Segundo Burke (1978) a
cultura popular caracterizada pela diversidade, apoiada por uma minoria culta
que tenta no século XIV reformar essa cultura, toma rumos inesperados, isso se
deve as grandes transformações econômicas, sociais e políticas do período entre
1500-1800.
Podemos elencar essas
transformações como: o crescimento populacional que ocasionou à urbanização das
cidades proliferando a migração dos
camponeses do campo para área urbana. A revolução econômica caracterizada por
transformações econômicas que resulta na ascensão do Capitalismo Comercial e
expansão do comércio dentro da Europa, a divisão internacional do trabalho, a
revolução nas comunicações, o desenvolvimento da cultura de subsistência na
agricultura etc.
Essas transformações
afetam a cultura popular em cheio, pois, essa cultura estava intimamente
relacionada com o seu ambiente, adaptada a diferentes grupos profissionais e
modos regionais de vida. Necessariamente mudaria quando mudasse seu ambiente.
Uma das principais
causas da ascensão da cultura popular é a revolução comercial que levou-a a uma
idade de ouro, porém mais tarde numa revolução comercial aliada a revolução
industrial irá contribuir para a destruição da cultura popular. Isso porque a
transformação dos meios de produção impossibilitará a manutenção da
personalização da produção artística e cultural dos artesões e a expansão do
mercado destruiu a cultura material local.
No entanto, a o mesmo tempo
podemos observar a dialética dessa revolução comercial em que o processo que
destruiria a cultura popular tradicional possibilitou antes algumas das suas
belas realizações, sobre esse fato podemos observar que a cultura popular ganha
força enquanto que no campo ocorre o empobrecimento cultural significativo,
devido à migração.
É importante mencionar
a questão do uso da alfabetização que será importante nessa analise já que
agora a cultura popular está sendo comercializada sob a forma de livro impresso
(antes utilizava-se as grandes narrativas).
Podemos perceber nesse
fato que essa transformação irá afastar do povo a sua própria cultura, pois as
narrativas que esse povo antes estavam acostumados a ouvir, agora só poderia
ter acesso através da leitura, no entanto a grande massa não era alfabetizada,
o que legitimava o livro como forma de poder simbólico, de separação, forma de
barrar o outro ao acesso a cultura.
Sobre isso fazemos
menção a Canclini que irá analisar esse movimento na modernidade em que a
“nobreza” ou “Aristocracia” irá se valer de três formas de movimento ou
operação a fim de que seja estabelecida a separação entre o culto e o popular/intelectual
e o povo (massa), o nobre e o plebeu.
Segundo Canclini
(2000), essa modernização com expansão restrita do mercado, democratização para
minorias, renovação das idéias, mas com baixa eficácia dos processos sociais.
Esses desajustes entre o modernismo e a modernização foram úteis às classes
dominantes para preservar sua hegemonia mediante três operações: espiritualizar
a produção cultural, (que significa marcar a diferenciação entre arte/artesanato),
engessar a circulação dos bens simbólicos em coleções, concentrando-os em
museus e centros exclusivos e propor como única forma legítima de consumo
desses bens, essa modalidade também espiritualizada hierática de recepção que
consiste em contemplá-los.
Ainda sobre as
transformações da cultura popular no período entre 1500 – 1800, podemos elencar
três problemas de acesso, em relação à divulgação da cultura para as massas,
são eles: o acesso físico os livros não chegavam até os camponeses, o acesso
econômico, os camponeses/artesões não podiam adquirir essa literatura devido ao
preço do papel (que correspondia a uma parcela maior do que o custo de produção
do que hoje em dia) e finalmente a terceira é o acesso linguístico a forma de
registro desses livros, não era adequada ao camponês/artesão semi-alfabetizado
ou analfabeto.
Vale ressaltar ainda
duas transformações graduais que influenciam o declínio da cultura popular era
uma cultura de todos: uma segunda cultura para os instruídos (clero) e a única
cultura para os outros. Já em 1800, porém na Europa, o clero, a nobreza, os
comerciantes, os profissionais liberais haviam abandonado a cultura popular às
classes baixas das quais agora estavam separados por profundas diferenças de
concepção de mundo.
Esse afastamento da
cultura popular por essas classes possui razões deferentes para cada uma em
particular, pois no caso do clero a retomada fazia parte das reformas católicas
e protestantes. Para os nobres e a burguesia, a reforma foi menos importante do
que a Renascença que os incentivou a adotarem maneiras mais polidas, um estilo
novo e mais autoconsciente de comportamento, modelado por livros de boas
maneiras que orientava a exercer autocontrole a indiferença, cultivar senso de
estilo, andar de modo altivo, falar, escrever corretamente segundo regras
formais evitando assim dialetos e termos técnicos utilizados pelos camponeses.
Tais modificações tiveram sua função social.
É importante observar
que essa retirada da cultura popular ocorreu em ritmos diferentes em diferentes
partes da Europa, no entanto a explicação é clara: a cultura erudita
transformou-se com grande rapidez entre os períodos de 1500 a 1800, períodos
marcados pela Renascença, Reforma e Contra- Reforma, da Revolução científica e
do Iluminismo, apesar de ainda nessa época existir um diálogo entre as duas
culturas, (Mascates distribuíram livros e panfletos de Lutero e Calvino,
Voltaire, Rousseau; pintores camponeses imitavam o barroco e o rococó com
auxílio de gravuras). No entanto, isso não foi suficiente para impedir o
distanciamento entre a cultura erudita e a cultura popular, pois as tradições
orais e visuais não conseguiram observar rápidas transformações propostas.
Já no século XIX, o
crescimento das cidades, a difusão das escolas e o desenvolvimento das
ferrovias, entre outros fatores, tornavam possíveis e até inevitável a rápida
transformação da cultura popular.