Quem sou eu

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Salvador, Bahia, Brazil
A língua está em mim, me perpassa, faz parte da minha formação como ser social inserido num grupo. Compõe ainda a minha própria formação acadêmica já que resolvi após o primeiro curso superior (Administração), cursar Letras. Essa língua me representa em todos meus conflitos, pois suas características são iguais as minhas, um ser multifacetado, de exterior sóbrio e estático, mas no íntimo um turbilhão em movimento. Assim como um rio congelado que apresenta a sua superfície estática, mas o seu interior está sempre em movimento, num curso perene. Capacidade de adaptação e compreensão com singularidade e regionalidades tolerantes como próprios à língua. Escrever é para mim, como respirar, sinto essa necessidade e é através da escrita como afirmou Aristóteles que transitamos desde o terror até a piedade de nós mesmos e do outro. Esse ofício da escrita nos eleva, nos projeta, nos ressignifica quando tocamos o outro com as nossas palavras, seja no universo ficcional, biográfico ou autobiográfico. Escrever é uma necessidade, escrever é transpirar no papel as nossas leituras.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

MERETRÍCIO


Sou transparente como água, translúcida, decidida, e às vezes indecisa. Busco a felicidade, não consigo.
O medo paralisa, anula  aminha emoção. Não consigo.
Ela sobrevivia à existência, trabalhava na noite, trabalho árduo, exauria suas forças e lacerava sua alma.
Triste condição, aturar aqueles a quem não amava, servi-los em seus desejos sórdidos, suas compulsões e insanidades, homens brutos bêbedos, insensíveis, depravados, alienados, casados, solteiros, novos e velhos esses a torturava, servi-los era terrível fazia-o por dinheiro, para sustentar-se naquele quarto úmido e desconfortável onde morava.
Vivia da luxúria. Sonhava outra vida, não casamento. Durante o expediente imaginava felicidade para anestesiar o momento, seu corpo era autônomo, sentia, gemia, gritava e só. Enquanto sua mente vagava em busca da felicidade.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

A CENA CONTEMPORÂNEA


O trabalho, a faculdade, as tarefas diárias, tudo lhe ocupava, mas nada lhe preenchia.
Quanto mais atarefado, menos importância dava às suas demandas interiores.
Anestesiado do seu próprio vazio passeava a existência num frenético exercício de deveres que interpretava o indizível do verbo.
Sua identidade era uma mescla de mosaicos, absorvera muitas almas, muitas vontades, muitas histórias.
Não possuía pretenções. Sobrevivia com um emplastro na alma, um placebo mantinha a sua essência.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

MISSÃO


Ela pairava ausente a tudo, a dor alheia, seria menor sempre.
Subira com ele na vida, e no altar, fugia da decadência, apagara seu passado.
Temia o retrocesso, a casa velha, a aridez da alma, insegurança, incerteza, dor. A fraqueza.
A obscuridade de não adquirir um sobrenome. Não possuía dotes; físicos ou materiais, era composta apenas pelo ventre farto da fome e de fertilidade viril.
Fora selecionada com propósito único da procriação. O coronel exigia filhos antes fortes que belos. À esposa incumbira essa missão, sua recompensa seria a abstinência da fome e da solidão.

FELIX, FELIXI


A felicidade, dizem que a felicidade está nas coisas simples, à satisfação após uma bela conquista, seja ela amorosa ou bélica. Na saciedade após um bom repasto, numa amizade sincera, num sorriso fiel.
A felicidade também se apresenta ao se adquirir algum bem, ou objeto de grande satisfação.
Mas como areia em um ralo, ela sempre se esvai, permanece por míseros quartos de hora e logo some. Então um vazio, uma lacuna se estabelece no interior do indivíduo que automaticamente reativa o anseio pela busca incansável desse sentimento, para preencher o seu momento com a felicidade.

LABOR


O ser humano sobrevive. Escrevo na angústia, a melancolia comove-me.
Não permito esquecer o passado, as mazelas do mundo me constrange, queria poder saná-las.
Aprendo com a simplicidade, não compreendo a carência da extravagância, o essencial me basta. Olho adiante, não vejo expectativas, o ciclo da rotina se impõe: trabalho, cansaço, consumo, carência e novamente a urgência do trabalho.
Sinto a vida como um árduo fardo; como série de exigências sociais e econômicas que procuro atender com todas as forças; o trabalho.
Tenho as energias exauridas, sinto-me explorado pela vida.