Quem sou eu

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Salvador, Bahia, Brazil
A língua está em mim, me perpassa, faz parte da minha formação como ser social inserido num grupo. Compõe ainda a minha própria formação acadêmica já que resolvi após o primeiro curso superior (Administração), cursar Letras. Essa língua me representa em todos meus conflitos, pois suas características são iguais as minhas, um ser multifacetado, de exterior sóbrio e estático, mas no íntimo um turbilhão em movimento. Assim como um rio congelado que apresenta a sua superfície estática, mas o seu interior está sempre em movimento, num curso perene. Capacidade de adaptação e compreensão com singularidade e regionalidades tolerantes como próprios à língua. Escrever é para mim, como respirar, sinto essa necessidade e é através da escrita como afirmou Aristóteles que transitamos desde o terror até a piedade de nós mesmos e do outro. Esse ofício da escrita nos eleva, nos projeta, nos ressignifica quando tocamos o outro com as nossas palavras, seja no universo ficcional, biográfico ou autobiográfico. Escrever é uma necessidade, escrever é transpirar no papel as nossas leituras.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

LINGUAGEM: PERÍODO CRÍTICO E LATERALIDADE CEREBRAL



As pesquisas sobre atividade cerebral tem se direcionado a investigar a estrutura e a função do cérebro, em especial a camada superficial da massa cinzenta, onde se concentram as células dos neurônios cerebrais-chamado córtex a parte do cérebro que está, primariamente, envolvida com a decodificação de informações dos sentidos e com o controle dos movimentos voluntários e das funções intelectuais.
Estudiosos como Broca (1861) e Wernicke realizaram contribuições significativas para os estudos sobre cérebro e linguagem. Broca identificou que, ao ocorrerem lesões em determinadas áreas do lobo frontal, no hemisfério esquerdo, ocorria perda fundamental na produção da fala. Wernicke por sua vez, identificou outra parte do hemisfério esquerdo especializada primeiramente na compreensão.
Assim, atualmente, existem registros de três áreas corticais que estão ligadas à linguagem: a Região Frontal ou área de BROCA; a Região Temporal de WERNICKE e a Região Cortical Terciária.
Linemberg (1969), afirma ser possível haver uma idade crítica tanto para o hemisfério esquerdo quanto para o hemisfério direito.
O autor estabelece o período crítico na criança entre a idade zero e dois anos, nessa fase a linguagem, pode ou não se desenvolver, aos 14 anos há uma perda significativa, da plasticidade cerebral, no que diz respeito à aprendizagem de novas línguas, devido à especialização por parte dos hemisférios ocorrer nessa idade (fase).
Por lateralidade, entende-se o estudo da função da cada hemisfério cerebral. A língua materna, seu desenvolvimento é predominantemente no hemisfério esquerdo, já a 2ª língua ou língua estrangeira, seu desenvolvimento se dá no hemisfério direito.
Logo para Linemberg (1969), habilidades primarias não adquiridas até os 14 anos permaneceriam deficientes até o final da vida.

AS BASES BIOLÓGICAS DA LINGUAGEM



De acordo com pesquisadores como Pinker (1994), Lenneberg (1996), Slobin (1980), Brandão (2004), podemos perceber que a linguagem e as formas superiores do desenvolvimento cerebral dependem da exposição à linguagem e à interação através da comunicação (imputs). Se as crianças não são expostas, desde cedo, a um meio linguístico adequado, pode haver atraso ou até mesmo interrupção da maturação cerebral, com uma contínua predominância dos processos do hemisfério direito.
 O processo de aquisição da linguagem pode ser, portanto afetado caso haja comprometimentos de ordem central (lesões cerebrais) ou periférica (defeitos nos aparatos fonoarticulatório e auditivo), mas também devido à privação de contato linguístico no período considerado crítico para a instalação e o desenvolvimento da linguagem.
No primeiro momento a criança expressa estado de necessidade produz ruídos e quando inicia a produção de fonemas da língua, essa criança utiliza a gramática passiva, embora não se dê conta disso.
Ao fim do 1º ano de vida da criança, se dá a fase do balbucio; é a fase holofrástica, nessa fase, a criança percebe a existência do outro – através da relação dialógica. A criança começa a construir significados a partir das relações de estímulo- resposta- reforço (Sócio Construtivismo).
É necessário observar que antes da criança começar a falar ela já está desenvolvendo ações relativas à fala (mecanismo perceptivo). Assim num primeiro momento, a criança compreende  e só depois ela produz, (a produção se dá com a gramática ativa).
Slobin (1980), em suas pesquisas confirma essas afirmações, sobre a compreensão preceder a produção. A criança é capaz de encontrar o objeto solicitado pelo interlocutor – compreensão imatura de percepção de palavra (compreensão prematura), existente na memória da criança.
A intenção da comunicação só será revelada através do conhecimento do contexto de interação, daí a percepção (função) semântica da comunicação.
A questão sociointeracionista está ali demonstrada no contexto do evento de fala.
Desse modo, Slobin (1980), conclui que apesar de não possuir o mecanismo da linguagem totalmente desenvolvido, a criança consegue manipular o adulto para atender suas necessidades “o querer impertinente da criança em relação a algo.”
Logo a gramática ativa começa a desenvolver-se a partir da fase de duas palavras, (antes dos dois anos de idade), no período anterior a essa fase, a criança está na fase passiva da gramática.

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

INVERSÃO


Há um ressentimento além de mim, os meus múltiplos, reverberam, se sobrepõe, sou mar agitado, sou alma errante, sou sentimento conflitante.
Sinto minha essência esvaziada, tenho a minha vida transtornada. Sou areia que se esvai, o pó teimoso que cai, as fases lunares, os inóspitos lugares.
Cansei de promessas, cansado de ilusões me abstive de emoções.
A ansiedade revolve minha alma, na minha espera não há calma. Angustio o eclipse amoral, o casamento desigual à inversão do natural.

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

O LEGADO


Alimentado de fantasias, Vivera uma realidade alternativa. Não realizara nada, nem mesmo a si.
Sobrevivera à família, infância difícil, adolescência conturbada, juventude transviada.
Na vida adulta demorara perceber a dinâmica do sentido. Começara a trabalhar aos vinte e cinco anos, serviços gerais em uma cerealista, tornara-se arrimo de família, a própria que sempre o odiara, agora teria que sustentá-la.
Fazia-o com sofreguidão, carregava um fardo que não era seu. Não tivera filhos não transmitira a ninguém o legado da sua miséria.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

MERETRÍCIO


Sou transparente como água, translúcida, decidida, e às vezes indecisa. Busco a felicidade, não consigo.
O medo paralisa, anula  aminha emoção. Não consigo.
Ela sobrevivia à existência, trabalhava na noite, trabalho árduo, exauria suas forças e lacerava sua alma.
Triste condição, aturar aqueles a quem não amava, servi-los em seus desejos sórdidos, suas compulsões e insanidades, homens brutos bêbedos, insensíveis, depravados, alienados, casados, solteiros, novos e velhos esses a torturava, servi-los era terrível fazia-o por dinheiro, para sustentar-se naquele quarto úmido e desconfortável onde morava.
Vivia da luxúria. Sonhava outra vida, não casamento. Durante o expediente imaginava felicidade para anestesiar o momento, seu corpo era autônomo, sentia, gemia, gritava e só. Enquanto sua mente vagava em busca da felicidade.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

A CENA CONTEMPORÂNEA


O trabalho, a faculdade, as tarefas diárias, tudo lhe ocupava, mas nada lhe preenchia.
Quanto mais atarefado, menos importância dava às suas demandas interiores.
Anestesiado do seu próprio vazio passeava a existência num frenético exercício de deveres que interpretava o indizível do verbo.
Sua identidade era uma mescla de mosaicos, absorvera muitas almas, muitas vontades, muitas histórias.
Não possuía pretenções. Sobrevivia com um emplastro na alma, um placebo mantinha a sua essência.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

MISSÃO


Ela pairava ausente a tudo, a dor alheia, seria menor sempre.
Subira com ele na vida, e no altar, fugia da decadência, apagara seu passado.
Temia o retrocesso, a casa velha, a aridez da alma, insegurança, incerteza, dor. A fraqueza.
A obscuridade de não adquirir um sobrenome. Não possuía dotes; físicos ou materiais, era composta apenas pelo ventre farto da fome e de fertilidade viril.
Fora selecionada com propósito único da procriação. O coronel exigia filhos antes fortes que belos. À esposa incumbira essa missão, sua recompensa seria a abstinência da fome e da solidão.

FELIX, FELIXI


A felicidade, dizem que a felicidade está nas coisas simples, à satisfação após uma bela conquista, seja ela amorosa ou bélica. Na saciedade após um bom repasto, numa amizade sincera, num sorriso fiel.
A felicidade também se apresenta ao se adquirir algum bem, ou objeto de grande satisfação.
Mas como areia em um ralo, ela sempre se esvai, permanece por míseros quartos de hora e logo some. Então um vazio, uma lacuna se estabelece no interior do indivíduo que automaticamente reativa o anseio pela busca incansável desse sentimento, para preencher o seu momento com a felicidade.

LABOR


O ser humano sobrevive. Escrevo na angústia, a melancolia comove-me.
Não permito esquecer o passado, as mazelas do mundo me constrange, queria poder saná-las.
Aprendo com a simplicidade, não compreendo a carência da extravagância, o essencial me basta. Olho adiante, não vejo expectativas, o ciclo da rotina se impõe: trabalho, cansaço, consumo, carência e novamente a urgência do trabalho.
Sinto a vida como um árduo fardo; como série de exigências sociais e econômicas que procuro atender com todas as forças; o trabalho.
Tenho as energias exauridas, sinto-me explorado pela vida.

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

DESVALIDO


Tenho muitos contatos, nenhum me procura. Tenho uma ansiedade sem cura. Sinto o abandono, transpiro solidão. Ando sozinho, exalo insatisfação.
Tenho o coração repudiado, o corpo estigmatizado, sou epígono do descaso.
Fui concebido na roda dos desvalidos, não conheço afeto. Olvidado diante de uma porta, recepcionado pela hipocrisia religiosa, cresci por amavios envenenado.
Anatematizo a moral, a ordem os padrões. Objetivo a estética, a verdadeira aparência do ser, a imagem da alma.

ATEMPORAL


Queria tirar o mal de mim, sempre vivi a competição.
Tenho vergonha do egoísmo, a couraça que me reveste. Sonho conquistas e prestigio, sem a preocupação de um herdeiro.
Envergonho-me do presente, o passado me atormenta, o futuro assusta-me.
Um sentimento reverbera em mim, o sentimento vazio, que nunca é preenchido por rotativos relacionamentos.
A vida me promove reencontros e nesses me sinto mais vazio e só. Nada tive, nunca. Eles sempre foram de outro sentimento, estou empedernido, desiludido sem alento. 

terça-feira, 23 de outubro de 2012

A PEDAGOGIA DO IMPLÍCITO



Bourdieu (2001), se apropria do conceito de habitus – encarnação dos costumes dos indivíduos, para demonstrar um esboço de uma teoria da prática.
Para Bourdieu o habitus seria um sistema de disposições duráveis e consumíveis que gera percepções, apreciações e ações. Seria as disposições como o indivíduo interioriza a exterioridade e exterioriza a interioridade, o exterior é aprendido através da ideia postulada nas estruturas sociais. Assim o habitus funciona como princípio gerador das respostas que damos à realidade social.
O conceito de violência simbólica foi criado por Bourdieu para descrever o processo pelo qual a classe que domina economicamente impõe sua cultura aos dominados.
Bourdieu concebe a cultura privilegiada no ensino escolar como sistema simbólico arbitrário. Sinteticamente, é possível dizer que as reflexões de Bourdieu sobre a escola partem da constatação de uma correlação entre as desigualdades sociais e escolares. As posições mais elevadas e prestigiadas dentro do sistema de ensino tendem a ser ocupados pelos indivíduos pertencentes aos grupos socialmente dominantes.
Para o autor essa correlação nem é, obviamente, causal, nem se explica, exclusivamente, por diferenças objetivas (sobretudo econômicas) de oportunidade de acesso à escola. Segundo ele, por mais que se democratize o acesso ao ensino por meio da escola pública, continuará existindo uma forte correlação entre as desigualdades sociais, sobretudo culturais, e as desigualdades ou hierarquias internas do sistema de ensino.
Essa correlação só pode ser explicada, na perspectiva de Bourdieu, quando se considera que a escola dissimuladamente valoriza e exige dos alunos determinadas qualidades que são desigualmente distribuídas entre as classes sociais, notadamente, o capital cultural  e uma certa naturalidade no trato com a cultura e o saber que apenas aqueles que foram desde a infância socializados na cultura legítima podem ter.
Em resumo, a grande contribuição de Bourdieu para a compreensão sociológica da escola foi de ter ressaltado que essa instituição não é neutra.
Formalmente a escola trataria a  todos de modo igual, portanto, supostamente, todos teriam as mesmas chances. Bourdieu mostra que na verdade, as chances são desiguais.
Alguns estariam numa condição mais favorável do que outros para atenderem às exigências, muitas vezes, implícitas da escola. Ao sublinhar que a cultura escolar é cultura dominante dissimulada, Bourdieu abre caminho, para uma análise mais crítica do currículo, dos métodos pedagógicos e da avaliação escolar. Os conteúdos curriculares seriam selecionados em função dos conhecimentos, dos valores, e dos  interesses das classes dominantes.
Desse modo, a transmissão dos conhecimentos seguiria o que Bourdieu chama de pedagogia do implícito, o pleno aproveitamento da mensagem pedagógica suporia, implicitamente, a posse de um capital cultural anterior que apenas os alunos provenientes das classes dominantes apresentam.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

REMINISCÊNCIAS


Sou um  velho em corpo de jovem, aprendo com erros alheios, habito as emoções inóspitas, vivo em permanente cinza. Observo, apreendo, concluo.
Não confio em sentimentos, a desilusão é meu alento. Procuro imbróglios satisfatórios, sou casado com o trabalho, a fadiga me alimenta, o dia sabático me entristece.
Anseio tocar o interior alheio. Caminho alheio à ordem, não obedeço a padrões e tendências, inauguro reminiscências.  
Sou jovem revestido de senilidade, sou excêntrico, sou saudade.

JARDIM


Domingo sempre foi dia de igreja, não me agradava. O rosário, o terço, a missa me enfadava.
Aos sábados íamos ao clube, a praia, logo cedo, fazíamos cooper e passávamos o dia na praia.
Era um grande espaço verde, muitos coqueiros, plantas xerófilas, o mar era bravio e impróprio para  banho.
Tinha o nome de Jardim de Alah e assim era, como um jardim, ali crescemos aprendemos a gostar de esporte, de piquenique, de pegar sol sem pressa para voltar pra casa, o sábado parecia uma eternidade no Éden.
Mas ao retornar, a realidade do lar era sofrível, encarar aqueles que meu sentimento desprezava, ódio, inveja, rancor avançavam contra mim. Ignorar era minha represália, sempre.
Saí incólume, agora não preciso mais suportes aqueles que me execravam. Estou livre, busco olvidar o passado de realidade triste.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

LABIRINTO



Procuro um bom momento, um grande sentimento, o sentido para a razão.
Procuro um companheiro que me ame o tempo inteiro, se, nenhuma objeção.
Procuro a satisfação do sucesso, o desempenho na carreira, a valorização máxima.
Busco galgar o topo, a excelência, o auge da existência.
Caminho no labirinto, atravesso circunstancias, não tenho rumo certo. Estou incompleto, falta-me a exatidão.
Na ilusão a busca da realização, almejando a compreensão, sigo selecionando a emoção.

terça-feira, 18 de setembro de 2012

O BRADO



Independência. Um povo se considera independente ao sentir cair de sobre si o peso de grilhões, o aperto da mordaça, o silêncio da garganta, a tristeza da face, o cansaço do corpo, a ansiedade do coração, o medo de viver, a incerteza do amanhã, o incômodo da rejeição, o sentimento de não pertencimento, de abandono, de descaso.
Hoje comemora-se a independência, essa celebração não independe os indivíduos dos males sociais, das mazelas atuais, somos independentes de quê mesmo?
Há 190 anos um príncipe rei insurge-se contra a coroa Portuguesa e daí então celebra-se essa data. Acontece que essa comemoração deve ser ressignificada; a independência deve trazer libertação aos indivíduos de tudo que os oprime; a fome, o desemprego, a má distribuição de renda, a ausência de políticas públicas de saúde e educação digna, os altíssimos impostos cobrados e  que não são repassados os devidos benefícios  para a sociedade.
Sem essa condição, não somos independentes somos apenas atores sociais que representam um fato isolado, ocorrido no passado sem significado na contemporaneidade.

PAVOR



O futuro me apavora, a velhice me constrange, busco motivo para continuar. Sinto, nada vale pena.
Sem metas, a rotina me absorve, as exigências enfraquecem-me. Sou um náufrago que nadando desesperado permanece imóvel na fúria do mar.
Olho em volta nada há de conquista, a certeza que prevalece é a insegurança que como um castelo, apresenta uma porta aberta por vez, nunca revelando de imediato a sua face incerta. 

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

A NOÇÃO DO LATIM VULGAR



Santos (1996), objetiva esclarecer as noções de Latim vulgar em oposição a de Latim literário ou erudito na origem das línguas românicas.
O autor define o Latim vulgar como Latim falado de diversas formas em momentos vários da história do Latim. Nesse sentido, ele pode ser oposto a Latim escrito, que na sua modalidade mais cultivada, constituía o Latim literário Latim erudito, ou clássico.
Assim, o Latim vulgar teria sido a realização oral do Latim desde a presença de tal língua como instrumento de comunicação no Lácio até sua transformação em línguas românicas (Português, Espanhol, Catalão etc), para o autor não se pode perder de vista que nenhuma realização linguística é uniforme em qualquer sociedade. Logo, o Latim comportava variações diastráticas, desde a primeira diferenciação social. Em função da expansão do Latim para fora do Lácio e desde o início da dominação de áreas vizinhas formavam-se variações diatópicas que somava-se às variações anteriormente mencionadas.
Diante disso, não podemos pensar no Latim como algo uniforme, mas como uma expressão que encerra diversidades de realizações orais de um mesmo sistema linguístico.
Outra importante distinção a ser feita é entre o Latim vulgar, o qual já definimos e o baixo Latim que representa uma fase da língua escrita que agora se democratizara deslocando regras até então imutáveis e assumindo certas realizações da fala. Contudo o que aqui chamamos Latim vulgar sempre fora realizado oralmente e continuaria a sê-lo ainda durante algum tempo, jamais tornando-se modalidade escrita a exemplo do Latim clássico e do baixo latim. Todos uma só língua porque compõe um só sistema, mas o primeiro com modalidades escritas em momentos diferentes de sua história.
É importante citar a resistência entre a maioria dos linguistas em afirmar que todo Latim falado era latim vulgar devido a consideração de que o Latim falado não era substantivamente conhecido, sendo muito mais hipotético e também porque se relutava em aplicar o adjetivo “vulgar” para os seguimentos dominantes da sociedade Romana, considerados letrados por usar formas mais apuradas da língua, mesmo no registro coloquial.
Teoristas como Iordan e Manolin e B.E. Vidos hesitam em classificar a denominação de vulgar para o Latim falado, entretanto distinguem formas populares de formas vulgares.
As primeiras estariam mais próximas da classe aristocrática (uso), que por sua vez, evidentemente, estariam próximo do padrão literário, enquanto que a segunda era utilizada pela classe leiga da sociedade.
Desse modo, concluímos que qualquer que seja a denominação designada para a língua falada pelos Romanos e exportadas para outras partes do mundo, ela deve ser associada a um conceito que contemple o dinamismo da língua, que a perceba em constante movimento, tendendo para transformações e que admita em si uma gama de diversidades regionais sociais e temporais.

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

CONTINUUM FALA - ESCRITA


Segundo Hilgert (1991) a língua escrita não constitui para a transcrição. Ao mesmo tempo, não basta que a língua seja realizada oralmente, constituindo produto perceptível pela audição, para ser considerada falada.
A oralidade é uma característica essencial da língua falada, mas não o suficiente, o que faz com que notícias transmitidas por rádio ou tv, por exemplo, se caracterizem pela oralidade, mas não pelo caráter falado. São de fato, textos escritos realizados oralmente.
Assim as diferenças entre língua falada e língua escrita são de outra natureza, elas resultam de diferenças entre os processos de falar e de escrever, ou entre condições de produção do texto falado e do texto escrito.
Tomando como exemplo a conversa no MSN podemos perceber que apesar de ser digitado numa interface de comunicação (mídia), quase face a face (dialógica), salvo se existir a webcam para intermediar o contato entre os falantes (apresentação da imagem dos indivíduos), ainda assim, constitui-se língua falada, pois não apresenta as características da língua escrita que são: escrever constitui um ato solitário, não há interação, o escritor elabora o texto sozinho, o texto escrito não deixa marcas no processo de planejamento, se apresentando como um todo coeso, sintaticamente complexo.
Assim a língua falada é caraterizada por um contexto específico, constitui uma tarefa cooperativa entre falantes num mesmo momento e espaço, ou seja, a língua falada é caracterizada pela dialogicidade (dialogismo), instaurada pela situação face a face.
Desse modo, segundo Preti (2000), a língua apresenta uma tendência para o não planejamento, ou ainda de acordo com Ochs (1979), a língua falada é planejada localmente, ou seja, constitui uma atividade administrada passo a passo. Assim planejamento e realização do discurso coincidem no eixo temporal, ou são praticamente concomitantes.
Por fim, para Chafe (1982), a língua falada apresenta a característica da fragmentação, ou seja, é produzida aos jatos e borbotões, que são unidades de ideia, ou significativas com um contorno entonacional típico, e limitados por pausas. A passagem de uma unidade para outra se dá muito rapidamente, tornando o processo de falar bem mais acelerado do que o de escrever.
Logo, na língua falada as frases se apresentam mais independentes uma com relação às outras.

MAS AFINAL, COMO ENSINAR A LÍNGUA PORTUGUESA?


Castilho (2001), propõe que conheçamos a língua portuguesa que ensinamos (português brasileiro) e a língua falada no ensino de português (o contexto, a realidade linguística do aluno). De maneira que possamos documentar, descrever e historiar a fim de renovarmos o ensino do português no Brasil.
 Para o autor as nossas metodologias ainda são incipientes, motivo pelo qual nunca atingimos os resultados almejados no ensino do português, por estarmos sempre apoiados em realidades outras, fora do nosso contexto sócio educacional (Países hegemônicos do centro).
O autor afirma ainda que fazemos vista grossa para a realidade do ensino de língua materna, deixando de identificar as línguas: da escola (gramatica normativa/ prescritiva e norma padrão) e a do aluno: a norma popular, o que inviabiliza a aplicação da metodologia ideal para ensino da língua.
Desse modo entendemos que para Castilho (2001), o ensino de língua deve partir da reflexão sobre a língua, e do conhecimento prévio do aluno, a língua falada (conversação), para só então, avançar para o conhecimento socialmente valorizado ( o currículo), utilizando para isso, as teorias linguísticas que melhor favoreçam essa reflexão e transposição didática.
Schleicher (2005) por sua vez, afirma que a melhoria da qualidade e da equidade na educação se dará através de programas de fomento do desenvolvimento educacional.
Como o PISA (Programa de Avaliação de Ensino), que avalia e compara o  modelo de ensino nos países desenvolvidos (centrais) e apresenta dados quantitativos que apontam a melhoria no desenvolvimento do modelo educacional desses países que adotaram esse modelo de avaliação.
 Para Schleicher, não há determinismo, ou relação implícita entre riqueza e desenvolvimento e modelo educacional eficiente, o autor defende que qualquer país poderá obter um modelo educacional eficiente se aplicar a metodologia de análise e melhoria contínua na educação dos indivíduos, essa metodologia é projetada a partir do modelo dinâmico de aprendizagem.
O autor defende ainda os fóruns profissionais ligados à área de educação e sua importância para a socialização do conhecimento escolar a fim de promover um conhecimento compartilhado, trocas de experiências e desenvolvimento profissional.
Desse modo percebemos que o autor busca a emancipação ou empowerment do profissional docente ao afirmar que as políticas e as práticas devem estar na responsabilidade dos professores de maneira que os mesmos sejam preparados para assumirem essas práticas.
Assim, semelhantemente como Castilho aponta para a necessidade de uma reflexão sobre a metodologia do ensino de língua materna no Brasil, Schleicher orienta sobre a importância do desenvolvimento de políticas  que favoreçam a melhoria do ensino e da aprendizagem dos indivíduos no âmbito geral de educação, e isso só se fará através da transposição didática das pesquisas científicas nas áreas da Linguística e da Educação levando em consideração a nossa realidade educacional.

domingo, 19 de agosto de 2012

MODERNISMO sem MODERNIZAÇÃO


Santiago (1989) trata acerca de como o poder de repressão do governo tentou calar a voz da democracia de um modo geral, e como intelectuais utilizaram suas obras para criticar violência desse poder, daí que em seu texto, o autor menciona a concepção de democratização no Brasil e não democratização do Brasil, por considerar que apesar desse “movimento democrático” ter chegado ao Brasil, ele não é legitimado por completo, uma vez que, ainda existe minorias que não possuem voz no discurso.
Sobre essas minorias que disputam lugar (espaço) na sociedade, direito de falar e de serem ouvidas, podemos citar o discurso de Foucault (2004) que trata sobre a necessidade de dar voz a classe que se está representando. Nesse sentido, o governo ao representar a nação, não pode apenas valorizar certas “classes” em detrimento de outras, no caso, as minorias – as mulheres, os negros e os homossexuais.
Na tentativa de representar essas classes os intelectuais falham, pois não se reconhece a voz do representado no discurso social, antes esses intelectuais atrapalham, por assim dizer, a liberdade de expressão dessas classes que permanecem à margem. É como se tais intelectuais funcionassem como paliativo para que ao reportarem a voz dos marginalizados, esses permanecessem nos seus respectivos lugares sem “desorganizar” a geografia social (topografia), acreditando que estão sendo bem representados e possuem voz no discurso, perpetuando o ciclo do poder nas mãos da antiga aristocracia.
Sobre essa topografia social, Connor (1997) trata de definir os espações sociais demarcando o poder, de modo que, no centro prevalece o intelectual, o rico, o branco, a concepção patriarcal (modelo) e as ideologias machistas, enquanto que à margem, na periferia estariam  os vários grupos marginalizados.
Connor afirma que essa relação é instável, constantemente trava-se uma batalha no campo social, ideológico; através de produções artísticas, seja a música, a literatura, a arte, ou a política para disputar esse poder (espaço) ao centro.
Diante disso, percebemos a fragmentação do poder, esse poder não se encontra enraizado numa única instância, mas é operado nos vários discursos que perpassam esse modelo social que se afirma democrático, no entanto percebemos falhas nessa “democracia”.
Daí que Cancline irá afirmar que esse modelo (movimento democrático) é contraditório no Brasil, por conta que apesar de revolucionar o campo artístico, não operou as grandes transformações (como uma redistribuição igualitária dos espaços sociais – o poder, a voz, a visibilidade aos invisíveis socialmente representados) que ocorreram na Europa.
Vale assinalar que toda essa problemática irá promover uma transformação na concepção da literatura contemporânea que será pautada nas temáticas das minorias (os que habitam a periferia na topografia social) e que será denominada literatura marginal por seus representantes não possuírem visibilidade, apesar dessa literatura possuir força e coerência.
É importante mencionar a crise da representação que é uma marca da literatura brasileira contemporânea, uma vez que, se dá conta que o autor-narrador-personagem se confundem e de distanciam, o intelectual já não possui uma “função”, pois o que esse intelectual objetivava, se torna indigno, já que para representar o outro era necessário conhecê-lo e partilhar das suas “angustias”, mas esse intelectual prefere marcar o seu lugar de fala, sua posição no discurso, deixando bem claro, bem estabelecido os limites dessa topografia social.
Desse modo, Canclini (2003) irá tratar sobre contradições do modernismo, pois segundo esse autor, esse movimento foi copiado (exportado da Europa para o Brasil), no entanto perdeu a “força” transformadora ao cruzar o atlântico, pois não operou as mesmas transformações sociais e políticas aqui na tribo tupiniquim.
Isso se deve, em grande parte a própria posição do governo e das classes que detém o poder e que através de estratégias de legitimação abafaram esse movimento, impedindo a circulação da cultura às classes mais baixas (poder simbólico), freando o desenvolvimento e avanço das classes marginalizadas para as regiões onde se encontra localizado o poder, legitimando, assim, o grande abismo social entre o centro e a periferia.
Diante disso, Canclini considera que esse movimento modernista havia falhado em seu maior propósito aqui no Brasil, uma vez que, não operou a modernização, igualitando o poder perante as classes sociais.


A LITERATURA COMO FORMA DE RESISTÊNCIA.


A distinção básica que caracteriza tematicamente a literatura pós 64 é o fato que essa literatura deixa de apresentar como tema principal a exploração do homem pelo homem, tema esse que foi dramatizado pelo processo de conscientização político-partidária de atores sociais pertencentes à classes do campo e operário que criticavam de forma velada ou aberta à oligarquia rural e ao empresariado urbano.
É pelo abandono gradativo desse tema que a literatura pós 64 se diferencia da literatura engajada e encontra a sua originalidade temática. Refletindo sobre a maneira como funciona e atua o poder, a literatura brasileira pós 64 desenvolve uma critica radical contra o autoritarismo.
Nessa crítica ao autoritarismo e ao poder militar, a literatura pós 64 se distancia ideologicamente dos anos 30, aliado a isso, as diversas facções da esquerda se aglutinam em uma única frente de resistência a qualquer forma de ditadura inclusive a do proletariado, todos esses fatores irão direcionar o foco da literatura brasileira contemporânea para a “violência do poder” que se torna a principal característica temática da nossa literatura contemporânea. Dessa forma o escritor brasileiro contemporâneo (pós 64), põe em segundo plano nos seus textos a dramatização de temas universais e utopias da modernidade.
A opção dramática dessa literatura contemporânea se inscreve nos temas que, no particular e no cotidiano, na cor da pele, no corpo e na sexualidade. Ao tratar corretamente a questão do poder, a literatura investiu contra os muros que aprisionavam o intelecto, a ação, a constituição do espaço e o direito de gritar dos indivíduos.
Logo percebemos que essa literatura contemporânea pós 64 não carrega mais o otimismo social que edificava antes o texto literário, abandona os tons grandiosos e a alta retórica assumindo uma postura amena e divertida em tom coloquial para tratar dos problemas (temáticas) contemporâneos do nosso país.
Santiago (1989) trata sobre a questão do intelectual, suas produções artísticas e a relação entre esse seu fazer artístico e a  política (cenário da Democratização no Brasil) no que tange a como esse intelectual interfere na sociedade através do seu poder e conhecimento, além do seu lugar de destaque perante a massa. O autor busca evidenciar as principais transformações na literatura brasileira, demonstrando assim, como os intelectuais contemporâneos utilizaram a literatura como um veículo crítico-informacional com a intenção de denunciar esse novo modelo governamental, sua forma de funcionamento e a violência do poder.
Sobre essas novas temáticas que a literatura brasileira contemporânea assume, vale ressaltar que autores como Caio Fernando de Abreu e Clarice Lispector, em suas respectivas obras morangos mofados e a Hora da Estrela, irão tratar de temas como a homossexualidade a as mazelas sociais como a pobreza, a ignorância e a alienação das massas.

AS POLÍTICAS DE CONTATO: Trajetória dizimada dos Indígenas e trajetória dilacerada dos povos africanos escravizados.



Mattos e Silva afirma que não houve uma política de contato controlado.
A princípio os portugueses objetivaram aprender a língua indígena através da permanência de quatro representantes (dois degredados e dois grumetes) aqui no Brasil.
Porém esse objetivo não funcionou, e o processo de colonização se deu através da construção de um Tupi jesuítico – a língua geral da costa,  de base tupi, chegou a ameaçar a hegemonia do português no Brasil, juntamente com outras línguas gerais indígenas que foram veículos de intercomunicação entre brancos, negros e indígenas no litoral brasileiro, entradas paulistas, no nordeste teria sido uma língua geral Cariri  e na Amazônia a língua geral de base tupinambá.
Diante disso, podemos observar que somente através da política de contato controlado iremos evitar um novo percurso etnocida e glocitocida.
Podemos citar ainda como exemplo dessa política de contato controlado, o caso do Parque Nacional de Xingu, onde sobrevivem quinze grupos indígenas, com suas línguas de origem e como língua franca de intercomunicação entre as tribos, aflora o português xinguano – uma das variantes do português brasileiro, evidenciado um continuum linguístico.
Sobre a trajetória dilacerada africana a autora salienta que os negros foram selecionados negativamente a fim de que não se adenassem em um ponto qualquer, étnica, cultural e linguisticamente. Tal fato contribuiu para a riqueza de línguas africanas no território brasileiro, o que contribuiu para integração de itens lexicais no nível morfológico e maior número de campos semânticos no português do Brasil.
Desse modo, Mattos e Silva defende a ideia do multinguismo no português brasileiro que apresenta caráter heterogêneo devido às suas variantes.
Vale ressaltar que enquanto os índios foram dizimados, muitos negros dilacerados à partida e em seguida acantonados, em locais de refugio, ou para sobreviver ou ainda para tentar vencer seus opressores vencidos os quilombos, restaram em múltiplos pontos do Brasil grupos que se defenderam sob a proteção natural e que aos poucos se revelam.
A grande maioria dos negros, contudo, integrou-se nas cidades e nos campos à sociedade multiétnica brasileira em formação.
Segundo Mattos e Silva (1992), em 1757, com o Marquês de Pombal, se define para o Brasil uma política linguística e cultural.
Pombal define o português como língua da colônia, consequentemente obriga o seu uso na documentação oficial e implementa o ensino leigo no Brasil. A miscigenação e a presença não maciça de portuguesas são indicadores favoráveis à formação de uma língua geral brasileira caracterizada pela influencia africana, embora mais próxima do português europeizado.
 Podemos concluir segundo A. Houaiss (1985), que o português brasileiro nasce com diversidade.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

A DIFUSÃO DE PORTUGUÊS ATRAVÉS DAS CONQUISTAS ULTRAMARINAS.



Devido o número de falantes de português figurar em torno de 210 milhões, há uma aspiração por parte dos países lusófonos, de que o português seja reconhecido como uma grande língua de cultura e como a expressão de um conjunto de países que tem características comuns.
Uma das formas de reconhecimento que tem sido buscada através de iniciativas de governos é a adoção do português como uma das línguas oficiais da organização das Nações Unidas (ONU). Porém tais iniciativas não têm resultados significativos- porque a concorrência de línguas como o inglês, o francês e mesmo o espanhol continua forte.
Vale ressaltar que a difusão do português no mundo não foi uniforme, ora os portugueses tentaram colonizar áreas amplas (Brasil, Angola, Moçambique); ora contentaram-se com o domínio militar de posições estratégicas importantes, como Diu e Goa, ora estabeleceram entrepostos comerciais como em Macau.
Em consequência disso temos situações de bilinguismo, multilinguíssimo e crioulização, além da transformação do português numa língua de emigrantes. O bilinguismo e o multilinguíssimo consiste em várias situações em que o português passou a conviver com uma ou mais línguas diferentes, como por exemplo, na costa da África, Índia e Continente Sul-Americano.
Quanto ao processo de crioulização, consiste nos falares que nasceu dos contatos entre línguas européias com línguas nativas de regiões colonizadas.
O primeiro meio de comunicação usado no contato entre colonizadores e colonizados é geralmente um pidgin, que consiste num mecanismo de comunicação bastante precário, no qual se faz um uso rudimentar do vocabulário das duas línguas em contato e a gramatica é quase nula. Os pidgins funcionam em contextos muito específicos, por exemplo, a troca de mercadorias nos mercados das cidades colonizadas.
Ao passar pelo processo espontâneo de construção de uma gramática, o pidgin dá origem a um crioulo (crioulização).
Ao fenômeno da crioulização costuma-se opor o da descrioulização que consiste no fato de que a gramática do crioulo passa ser remodelada por influência de uma das duas línguas que participaram de sua formação, a exemplo do caribe em que os crioulos de base espanhola sofreram em seguida uma forte influência do espanhol europeu.
Sobre o português como língua de emigrantes podemos observar que imigrante que fala a língua do país tende a fazê-lo da maneira diferente dos nativos, e tende a incorporar em sua língua materna elementos da língua circunstante, caracterizada como traição à cultura de origem.
Em geral, proteger a cultura e a língua do imigrante não é objetivo prioritário dos países hospedeiros, mas no caso do português tem havido exceções, em certo momento, o português foi uma das línguas estrangeiras mais estudadas na França, Canadá e Estados Unidos.

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

A FUNÇÃO SOCIAL DA TV



França (2006) identifica três grandes tendências dentro do panorama geral dos estudos televisivos; a primeira televisão e sociedade, buscando delinear seu papel, funções e efeitos.
Sobre essa tendência Bourdieu (1997) afirma que a televisão ameaça as esferas culturais, artísticas, cientificas e inclusive a vida política e a democracia.
Através do jogo da visibilidade e da invisibilidade, do esconder mostrando, do jogo remissivo, e do fast Thinking, a televisão exerce o poder simbólico: a dominação pela imagem.
Para Sartori (2001) o “homo videns” substitui o “homo sapiens”, pois a televisão estaria mudando a natureza humana, levando a um predomínio do visível sobre o inteligível que conduz para um ver sem entender (alienação).
Outros, no entanto, como Wolton (1996), enfatizam o potencial democratizador da TV aberta. A segunda tendência dos estudos televisivos analisam o meio e sua linguagem estética, recursos estéticos, indaga-se sobre a natureza do seu produto – o que é a imagem televisiva e que representação ela constrói.
Segundo Eco (1984) a grande característica da televisão foi abolir as fronteiras da ficção e realidade. Para Jost, a linguagem televisiva se constrói em torno de três grandes gêneros televisivos: o real, a ficção e o lúdico.
A terceira e última tendência dos estudos televisivos, diz respeito a análises circunscritas a programas específicos, são estudos pontuais que buscam caracterizar dinâmicas particulares que conformam múltiplas TVs, evitando generalizações excessivas.
Podemos perceber em vários enfoques que a televisão (com exceção de Wolton) é ressaltada como lugar de alienação e empobrecimento cultural, criação de valores e mitos contemporâneos, instrumento de poder e reprodução da estrutura de dominação etc.
Nesse sentido, podemos refletir sobre qual seria a função (utilidade) da televisão. Segundo uma visão marxista, a televisão cumpre uma função ideológica, mantendo a alienação e assegurando o processo de dominação. Contudo é preciso questionar as visões monolíticas, e reagir a sua visão puramente instrumental da Tv. Sua inserção na vida social é polivalente: a televisão é um veiculo de informação e socialização.
Desse modo, na pós-modernidade percebemos uma tendência mais recente nas pesquisas sobre televisão que enfatiza o estudo dos gêneros como forma de entrada não apenas  para alcançar os diferentes recursos televisivos, mas sobretudo para tratar da audiência, ou das relações com a recepção.
Bakhtin (1997) tratou o gênero textual como um padrão relativamente estável de estruturação de um todo ou formas típicas de dirigir-se a alguém. Barbero (1997), aponta os gêneros textuais como estratégia de comunicabilidade, lugar privilegiado de mediação, espaço de negociação entre objetivos do produtor e expectativas do receptor como ocorre na televisão.

LETRAMENTOS MÚLTIPLOS – LENDO IMAGENS CRITICAMENTE



Kellner (2002) enfatiza que as imagens são veículos de significados e mensagens simbólicas.
O autor afirma que numa cultura pós-moderna, o indivíduo deve aprender como ler imagens criticamente e a deslindar as relações entre imagens, textos, tendências sociais e produtos numa cultura comercial.
Keller afirma ainda que capacitar os indivíduos a adquirir um alfabetismo crítico em relação à publicidade e a outras formas de cultura popular, significa desenvolver competências emancipatórias que possibilitam que os indivíduos se posicionem frente (resistam) à manipulação por parte do capitalismo de consumo. Além disso, também nos fornece habilidades que nos orientam a ler as tendências atuais na sociedade e a observar mudanças importantes nessa mesma sociedade.
 Desse modo, adquirir um alfabetismo crítico no domínio da aprendizagem da leitura crítica da cultura popular e da mídia implica aprender as competências de desconstrução, de compreender como os textos culturais funcionam, como eles significam e produzem significados como são produzidos para influenciar os seus leitores.
Logo um alfabetismo crítico contribui para reverter a tendência em direção à crescente impotência e alienação dos indivíduos numa sociedade capitalista.