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A língua está em mim, me perpassa, faz parte da minha formação como ser social inserido num grupo. Compõe ainda a minha própria formação acadêmica já que resolvi após o primeiro curso superior (Administração), cursar Letras. Essa língua me representa em todos meus conflitos, pois suas características são iguais as minhas, um ser multifacetado, de exterior sóbrio e estático, mas no íntimo um turbilhão em movimento. Assim como um rio congelado que apresenta a sua superfície estática, mas o seu interior está sempre em movimento, num curso perene. Capacidade de adaptação e compreensão com singularidade e regionalidades tolerantes como próprios à língua. Escrever é para mim, como respirar, sinto essa necessidade e é através da escrita como afirmou Aristóteles que transitamos desde o terror até a piedade de nós mesmos e do outro. Esse ofício da escrita nos eleva, nos projeta, nos ressignifica quando tocamos o outro com as nossas palavras, seja no universo ficcional, biográfico ou autobiográfico. Escrever é uma necessidade, escrever é transpirar no papel as nossas leituras.

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

CONTINUUM FALA - ESCRITA


Segundo Hilgert (1991) a língua escrita não constitui para a transcrição. Ao mesmo tempo, não basta que a língua seja realizada oralmente, constituindo produto perceptível pela audição, para ser considerada falada.
A oralidade é uma característica essencial da língua falada, mas não o suficiente, o que faz com que notícias transmitidas por rádio ou tv, por exemplo, se caracterizem pela oralidade, mas não pelo caráter falado. São de fato, textos escritos realizados oralmente.
Assim as diferenças entre língua falada e língua escrita são de outra natureza, elas resultam de diferenças entre os processos de falar e de escrever, ou entre condições de produção do texto falado e do texto escrito.
Tomando como exemplo a conversa no MSN podemos perceber que apesar de ser digitado numa interface de comunicação (mídia), quase face a face (dialógica), salvo se existir a webcam para intermediar o contato entre os falantes (apresentação da imagem dos indivíduos), ainda assim, constitui-se língua falada, pois não apresenta as características da língua escrita que são: escrever constitui um ato solitário, não há interação, o escritor elabora o texto sozinho, o texto escrito não deixa marcas no processo de planejamento, se apresentando como um todo coeso, sintaticamente complexo.
Assim a língua falada é caraterizada por um contexto específico, constitui uma tarefa cooperativa entre falantes num mesmo momento e espaço, ou seja, a língua falada é caracterizada pela dialogicidade (dialogismo), instaurada pela situação face a face.
Desse modo, segundo Preti (2000), a língua apresenta uma tendência para o não planejamento, ou ainda de acordo com Ochs (1979), a língua falada é planejada localmente, ou seja, constitui uma atividade administrada passo a passo. Assim planejamento e realização do discurso coincidem no eixo temporal, ou são praticamente concomitantes.
Por fim, para Chafe (1982), a língua falada apresenta a característica da fragmentação, ou seja, é produzida aos jatos e borbotões, que são unidades de ideia, ou significativas com um contorno entonacional típico, e limitados por pausas. A passagem de uma unidade para outra se dá muito rapidamente, tornando o processo de falar bem mais acelerado do que o de escrever.
Logo, na língua falada as frases se apresentam mais independentes uma com relação às outras.

MAS AFINAL, COMO ENSINAR A LÍNGUA PORTUGUESA?


Castilho (2001), propõe que conheçamos a língua portuguesa que ensinamos (português brasileiro) e a língua falada no ensino de português (o contexto, a realidade linguística do aluno). De maneira que possamos documentar, descrever e historiar a fim de renovarmos o ensino do português no Brasil.
 Para o autor as nossas metodologias ainda são incipientes, motivo pelo qual nunca atingimos os resultados almejados no ensino do português, por estarmos sempre apoiados em realidades outras, fora do nosso contexto sócio educacional (Países hegemônicos do centro).
O autor afirma ainda que fazemos vista grossa para a realidade do ensino de língua materna, deixando de identificar as línguas: da escola (gramatica normativa/ prescritiva e norma padrão) e a do aluno: a norma popular, o que inviabiliza a aplicação da metodologia ideal para ensino da língua.
Desse modo entendemos que para Castilho (2001), o ensino de língua deve partir da reflexão sobre a língua, e do conhecimento prévio do aluno, a língua falada (conversação), para só então, avançar para o conhecimento socialmente valorizado ( o currículo), utilizando para isso, as teorias linguísticas que melhor favoreçam essa reflexão e transposição didática.
Schleicher (2005) por sua vez, afirma que a melhoria da qualidade e da equidade na educação se dará através de programas de fomento do desenvolvimento educacional.
Como o PISA (Programa de Avaliação de Ensino), que avalia e compara o  modelo de ensino nos países desenvolvidos (centrais) e apresenta dados quantitativos que apontam a melhoria no desenvolvimento do modelo educacional desses países que adotaram esse modelo de avaliação.
 Para Schleicher, não há determinismo, ou relação implícita entre riqueza e desenvolvimento e modelo educacional eficiente, o autor defende que qualquer país poderá obter um modelo educacional eficiente se aplicar a metodologia de análise e melhoria contínua na educação dos indivíduos, essa metodologia é projetada a partir do modelo dinâmico de aprendizagem.
O autor defende ainda os fóruns profissionais ligados à área de educação e sua importância para a socialização do conhecimento escolar a fim de promover um conhecimento compartilhado, trocas de experiências e desenvolvimento profissional.
Desse modo percebemos que o autor busca a emancipação ou empowerment do profissional docente ao afirmar que as políticas e as práticas devem estar na responsabilidade dos professores de maneira que os mesmos sejam preparados para assumirem essas práticas.
Assim, semelhantemente como Castilho aponta para a necessidade de uma reflexão sobre a metodologia do ensino de língua materna no Brasil, Schleicher orienta sobre a importância do desenvolvimento de políticas  que favoreçam a melhoria do ensino e da aprendizagem dos indivíduos no âmbito geral de educação, e isso só se fará através da transposição didática das pesquisas científicas nas áreas da Linguística e da Educação levando em consideração a nossa realidade educacional.

domingo, 19 de agosto de 2012

MODERNISMO sem MODERNIZAÇÃO


Santiago (1989) trata acerca de como o poder de repressão do governo tentou calar a voz da democracia de um modo geral, e como intelectuais utilizaram suas obras para criticar violência desse poder, daí que em seu texto, o autor menciona a concepção de democratização no Brasil e não democratização do Brasil, por considerar que apesar desse “movimento democrático” ter chegado ao Brasil, ele não é legitimado por completo, uma vez que, ainda existe minorias que não possuem voz no discurso.
Sobre essas minorias que disputam lugar (espaço) na sociedade, direito de falar e de serem ouvidas, podemos citar o discurso de Foucault (2004) que trata sobre a necessidade de dar voz a classe que se está representando. Nesse sentido, o governo ao representar a nação, não pode apenas valorizar certas “classes” em detrimento de outras, no caso, as minorias – as mulheres, os negros e os homossexuais.
Na tentativa de representar essas classes os intelectuais falham, pois não se reconhece a voz do representado no discurso social, antes esses intelectuais atrapalham, por assim dizer, a liberdade de expressão dessas classes que permanecem à margem. É como se tais intelectuais funcionassem como paliativo para que ao reportarem a voz dos marginalizados, esses permanecessem nos seus respectivos lugares sem “desorganizar” a geografia social (topografia), acreditando que estão sendo bem representados e possuem voz no discurso, perpetuando o ciclo do poder nas mãos da antiga aristocracia.
Sobre essa topografia social, Connor (1997) trata de definir os espações sociais demarcando o poder, de modo que, no centro prevalece o intelectual, o rico, o branco, a concepção patriarcal (modelo) e as ideologias machistas, enquanto que à margem, na periferia estariam  os vários grupos marginalizados.
Connor afirma que essa relação é instável, constantemente trava-se uma batalha no campo social, ideológico; através de produções artísticas, seja a música, a literatura, a arte, ou a política para disputar esse poder (espaço) ao centro.
Diante disso, percebemos a fragmentação do poder, esse poder não se encontra enraizado numa única instância, mas é operado nos vários discursos que perpassam esse modelo social que se afirma democrático, no entanto percebemos falhas nessa “democracia”.
Daí que Cancline irá afirmar que esse modelo (movimento democrático) é contraditório no Brasil, por conta que apesar de revolucionar o campo artístico, não operou as grandes transformações (como uma redistribuição igualitária dos espaços sociais – o poder, a voz, a visibilidade aos invisíveis socialmente representados) que ocorreram na Europa.
Vale assinalar que toda essa problemática irá promover uma transformação na concepção da literatura contemporânea que será pautada nas temáticas das minorias (os que habitam a periferia na topografia social) e que será denominada literatura marginal por seus representantes não possuírem visibilidade, apesar dessa literatura possuir força e coerência.
É importante mencionar a crise da representação que é uma marca da literatura brasileira contemporânea, uma vez que, se dá conta que o autor-narrador-personagem se confundem e de distanciam, o intelectual já não possui uma “função”, pois o que esse intelectual objetivava, se torna indigno, já que para representar o outro era necessário conhecê-lo e partilhar das suas “angustias”, mas esse intelectual prefere marcar o seu lugar de fala, sua posição no discurso, deixando bem claro, bem estabelecido os limites dessa topografia social.
Desse modo, Canclini (2003) irá tratar sobre contradições do modernismo, pois segundo esse autor, esse movimento foi copiado (exportado da Europa para o Brasil), no entanto perdeu a “força” transformadora ao cruzar o atlântico, pois não operou as mesmas transformações sociais e políticas aqui na tribo tupiniquim.
Isso se deve, em grande parte a própria posição do governo e das classes que detém o poder e que através de estratégias de legitimação abafaram esse movimento, impedindo a circulação da cultura às classes mais baixas (poder simbólico), freando o desenvolvimento e avanço das classes marginalizadas para as regiões onde se encontra localizado o poder, legitimando, assim, o grande abismo social entre o centro e a periferia.
Diante disso, Canclini considera que esse movimento modernista havia falhado em seu maior propósito aqui no Brasil, uma vez que, não operou a modernização, igualitando o poder perante as classes sociais.


A LITERATURA COMO FORMA DE RESISTÊNCIA.


A distinção básica que caracteriza tematicamente a literatura pós 64 é o fato que essa literatura deixa de apresentar como tema principal a exploração do homem pelo homem, tema esse que foi dramatizado pelo processo de conscientização político-partidária de atores sociais pertencentes à classes do campo e operário que criticavam de forma velada ou aberta à oligarquia rural e ao empresariado urbano.
É pelo abandono gradativo desse tema que a literatura pós 64 se diferencia da literatura engajada e encontra a sua originalidade temática. Refletindo sobre a maneira como funciona e atua o poder, a literatura brasileira pós 64 desenvolve uma critica radical contra o autoritarismo.
Nessa crítica ao autoritarismo e ao poder militar, a literatura pós 64 se distancia ideologicamente dos anos 30, aliado a isso, as diversas facções da esquerda se aglutinam em uma única frente de resistência a qualquer forma de ditadura inclusive a do proletariado, todos esses fatores irão direcionar o foco da literatura brasileira contemporânea para a “violência do poder” que se torna a principal característica temática da nossa literatura contemporânea. Dessa forma o escritor brasileiro contemporâneo (pós 64), põe em segundo plano nos seus textos a dramatização de temas universais e utopias da modernidade.
A opção dramática dessa literatura contemporânea se inscreve nos temas que, no particular e no cotidiano, na cor da pele, no corpo e na sexualidade. Ao tratar corretamente a questão do poder, a literatura investiu contra os muros que aprisionavam o intelecto, a ação, a constituição do espaço e o direito de gritar dos indivíduos.
Logo percebemos que essa literatura contemporânea pós 64 não carrega mais o otimismo social que edificava antes o texto literário, abandona os tons grandiosos e a alta retórica assumindo uma postura amena e divertida em tom coloquial para tratar dos problemas (temáticas) contemporâneos do nosso país.
Santiago (1989) trata sobre a questão do intelectual, suas produções artísticas e a relação entre esse seu fazer artístico e a  política (cenário da Democratização no Brasil) no que tange a como esse intelectual interfere na sociedade através do seu poder e conhecimento, além do seu lugar de destaque perante a massa. O autor busca evidenciar as principais transformações na literatura brasileira, demonstrando assim, como os intelectuais contemporâneos utilizaram a literatura como um veículo crítico-informacional com a intenção de denunciar esse novo modelo governamental, sua forma de funcionamento e a violência do poder.
Sobre essas novas temáticas que a literatura brasileira contemporânea assume, vale ressaltar que autores como Caio Fernando de Abreu e Clarice Lispector, em suas respectivas obras morangos mofados e a Hora da Estrela, irão tratar de temas como a homossexualidade a as mazelas sociais como a pobreza, a ignorância e a alienação das massas.

AS POLÍTICAS DE CONTATO: Trajetória dizimada dos Indígenas e trajetória dilacerada dos povos africanos escravizados.



Mattos e Silva afirma que não houve uma política de contato controlado.
A princípio os portugueses objetivaram aprender a língua indígena através da permanência de quatro representantes (dois degredados e dois grumetes) aqui no Brasil.
Porém esse objetivo não funcionou, e o processo de colonização se deu através da construção de um Tupi jesuítico – a língua geral da costa,  de base tupi, chegou a ameaçar a hegemonia do português no Brasil, juntamente com outras línguas gerais indígenas que foram veículos de intercomunicação entre brancos, negros e indígenas no litoral brasileiro, entradas paulistas, no nordeste teria sido uma língua geral Cariri  e na Amazônia a língua geral de base tupinambá.
Diante disso, podemos observar que somente através da política de contato controlado iremos evitar um novo percurso etnocida e glocitocida.
Podemos citar ainda como exemplo dessa política de contato controlado, o caso do Parque Nacional de Xingu, onde sobrevivem quinze grupos indígenas, com suas línguas de origem e como língua franca de intercomunicação entre as tribos, aflora o português xinguano – uma das variantes do português brasileiro, evidenciado um continuum linguístico.
Sobre a trajetória dilacerada africana a autora salienta que os negros foram selecionados negativamente a fim de que não se adenassem em um ponto qualquer, étnica, cultural e linguisticamente. Tal fato contribuiu para a riqueza de línguas africanas no território brasileiro, o que contribuiu para integração de itens lexicais no nível morfológico e maior número de campos semânticos no português do Brasil.
Desse modo, Mattos e Silva defende a ideia do multinguismo no português brasileiro que apresenta caráter heterogêneo devido às suas variantes.
Vale ressaltar que enquanto os índios foram dizimados, muitos negros dilacerados à partida e em seguida acantonados, em locais de refugio, ou para sobreviver ou ainda para tentar vencer seus opressores vencidos os quilombos, restaram em múltiplos pontos do Brasil grupos que se defenderam sob a proteção natural e que aos poucos se revelam.
A grande maioria dos negros, contudo, integrou-se nas cidades e nos campos à sociedade multiétnica brasileira em formação.
Segundo Mattos e Silva (1992), em 1757, com o Marquês de Pombal, se define para o Brasil uma política linguística e cultural.
Pombal define o português como língua da colônia, consequentemente obriga o seu uso na documentação oficial e implementa o ensino leigo no Brasil. A miscigenação e a presença não maciça de portuguesas são indicadores favoráveis à formação de uma língua geral brasileira caracterizada pela influencia africana, embora mais próxima do português europeizado.
 Podemos concluir segundo A. Houaiss (1985), que o português brasileiro nasce com diversidade.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

A DIFUSÃO DE PORTUGUÊS ATRAVÉS DAS CONQUISTAS ULTRAMARINAS.



Devido o número de falantes de português figurar em torno de 210 milhões, há uma aspiração por parte dos países lusófonos, de que o português seja reconhecido como uma grande língua de cultura e como a expressão de um conjunto de países que tem características comuns.
Uma das formas de reconhecimento que tem sido buscada através de iniciativas de governos é a adoção do português como uma das línguas oficiais da organização das Nações Unidas (ONU). Porém tais iniciativas não têm resultados significativos- porque a concorrência de línguas como o inglês, o francês e mesmo o espanhol continua forte.
Vale ressaltar que a difusão do português no mundo não foi uniforme, ora os portugueses tentaram colonizar áreas amplas (Brasil, Angola, Moçambique); ora contentaram-se com o domínio militar de posições estratégicas importantes, como Diu e Goa, ora estabeleceram entrepostos comerciais como em Macau.
Em consequência disso temos situações de bilinguismo, multilinguíssimo e crioulização, além da transformação do português numa língua de emigrantes. O bilinguismo e o multilinguíssimo consiste em várias situações em que o português passou a conviver com uma ou mais línguas diferentes, como por exemplo, na costa da África, Índia e Continente Sul-Americano.
Quanto ao processo de crioulização, consiste nos falares que nasceu dos contatos entre línguas européias com línguas nativas de regiões colonizadas.
O primeiro meio de comunicação usado no contato entre colonizadores e colonizados é geralmente um pidgin, que consiste num mecanismo de comunicação bastante precário, no qual se faz um uso rudimentar do vocabulário das duas línguas em contato e a gramatica é quase nula. Os pidgins funcionam em contextos muito específicos, por exemplo, a troca de mercadorias nos mercados das cidades colonizadas.
Ao passar pelo processo espontâneo de construção de uma gramática, o pidgin dá origem a um crioulo (crioulização).
Ao fenômeno da crioulização costuma-se opor o da descrioulização que consiste no fato de que a gramática do crioulo passa ser remodelada por influência de uma das duas línguas que participaram de sua formação, a exemplo do caribe em que os crioulos de base espanhola sofreram em seguida uma forte influência do espanhol europeu.
Sobre o português como língua de emigrantes podemos observar que imigrante que fala a língua do país tende a fazê-lo da maneira diferente dos nativos, e tende a incorporar em sua língua materna elementos da língua circunstante, caracterizada como traição à cultura de origem.
Em geral, proteger a cultura e a língua do imigrante não é objetivo prioritário dos países hospedeiros, mas no caso do português tem havido exceções, em certo momento, o português foi uma das línguas estrangeiras mais estudadas na França, Canadá e Estados Unidos.

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

A FUNÇÃO SOCIAL DA TV



França (2006) identifica três grandes tendências dentro do panorama geral dos estudos televisivos; a primeira televisão e sociedade, buscando delinear seu papel, funções e efeitos.
Sobre essa tendência Bourdieu (1997) afirma que a televisão ameaça as esferas culturais, artísticas, cientificas e inclusive a vida política e a democracia.
Através do jogo da visibilidade e da invisibilidade, do esconder mostrando, do jogo remissivo, e do fast Thinking, a televisão exerce o poder simbólico: a dominação pela imagem.
Para Sartori (2001) o “homo videns” substitui o “homo sapiens”, pois a televisão estaria mudando a natureza humana, levando a um predomínio do visível sobre o inteligível que conduz para um ver sem entender (alienação).
Outros, no entanto, como Wolton (1996), enfatizam o potencial democratizador da TV aberta. A segunda tendência dos estudos televisivos analisam o meio e sua linguagem estética, recursos estéticos, indaga-se sobre a natureza do seu produto – o que é a imagem televisiva e que representação ela constrói.
Segundo Eco (1984) a grande característica da televisão foi abolir as fronteiras da ficção e realidade. Para Jost, a linguagem televisiva se constrói em torno de três grandes gêneros televisivos: o real, a ficção e o lúdico.
A terceira e última tendência dos estudos televisivos, diz respeito a análises circunscritas a programas específicos, são estudos pontuais que buscam caracterizar dinâmicas particulares que conformam múltiplas TVs, evitando generalizações excessivas.
Podemos perceber em vários enfoques que a televisão (com exceção de Wolton) é ressaltada como lugar de alienação e empobrecimento cultural, criação de valores e mitos contemporâneos, instrumento de poder e reprodução da estrutura de dominação etc.
Nesse sentido, podemos refletir sobre qual seria a função (utilidade) da televisão. Segundo uma visão marxista, a televisão cumpre uma função ideológica, mantendo a alienação e assegurando o processo de dominação. Contudo é preciso questionar as visões monolíticas, e reagir a sua visão puramente instrumental da Tv. Sua inserção na vida social é polivalente: a televisão é um veiculo de informação e socialização.
Desse modo, na pós-modernidade percebemos uma tendência mais recente nas pesquisas sobre televisão que enfatiza o estudo dos gêneros como forma de entrada não apenas  para alcançar os diferentes recursos televisivos, mas sobretudo para tratar da audiência, ou das relações com a recepção.
Bakhtin (1997) tratou o gênero textual como um padrão relativamente estável de estruturação de um todo ou formas típicas de dirigir-se a alguém. Barbero (1997), aponta os gêneros textuais como estratégia de comunicabilidade, lugar privilegiado de mediação, espaço de negociação entre objetivos do produtor e expectativas do receptor como ocorre na televisão.

LETRAMENTOS MÚLTIPLOS – LENDO IMAGENS CRITICAMENTE



Kellner (2002) enfatiza que as imagens são veículos de significados e mensagens simbólicas.
O autor afirma que numa cultura pós-moderna, o indivíduo deve aprender como ler imagens criticamente e a deslindar as relações entre imagens, textos, tendências sociais e produtos numa cultura comercial.
Keller afirma ainda que capacitar os indivíduos a adquirir um alfabetismo crítico em relação à publicidade e a outras formas de cultura popular, significa desenvolver competências emancipatórias que possibilitam que os indivíduos se posicionem frente (resistam) à manipulação por parte do capitalismo de consumo. Além disso, também nos fornece habilidades que nos orientam a ler as tendências atuais na sociedade e a observar mudanças importantes nessa mesma sociedade.
 Desse modo, adquirir um alfabetismo crítico no domínio da aprendizagem da leitura crítica da cultura popular e da mídia implica aprender as competências de desconstrução, de compreender como os textos culturais funcionam, como eles significam e produzem significados como são produzidos para influenciar os seus leitores.
Logo um alfabetismo crítico contribui para reverter a tendência em direção à crescente impotência e alienação dos indivíduos numa sociedade capitalista.

A IDEALIZAÇÃO DO NOVO MUNDO



A descrição de Caminha era de cunho informacional, apesar de conter uma idealização exacerbada na descrição da paisagem, do elemento indígena, das potencialidades de retorno que a “nova Terra” poderia oferecer a longo prazo à Coroa Portuguesa.
Caminha na sua carta não se preocupa com estéticas literárias, já que como ele próprio afirma, se tratava de um documento informativo como tantos outros que foram escritos na tentativa de inteirar o Governo Português sobre as novas conquistas.
Souza (1995) propõe uma leitura imparcial, sem ressentimentos, através da qual busca entender como foi a primeira impressão causada pelo encontro entre o homem europeu civilizado, cristão e mercador e os seres humanos radicalmente distintos de si.
A autora afirma ainda que tal contato gerou uma violência cultural mais devastadora do que a violência da exploração econômica durante a tentativa de escravizar os indígenas.
Desse modo, a autora identifica nas ações dos Portugueses, a impossibilidade de conhecer e respeitar a diferença racial, de tolerar o outro, de admitir, como não contrária a si, a existência dos indígenas, povos originários, habitantes da terra e de sua particularidade cultural.
Contudo, na releitura feita da carta de Caminha após a idade média, certas atitudes dos colonizadores são encobertas, omitidas, ou reinterpretadas. Podemos citar como exemplo, a concepção do índígena como indivíduo preguiçoso devido à sua resistência frente ao processo colonizador/escravagista. Omissão do massacre indígena no confronto com os portugueses através da “versão” da cordialidade dos nativos para com o colonizador, mito que perdura até hoje, de que o brasileiro é cordial.
Guicci (1992) por sua vez, analisa a carta de Caminha sob dois aspectos: num contexto imperial e em outro momento, num contexto nacional. No primeiro momento, a carta é lida como documento histórico de cunho informativo.
No contexto nacional, no entanto, é elencada como documento de valor literário, marco para início do desenvolvimento de uma literatura nacional a fim de emancipar o Brasil literariamente de Portugal. Surge a partir daí o desenvolvimento de uma identidade nacional, baseada nos mitos criados a partir das inúmeras releituras da carta de Caminha, dos romances nacionalistas, ufanistas, nativistas.
Tal nacionalismo tinha base nos valores europeus, no idealismo do homem branco, já que o índígena não era pensado como um ser cultural.

A INVENÇÃO DA TRADIÇÃO



Anderson (1993), afirma que a identidade nacional é uma “comunidade imaginada”.  Como é imaginada a nação moderna? Há a narrativa da nação, tal como é contada e recontada nas histórias e nas literaturas nacionais, na mídia e na cultura popular.
Há ênfase nas origens, na continuidade, na tradição e na intemporalidade. A identidade nacional é representada como primordial – “esta lá, na verdadeira natureza das coisas.”
Hobsbawm e Ranger (1997) ao tratar sobre a invenção da tradição, afirmam que tradições que perecem ou alegam ser antigas são muitas vezes de origem bastante recente ou mesmo inventadas. Tradição inventada significa um conjunto de práticas de natureza ritual ou simbólica, que buscam inculcar certos valores e normas de comportamento através da repetição, a qual, automaticamente, implica continuidade com um passado histórico adequado.
Podemos exemplificar a invenção da tradição com o mito fundacional que consiste numa estória que localiza a origem da nação, do povo, e do seu caráter nacional num passado tão distante que eles se perdem no tempo (mítico) irreal, a exemplo da cidade de Roma com seu mito fundacional sobre Rômulo e Remo.
É a partir dos mitos fundacionais que são desenvolvidos as concepções sobre os povos que participam dessa tradição inventada, como a concepção de raça pura, a identidade nacional é também muitas vezes simbolicamente baseada na ideia de um povo puro, original. Mais nas realidades do desenvolvimento nacional é raramente esse povo primordial que persiste ou que exercita o poder.
Concluímos que o discurso da cultura nacional não é assim tão moderno como aparenta ser. Ele constrói identidades que são colocadas, de modo ambíguo entre o passado e o futuro.Ele se equilibra entre a tentação por retornar as glórias passadas e o impulso por avançar ainda mais em direção à modernidade.
Desse modo, nos leva a pensar as culturas nacionais como constituindo um dispositivo discursivo que representa a diferença como unidade ou identidade. Elas são atravessadas por profundas divisões e diferenças internas, sendo "unificadas" apenas através  do exercício de diferentes formas de poder cultural. Entretanto as identidades nacionais continuam a ser representadas como unificadas, através da expressão da cultura subjacente de um único povo.


sexta-feira, 3 de agosto de 2012

LINGUÍSTICA APLICADA E INTERDISPLINARIEDADE


Moita Lopes (2006) trata sobre o surgimento da Linguística, seu trabalho de descrever as línguas, e sobre o Compêndio contendo teorizações acerca o ensino de línguas (Comenius).
O autor afirma que o campo da L.A. tem inicio enfocando a área de ensino (aprendizagem) de línguas, na qual ainda hoje tem grande repercussão. Pesquisadores como Charles Freis e Robert Lodo nos EUA. Com seus estudos científicos do ensino de línguas estrangeiras que abarcavam também questões relativas à tradução, irão contribuir para o desenvolvimento as duas compreensões para a concepção de L.A., sendo as duas entendidas como aplicação de Linguística – descrição de línguas e ensino de línguas, notadamente estrangeiras.
Na Inglaterra por sua vez, a história da Linguística tem inicio em 1957 com a fundação do departamento de Linguística Aplicada de Edimburgo que projetou três dos maiores linguistas aplicados de então: Pit Corder, Widdowson e Davies. É a partir do trabalho de Widdowson, no final dos anos 1970, que surge a distinção entre L.A e aplicação e Linguística. Widdowson critica a exclusão da pedagogia no ensino de línguas.
Outra contribuição signicativa para o desenvolvimento de L.A é a ampliação da área de investigação de L.A que agora passa a abarcar contextos de ensino e aprendizagem de língua materna, no campo dos letramentos e de outras disciplinas do currículo e em outros contextos institucionais (mídia, empresas, delegacia policial, clínica médica), é importante ressaltar as contribuições de estudiosos como Vygotsky e Bakhtin, sobre a relevância de entender a linguagem como instrumento de construção do conhecimento e da vida social- L.A centrada na preocupação com problemas de uso da linguagem situados na práxis humana.
Sobre a L.A indisciplinar o autor afirma que ela é indisciplinar no sentido de que reconhece a necessidade de não se constituir como disciplina, mas como área mestiça, e nômade, ou seja, perpassa outras disciplinas através da intertextualidade – (L.A interdisciplinar- Sociologia, Psicologia, Antropologia e a Pedagogia).
Logo entendemos a L.A como modo de criar inteligibilidade sobre problemas sociais em que a linguagem tem papel central, perdendo assim, o seu caráter solucionista e abandonando a preocupação em se limitar à linguística como um componente teórico essencial.
Moita Lopes afirma que é necessário reteorizar o sujeito social em sua heterogeneidade, fluidez e mutações, atrelando a esse processo os imbricamentos de poder e desigualdades inerentes, é essencial compreender que a racionalidade e os significados não são anteriores aos seus usos em nossas performances nas práticas discursivas, somos os discursos que circulamos e podemos modificá-los em tempo real, logo a racionalidade é composta pela ideologia.
Outra característica importante é que a problematização do conhecimento deve seguir uma lógica antiobjetivista e antipositivista visando assim criar inteligibilidade sobre a produção de conhecimento.
Desse modo a L.A contemporânea indisciplinar, informada por teorizações que têm colocado indagações para as ciências sociais, procura criar inteligibilidade sobre práticas sociais em que a linguagem desempenha uma função central.


RELAÇÃO DE GÊNERO E DISCURSO SOCIAL



Giddens (2005) analisa as concepções de vários sociólogos como: Foucault (1978), Plummer (1975), Kinsey (1948), Bertelson (1986), Redman (1996), Rutherford e Chapman (1988), Lim (1988), dentre outros para tratar sobre cultura e sociedade, unidade e diversidade além dos imbricamentos comuns que perpassam essas temáticas.
 Os sociólogos distinguem sexo de gênero. O sexo refere-se às diferenças biológicas entre os corpos masculinos e femininos, enquanto o gênero diz respeito às diferenças psicológicas, sociais e culturais entre homens e mulheres.
Algumas pessoas afirmam que as diferenças entre os homens e as mulheres são geneticamente determinadas. Não há, contudo, nenhuma evidência conclusiva a sugerir uma base biológica para as diferenças de gênero.
A socialização do gênero refere-se ao aprendizado dos papéis de gênero com a ajuda dos organismos como a família e a mídia. Acredita-se que a socialização de gênero inicia já com o nascimento da criança. As crianças aprendem e internalizam as normas e as expectativas consideradas correspondentes  ao sexo biológico. Dessa forma, adotam os “papeis sexuais” e as identidades masculinas e feminina (a masculinidade e feminilidade) que os acompanham.
Alguns sociólogos crêem que tanto o sexo quanto o gênero são produtos socialmente construídos que podem ser moldados e alterados de várias formas. O gênero não somente carece de uma “essência” fixa, mas o próprio substrato de corpo humano pode ser mudado pelas influências sociais e pelas invenções tecnológicas.
As desigualdades de gênero refere-se às diferenças de status, poder e prestígio desfrutados pelas mulheres e pelos homens nos diversos contextos. Ao explicar a desigualdade de gênero, os funcionalistas enfatizam que a diferenças de gênero e a divisão sexual do trabalho contribuem para a estabilidade e a integração social. As abordagens feministas rejeitam a ideia de que a desigualdade de gênero é de alguma forma, natural.
As feministas liberais explicaram a desigualdade de gênero em termos de atitudes sociais e culturais, como o sexismo e a descriminação. As feministas radicais defendem que os homens são responsáveis pela exploração das mulheres através do patriarcado – a dominação sistemática das mulheres pelos homens. As feministas negras detectaram fatores como a classe e a etnicidade, além do gênero, como essenciais para entender a opressão experienciada pelas mulheres não brancas.
As relações de gênero referem-se às interações socialmente padronizadas entre homens e mulheres na sociedade. Alguns sociólogos afirmaram que existe uma ordem de gênero em que as expressões de masculinidade e feminilidade estão organizadas numa hierarquia que promove a dominação dos homens sobre as mulheres.
Nos últimos anos mais atenção foi dada à natureza da masculinidade. Alguns observadores crêem que as amplas transformações econômicas e sociais estão provocando uma crise da masculinidade, em que estão sendo desgastados os papéis tradicionais dos homens.
Embora haja uma base biológica para a sexualidade humana, a maior parte do comportamento sexual parece ser mais aprendida do que inata. As práticas sexuais variam largamente entre e no interior das culturas. No ocidente, a Cristandade foi importante para moldar as atitudes sexuais. Nas sociedades com códigos sexuais rígidos, são comuns a duplicidade dos padrões e a hipocrisia. O abismo entre as normas e práticas reais pode ser imenso, conforme mostram estudos sobre o comportamento sexual. No ocidente, as atitudes repressivas à sexualidade abriram um caminho para uma perspectiva mais tolerante, na década de 1960, cujos efeitos são óbvios ainda hoje.
A maioria das pessoas no mundo é heterossexual, ainda que haja também muitos gostos e inclinações sexuais minoritários. A homossexualidade parece existir em todas as culturas e, nos últimos anos, as atitudes para com os homossexuais tornaram-se mais flexíveis. Em alguns países, foram aprovadas leis que reconhecem as uniões homossexuais e concedem aos casais homossexuais os mesmos direitos que às pessoas casadas.
Sobre prostituição, os sociólogos afirmam que prostituição é a concessão de favores sexuais em troca de pagamento.Vários tipos diferentes de prostituição existem nas sociedades modernas, inclusive a prostituição feminina e infantil. A prostituição licenciada é aceita pelos governos nacionais e regionais em alguns países, mas na maioria dos Estados, as prostitutas trabalham ilegalmente.
Devido a isso, uma próspera indústria do turismo sexual voltada à prostituição brotou em algumas partes do mundo.   





quarta-feira, 1 de agosto de 2012

HUMANIDADE


Não amado como Jorge, não desejado como Julieta, sem a coragem de Odisseu, nem a astúcia de Penélope, não sonhava como Dom Quixote, não amava como Macabéa, sem o conhecimento do Médico Rural.
Angustiado como Édipo diante da esfinge e infeliz ao se tornar Édipo Rei; assassino incestuoso.
Não belo como Narciso, não morto como Brás Cubas. Não provara o beijo de Klimt, não sorrira como La Gioconda, mas possuia o mistério, o enigma da Monalisa. A perseverança de Diadorim, os anseios de Aurélia, a desfaçatez de Capitú, a solidão de Bovary, o interesse de Ceci.
Sem a coragem de Pery ou a determinação do Agrimensor, confuso como o Alienista, triste como Quasimodo, conflituoso como Jekyll.
Hospedava os sentimentos dos heróis, porém habitava no invólucro da humanidade, partilhando destino semelhante ao de K.