram reservadas aos círculos dos intelectuais da área médica.
Podemos perceber nesse contexto uma grande estratégia de democratização de conhecimentos básicos sobre essas patologias, evitando, assim o medo e o preconceito por falta de informação, uma vez que, o brasileiro pertencente à classe baixa, em sua maioria, não teria acesso a essa produção artística em forma de livro.
Outro fator preponderante é o custo exorbitante dos livros no Brasil, em que o salário mínimo mal dá para o lazer comum da população pobre, que é ver seu time de futebol nos estádios aos domingos.
A novela Caminho das Índias representou um diferencial importante na cultura da sociedade Brasileira, pois trouxe ao cenário popular várias discussões importantes, além da temática das doenças psicológicas, tivemos ainda, a temática da educação de jovens/adolescentes, no que diz respeito a impor limites aos mesmos, a fim de evitar que estes se tornem criminosos, a questão do Bullying nas escolas etc.
É interessante perceber como os discursos presentes no livro são veiculados através da novela, e como isso dá visibilidade à autora Ana Beatriz Barbosa Silva, e as suas obras. Nesse sentido fazemos referência à Koch (2002), ao que a autora classifica como intergenericidade nos gêneros textuais, em que a novela se torna veículo informacional, produzindo os discursos de um livro de caráter científico/social.
Percebemos ainda a atuação do poder da mídia na merchandising do livro através da visibilidade adquirida pela novela e assim constatamos o poder de alienação dos meios de comunicação, um dos principais aparelhos ideológicos do nosso século.
Sobre esse poder de alienação da mídia existem muitas discussões a respeito do papel dos meios de comunicação no ambiente social autores como: Vera França (2001), a Tv, a janela e a rua, Althusser (1974), Ideologia e aparelhos ideológicos do Estado, Martine Joly, o que é uma imagem? Douglas Kellner, lendo imagens criticamente, etc, tratam muito bem desse assunto.
Porém possuímos uma visão particular, é inegável que a mídia e os meios de comunicação são alienantes, mas discordamos com a postura defendida por uma gama de professores, intelectuais e estudantes universitários que afirmam que o melhor é não utilizá-los. (se é que se pode viver sem eles).
A atitude desses intelectuais e formadores de opinião é antes um mascaramento dos seus comportamentos reais, e uma tentativa de orientar o comportamento dos outros indivíduos - aqueles que se baseiam nesses "professores e intelectuais".
Assim acreditamos que devemos desenvolver um senso crítico nos usos desses meios de comunicação e questionar toda mensagem que nos é veiculada, como por exemplo; sobre novas tecnologias, já que vivemos na era da tecnologia descartável; será que necessito mesmo trocar o meu celular agora? Ou estou sendo seduzido pelo marketing veiculado pela mídia que prega o consumismo desenfreado? (alienação).
Um fato que refuta bem o falso comportamento dos "intelectuais" de boicotar as produções artísticas veiculada pela mídia, afirmando que toda produção televisiva é "trash" (lixo cultural) é o objeto de estudo desse artigo, a novela "Caminho das Índias" em que além da temática comum das novelas, traz discussões importantes e informativas ao público em geral.
Desse modo entendemos que os indivíduos (com exceção das "intelectuais equivocados" que devido à sua pré disposição de repelir o uso das produções artísticas veiculadas pela mídia ficam impossibilitados de estabelecerem uma leitura produtiva dessas produções, filtrando criticamente o que lhes é pertinente), podem e devem fazer uso dos meios de comunicação ("populares"), tv aberta, analisando os seus usos, assim poderá construir o seu conhecimento com as ferramentas que lhes são disponíveis.