Santiago (1989) trata acerca de
como o poder de repressão do governo tentou calar a voz da democracia de um
modo geral, e como intelectuais utilizaram suas obras para criticar violência desse
poder, daí que em seu texto, o autor menciona a concepção de democratização no Brasil e não democratização do Brasil, por considerar que apesar
desse “movimento democrático” ter chegado ao Brasil, ele não é legitimado por
completo, uma vez que, ainda existe minorias que não possuem voz no discurso.
Sobre essas minorias que disputam
lugar (espaço) na sociedade, direito de falar e de serem ouvidas, podemos citar
o discurso de Foucault (2004) que trata sobre a necessidade de dar voz a classe
que se está representando. Nesse sentido, o governo ao representar a nação, não
pode apenas valorizar certas “classes” em detrimento de outras, no caso, as
minorias – as mulheres, os negros e os homossexuais.
Na tentativa de representar essas
classes os intelectuais falham, pois não se reconhece a voz do representado no discurso
social, antes esses intelectuais atrapalham, por assim dizer, a liberdade de
expressão dessas classes que permanecem à margem. É como se tais intelectuais
funcionassem como paliativo para que ao reportarem a voz dos marginalizados,
esses permanecessem nos seus respectivos lugares sem “desorganizar” a geografia
social (topografia), acreditando que estão sendo bem representados e possuem
voz no discurso, perpetuando o ciclo do poder nas mãos da antiga aristocracia.
Sobre essa topografia social, Connor
(1997) trata de definir os espações sociais demarcando o poder, de modo que, no
centro prevalece o intelectual, o rico, o branco, a concepção patriarcal
(modelo) e as ideologias machistas, enquanto que à margem, na periferia estariam os vários grupos marginalizados.
Connor afirma que essa relação é
instável, constantemente trava-se uma batalha no campo social, ideológico;
através de produções artísticas, seja a música, a literatura, a arte, ou a política
para disputar esse poder (espaço) ao centro.
Diante disso, percebemos a
fragmentação do poder, esse poder não se encontra enraizado numa única
instância, mas é operado nos vários discursos que perpassam esse modelo social
que se afirma democrático, no entanto percebemos falhas nessa “democracia”.
Daí que Cancline irá afirmar que
esse modelo (movimento democrático) é contraditório no Brasil, por conta que apesar de revolucionar o campo artístico,
não operou as grandes transformações (como uma redistribuição igualitária dos espaços
sociais – o poder, a voz, a visibilidade aos invisíveis socialmente representados)
que ocorreram na Europa.
Vale assinalar que toda essa
problemática irá promover uma transformação na concepção da literatura contemporânea
que será pautada nas temáticas das minorias (os que habitam a periferia na
topografia social) e que será denominada literatura marginal por seus
representantes não possuírem visibilidade, apesar dessa literatura possuir
força e coerência.
É importante mencionar a crise da
representação que é uma marca da literatura brasileira contemporânea, uma vez
que, se dá conta que o autor-narrador-personagem se confundem e de distanciam, o
intelectual já não possui uma “função”, pois o que esse intelectual objetivava,
se torna indigno, já que para representar o outro era necessário conhecê-lo e
partilhar das suas “angustias”, mas esse intelectual prefere marcar o seu lugar
de fala, sua posição no discurso, deixando bem claro, bem estabelecido os
limites dessa topografia social.
Desse modo, Canclini (2003) irá
tratar sobre contradições do modernismo, pois segundo esse autor, esse
movimento foi copiado (exportado da Europa para o Brasil), no entanto perdeu a “força”
transformadora ao cruzar o atlântico, pois não operou as mesmas transformações
sociais e políticas aqui na tribo tupiniquim.
Isso se deve, em grande parte a
própria posição do governo e das classes que detém o poder e que através de estratégias
de legitimação abafaram esse movimento, impedindo a circulação da cultura às
classes mais baixas (poder simbólico), freando o desenvolvimento e avanço das
classes marginalizadas para as regiões onde se encontra localizado o poder,
legitimando, assim, o grande abismo social entre o centro e a periferia.
Diante disso, Canclini considera
que esse movimento modernista havia falhado em seu maior propósito aqui no
Brasil, uma vez que, não operou a modernização, igualitando o poder perante as
classes sociais.