Quem sou eu

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Salvador, Bahia, Brazil
A língua está em mim, me perpassa, faz parte da minha formação como ser social inserido num grupo. Compõe ainda a minha própria formação acadêmica já que resolvi após o primeiro curso superior (Administração), cursar Letras. Essa língua me representa em todos meus conflitos, pois suas características são iguais as minhas, um ser multifacetado, de exterior sóbrio e estático, mas no íntimo um turbilhão em movimento. Assim como um rio congelado que apresenta a sua superfície estática, mas o seu interior está sempre em movimento, num curso perene. Capacidade de adaptação e compreensão com singularidade e regionalidades tolerantes como próprios à língua. Escrever é para mim, como respirar, sinto essa necessidade e é através da escrita como afirmou Aristóteles que transitamos desde o terror até a piedade de nós mesmos e do outro. Esse ofício da escrita nos eleva, nos projeta, nos ressignifica quando tocamos o outro com as nossas palavras, seja no universo ficcional, biográfico ou autobiográfico. Escrever é uma necessidade, escrever é transpirar no papel as nossas leituras.

sábado, 26 de abril de 2014

Florecer






                     Periferia, quintal de casa, um tonel, quatro mãos brincam com a  água no interior dele.
Palavras, conversas, fatos, e gestos. Verdade encoberta, vida transparente. Naquele instante revelava o que todos já sabiam, temiam perceber, mas a dúvida os instigava a questioná-lo. Ainda que a resposta os apavorasse.
                      Assim, ao constatar a realidade homoafetiva em família, passou a viver preocupado. Enquanto o outro a essa altura já lutava a sua própria batalha: negação, raiva, negociação, depressão, e por fim, aceitação.
                       Confesso que a mais tenebrosa tenha sido a quarta fase, porém a maior recompensa é a trégua consigo, ao reconhecer-se no seu próprio corpo, diante da última máscara: a sua imagem no espelho.

domingo, 13 de abril de 2014

LEGATÁRIO.


                  Não tive filhos, não transmiti a ninguém o legado da nossa tristeza. Não gerei, não criei, não alimentei, não abandonei, não assumi, não releguei, não preocupei, nem dor causei.
                   Universo de mágoas, armazém de solidão, infância triste, desprezo e abnegação. Luta constante, sempre para permanecer. Dificultaram a sua vida, um legado sofrível. Abandonado desde cedo, não gozava de possibilidades, agarrou a conquista, e com perseverança tendo vencido a luta da vida, no seu êxito, decidira que não promoveria o sofrimento a outrem. Não geraria ninguém, alguém, ou seja lá o que fosse.
                   Não teve filhos não transmitiu a ninguém o legado da sua tristeza.