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A língua está em mim, me perpassa, faz parte da minha formação como ser social inserido num grupo. Compõe ainda a minha própria formação acadêmica já que resolvi após o primeiro curso superior (Administração), cursar Letras. Essa língua me representa em todos meus conflitos, pois suas características são iguais as minhas, um ser multifacetado, de exterior sóbrio e estático, mas no íntimo um turbilhão em movimento. Assim como um rio congelado que apresenta a sua superfície estática, mas o seu interior está sempre em movimento, num curso perene. Capacidade de adaptação e compreensão com singularidade e regionalidades tolerantes como próprios à língua. Escrever é para mim, como respirar, sinto essa necessidade e é através da escrita como afirmou Aristóteles que transitamos desde o terror até a piedade de nós mesmos e do outro. Esse ofício da escrita nos eleva, nos projeta, nos ressignifica quando tocamos o outro com as nossas palavras, seja no universo ficcional, biográfico ou autobiográfico. Escrever é uma necessidade, escrever é transpirar no papel as nossas leituras.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011



Embate Teórico entre Formalismo / Funcionalismo e a Teoria da Analise do Discurso


“O homem não pode falar seu pensamento sem pensar sua palavra.”

Bonald



1 - INTRODUÇÃO

Costuma-se afirmar nos compêndios dedicados aos estudos de linguagem, que o pensamento lingüístico ocidental é representado, basicamente, por dois grandes pólos de atenção: o formalismo e o funcionalismo. De um modo geral pode-se dizer que o Formalismo consiste numa abordagem cujo foco incide tão somente na observação e descrição das características estruturais das línguas, desconsiderando suas possíveis funções. Já o funcionalismo consiste em qualquer abordagem lingüística que dá importância aos propósitos inerentes ao emprego da linguagem.
Halliday (1985) assinala que a oposição entre essas duas abordagens relaciona-se ao tipo de orientação que cada um segue. Assim, para o referido estudioso, o Formalismo assenta-se na lógica e na filosofia e se caracteriza por uma orientação primariamente sintagmática. Por isso, suas gramáticas interpretam a língua como um conjunto de estruturas, nas quais podem ser firmadas, num segundo passo, relações regulares. Ancoradas nesta concepção, tendem a enfatizar os traços universais da língua, creditando à sintaxe o centro dos estudos lingüísticos. Por extensão, organizam a língua em torno da frase. Ou seja, são gramáticas arbitrarias.
No que tange ao funcionalismo, Halliday (1985) afirma ser esta abordagem assentada na retórica e na etnografia, com orientação paradigmática. Logo, as gramáticas funcionais concebem a língua como uma rede de relações, enfatizando as variações entre diferentes línguas, considerando a semântica como base de análise e organizando-a em função do texto ou do discurso.

2 - PANORAMA GERAL – ABORDAGEM FORMAL: ESTRUTURALISMO

O estruturalismo é uma corrente de pensamento nas ciências humanas que se inspirou no modelo da lingüística e que apreende a realidade social como um conjunto formal de relações. Esta abordagem veio a se tornar um dos métodos mais extensamente utilizado para analisar a língua, a cultura, a filosofia e a sociedade. Fernand de Saussure é geralmente visto como o iniciador do estruturalismo, especialmente em seu livro de 1916 “Cursos de Lingüística Geral".
Nesta abordagem a língua é conceituada como um sistema organizado de signos que expressam a idéia no aspecto codificado da linguagem. O objetivo da lingüística é estudar as regras deste sistema e seus sentidos produzidos. O estruturalismo não considera o contexto de uso das manifestações lingüísticas, tampouco as relações com os falantes que as enunciam (seus propósitos, os atos interacionais e institucionais que ativam sua classe social, sexo, idade, nível de escolaridade) ou o processamento cognitivo que lhe é inerente (VASCONCELO, 2002).
O estruturalismo é governado por princípios como "o da estrutura" reporta aos elementos que compõe uma língua, caracterizados em virtudes da organização global de que fazem parte. Sob este prisma, fazer ciências da linguagem é postular, e simultaneamente, elucidar as estruturas sistêmicas inerente ao enunciado. Cada unidade é sistêmica e, portanto, só pode ser identificada no seu interior
O objetivo da gramática de Saussure é nomeada por seus seguidores de "Estruturalismo”, é estudara organização da língua e o sistema lingüístico, investigando as relações entre as unidades lingüísticas por meio de suas oposições ou contrastes, ignorando totalmente o estudo da lingüística histórica, ou seja, a multação do sistema através dos tempos.
Os estruturalistas consideram a língua como um sistema de relação, ou mais precisamente como um conjunto de sistemas ligados uns aos outros, cujo elementos (fonemas, morfemas, palavras, etc.) não tem nem um valor independente das relações de equivalência e de oposição que os ligam.
À pergunta: O que é estruturalismo? Bartes (1970, p. 49) responde “Não é uma escola, nem mesmo um movimento, pois a maior parte dos autores que se associam geralmente a esta palavra não se sentem de modo algum ligados entre eles por uma solidariedade de doutrina ou de combate". Quanto aos teóricos formalistas, é comum a referencia aos nomes de Chomsky, Bloomfield, Z. Harris e outro. No Brasil, é possível destacar, entre outros os nomes de Carlos Mioto, Roberto Pire e outros. Em relação aos gramáticos podemos citar Celson Cunha, Lindley Cintra, Napoleão entre outros.

3 - ABORDAGEM FUNCIONALISTA

Os embates teóricos e metodológicos entre os formalistas russos desemborcaram nos estruturalismos funcionais, projetados com o Circulo Lingüístico de Praga, fundado por Trubetskoy e Jakobson, dentre outros, em 1926. As formulações teóricas que ali foram emboçadas disseminaram-se a partir do Congresso Internacional de Lingüística de haia, em 1928, e da elaboração das Teses de Praga. Das referidas teses emana o principio básico do Funcionalismo, segundo o qual a natureza das funções lingüísticas determinam a estrutura da língua.
O Funcionalismo é um "movimento particular dentro do Estruturalismo" (LYON, 1981, p. 166) defende a hipótese de "que a estrutura fonológica, gramatical e semântica das línguas são determinadas pelas funções que exercem na sociedade em que operam".
O Funcionalismo concebe a linguagem prioritariamente, como instrumento de interação social, validado pelos falantes com o objetivo principal de transmitir informações aos interlocutores em geral. Ou seja, quando se fala em Funcionalismo, insiste-se sobre tudo na idéia de uma analise lingüística que considera metodologicamente o componente discursivo, dada sua função prioritária na gramática de uma língua.
As correntes Funcionalistas atuais, por sua vez, com mais veemência enfatizam as características inerentes ao emprego das expressões lingüísticas no discurso, abrangendo fenômenos interacionais, sociais, culturais, cognitivos e outros.
No que concerne aos principais representantes do Funcionalismo clássico, é plausível citar os membros da Escola de Praga como (Buhler, Jakobson, e Martinet), a escola de Londres e Halliday. No âmbito das abordagens Funcionalistas vale colocar em evidencia os nomes Gívón, Heine, Bybee e Traugott. No Brasil destacam-se, entre outros os trabalhos de Ataliba Castilho, Sebastião Votre, A. Naro e Adair Gorski.
A "função" na teoria Funcionalista, não se aplica as relações de interdependência entre as palavras na oração (as ditas "funções sintáticas": objeto direto, objeto indireto, etc.); refere-se "ao papel que a linguagem desempenha na vida dos indivíduos (...)" (NEVES 2004, p.8). Para Halliday (1973; 104. Apud. Neves, 2004: 8), esse é o sentido básico e principal do termo "função" do Funcionalismo. Na gramática funcional de Halliday, importa investigar o modo como os significados são veiculados, o que implica considerar as formas da língua como um meio para a realização de um propósito, e não como um fim em si mesmas. A denominação Gramática Funcional diz respeito a uma teoria lingüística que, assentada no componente significativo (caráter funcional), procura interpretar as formas lingüísticas (caráter gramatical).
Como é intenção do falante comunicar-se mediante a realização de enunciados, ele aciona a função interpessoal, pela qual pode "agir" sobre o seu destinatário. Assim, a estrutura sintática – semântica da frase se adaptará a realidade, o que implica necessariamente, diferença na analise e na interpretação dos constituintes frásicos. O falante pode, conforme sua perspectiva, selecionar um novo predicador (verbo) e, conseqüentemente as unidades a ele relacionada (seus argumentos).Tomemos para exemplo a frase seguinte: " O maratonista corria muito." Nesta frase, há um predicador de 'ação' (correr) que determina uma estrutura semântica, a qual inclui, necessariamente um agente (maratonista). Esse predicador determina, portanto, um esquema sintático – semântico especifico.

4 - ANÁLISE DO DISCURSO – CONCEITUAÇÃO:

Disciplina que estuda as produções verbais no interior de suas condições sociais de produção. Essas são consideradas como partes integrantes da significação e do modo de formação do discurso.
Brandão (2004) objetiva definir o papel da análise do discurso nas sociedades, e para isso conceitua certas características presente na análise do discurso. No entanto, devemos salientar que o trabalho da análise do discurso é de apenas estudar como se dá essa relação de interação entre interlocutores / textos orais ou escritos e os discursos presentes nesses textos, sem atribuir valoração positiva ou negativa, uma vez que, se está analisando as relações discursivas e não valor ideológico presente no discurso.
A autora conceitua discurso como: atividade entre falantes; trabalho desenvolvido pelo homem que exige esforço, desenvolvimento pelo homem lingüístico e extralingüístico (com quem de fala?, em que situação?, quando? etc.). Desse modo ao produzirem linguagem, os falantes produzem discurso.
Sendo o discurso uma atividade produtora de sentidos que se dá na interação entre falantes, em que esses falantes são seres que estão situados num tempo histórico, num espaço geográfico, pertencem a uma comunidade, a um grupo, e por isso, carregam crenças e valores culturais, sociais enfim, a ideologia do grupo da comunidade de que fazem parte. Essas ideologias serão projetadas nos discursos desses falantes (indivíduos). A autora afirma que podemos identificar essas ideologias através dos sentidos produzidos nesses discursos, os quais traduzem as posições no final da frase do sujeito: no inicio sociais, culturais, ideológicas através da linguagem.
Outro aspecto importante que autora destaca sobre a análise do discurso é que nas interações sociais trabalhamos com imagens e não com verdades, desse modo ao preparamos os discursos procuramos atender certas expectativas nos outros através de certos comportamentos, daí se afirma que o exterior é – parte das crenças e valores e visões de mundo; a ideologia interpela a imagem e o sujeito.
Desse modo, entendemos a importância do estudo da análise do discurso, pois o discurso é uma forma de agir sobre o outro, e os aparelhos ideológicos como a família, escola, a mídia, a universidade, a religião, têm exercido esse poder através dos vários sentidos produzidos nos seus discursos.

5 - NASCIMENTO DA AD

Ao fim dos anos 60 emerge uma corrente das ciências da linguagem    que toma como objeto o discurso. Essa corrente mantém com a lingüística relações complexas que redefinem ao passo e à medida que novas pesquisas surgem, e propõe um conjunto de noções, de ferramentas e de métodos específico, propícios a fazer da analise do discurso (AD) um campo disciplina autônomo. Com efeito, se os trabalhos dos analistas do discurso parecem à primeira vista variados, até mesmo dispersos, [eles] partem do principio de que os enunciados não se apresentam com frases o como sequência de frases, mas como textos. Ora o texto é um modo de organização específico, que devem ser estudado como tal em relação às condições nas quais ele é produzido. Considerar a estruturação de um texto em relação às suas condições de produções é considerá-lo como discurso. (Gravitz, 1990, p. 354)
O recente Dicionário de Analise do Discurso, dirigido por Charaudeau e Maingueneau (2002) testemunha a existência bem consolidada desse campo, mesmo se as discussões  internas continuam a evoluir.

6 - EXEMPLO

Nesse trabalho pretendemos diferenciar teorias funcionalistas e formalistas e analisar as produções do discurso suas repercussões nos sujeitos-leitores e espectadores através da análise do discurso, tomando como objeto de estudo a produção artística da autora Glória Perez, a novela Caminho das Índias e o livro Mentes Perigosas da autora Ana Beatriz Barbosa Silva. Para exemplificar de forma pratica as teorias da análise do discurso.
Nesse estudo, percebeu-se que no formalismo, a gramática é vista como uma tentativa de definir a língua, através de regras sintáticas e que a linguagem é abordada como um sistema autônomo, descontextualizado que tem o objetivo de apontar normas para a "correta" utilização oral ou escrita do idioma, isto é: escrever e falar a língua padrão.
Já no funcionalismo, a língua é um instrumento de interação social, pois existe em função de seu uso. A função da língua é estabelecer comunicação entre os usuários. Por isso a aquisição da linguagem se desenvolve na interação comunicativa e a sintaxe e a semântica devem ser estudadas dentro de uma proposta pragmática.
A primeira concepção, diz respeito à leitura com foco no autor em que segundo Koch (2002) à concepção de língua como representação do pensamento corresponde à de sujeito psicológico, individual, dono de sua vontade e de suas ações. Nesse sentido o sujeito visto como um ego que constrói uma representação mental e deseja que esta seja “captada” pelo interlocutor da forma como foi mentalizada.
A leitura assim é concebida como a atividade de captação de idéias do autor, sem considerar as experiências e os conhecimentos do leitor; ex: a leitura do livro – mentes perigosas por um individuo qualquer.
Por sua vez, a concepção de leitura com foco no texto, que está imbricada à concepção de língua como estrutura corresponde a de sujeito determinado, caracterizado por uma espécie de não consciência. O princípio explicativo de todo e qualquer fenômeno ou comportamento individual repousa sobre a consideração do sistema lingüístico ou social.
Nesse sentido o texto é visto como simples produto da codificação de um emissor a ser decodificado pelo leitor / ouvinte que necessita apenas do conhecimento do código utilizado; ex: A leitura do livro Mentes Perigosas pó profissionais da área médica com conhecimentos técnicos para decifrar os códigos técnicos.
Consequentemente, a leitura é uma atividade que exige do leitor o foco no texto, uma vez que ‘tudo está dito no dito’. Nesta concepção cabe ao leitor o reconhecimento do sentido das palavras e estruturas do texto.
Diferentemente das concepções anteriores, na concepção de interação autor - texto-leitor ou dialógica os sujeitos são vistos como atores/construtores sócias, sujeitos ativos que – dialogicamente se constroem e são construídos no texto.
Nessa perspectiva segundo as autoras, o sentido de um texto é construído na interação texto-sujeito. A leitura é, pois, uma atividade interativa altamente complexa de produção de sentidos, é preciso também levar em conta os conhecimentos do leitor, condição fundamental para o estabelecimento da interação com maior ou menor intensidade e qualidade.
É interessante perceber como os discursos presentes no livro são veiculados através da novela, e como isso dá visibilidade à autora Ana Beatriz Barbosa Silva, e as suas obras. Nesse sentido fazemos referência à Koch (2002), ao que a autora classifica como intertextualidade nos gêneros textuais, em que a novela se torna veículo informacional, produzindo os discursos de um livro de caráter científico/social.
Nesse sentido fazemos menção ao conhecimento interacional que são formas de interação por meio da linguagem e que engloba os conhecimentos, ilocucional, comunicacional, metacomunicativo, superestrutural.                                                                                                                                                                                                  
Ilocucional permite reconhecer os objetivos ou propósitos pretendidos pelo produtor do texto, em uma dada situação interacional. Comunicacional refere-à quantidade de informações necessária, numa situação comunicativa concreta, a fim de que o parceiro seja capaz de reconstruir o objetivo da produção de texto, seleção da variante linguística adequada a cada situação de interação, adequadação do gênero textual à situação comunicativa. O conhecimento metacomunivativo permite ao locutor assegurar a compreensão do texto e conseguir a aceitação pelo parceiro dos objetivos com que é produzido. Já o conhecimento superestrutural, conhecimento sobre gêneros textuais permite a identificação de textos como exemplos adequados aos diversos eventos da vida social bem como a distinção dos vários tipos de textos, sua ordenação ou sequenciação em contexto com os objetivos pretendidos.

7 - CONCLUSÃO

O Estruturalismo que se originou a partir do Curso de Lingüística Geral de Ferdinand Saussure, introduziu conceitos importantíssimos como: Língua X Fala Sincronia X Diacronia e Significante X Significado. Ao encararmos o Estruturalismo como um estudo sistemático, percebemos que cada elemento deste sistema é determinado pelas relações de equivalência ou diferença que possuem com os demais elementos quando analisados juntos. È o conjunto das relações entre elementos que determinam a estrutura.
Nesse estudo, percebeu-se que no formalismo, a gramática é vista como uma tentativa de definir a língua, através de regras sintáticas e que a linguagem é abordada como um sistema autônomo, descontextualizado que tem o objetivo de apontar normas para a "correta" utilização oral ou escrita do idioma, isto é: escrever e falar a língua padrão.
Já no funcionalismo, a língua é um instrumento de interação social, pois existe em função de seu uso. A função da língua é estabelecer comunicação entre os usuários. Por isso a aquisição da linguagem se desenvolve na interação comunicativa e a sintaxe e a semântica devem ser estudadas dentro de uma proposta pragmática.
O funcionalismo se pautará no princípio de que toda a explicação lingüística deve ser buscada na relação entre linguagem e uso, ou na linguagem em uso no contexto social. Tem-se aí uma nova postura – a de que a interação é importante nos processos comunicativos. A teoria funcionalista explicará, por exemplo, o fenômeno lingüístico nas relações sócio-interacionais entre falantes/ ouvintes, levando-se em conta, a pragmática, e possíveis intelecções discursivas.
Vale salientar que a teoria funcionalista se ramificou ou se dividiu em várias vertentes na atualidade. Hoje, há várias concepções dentro dessa teoria maior. Como exemplo pode-se citar: a pragmática, lingüística textual, análise do discurso, dentre outras.

 8 - REFERÊNCIAS:

PAVEAU, Marie – Anne. et SARFATI, Georges – Elias. As grandes teorias da linguísticas: da gramática comparada à pragmática, São Carlos: Claraluz, 2006.
BAKHTIN, Mikhail (Voloshinov, 1992). 1979. Marxismo e filosofia da linguagem. Trad. Lahud, Michel; Vieira, Yara F. São Paulo: Ed. Hucitec.
ORLANDI, Eni P. 1983. A linguagem e seu funcionamento. As formas do discurso. São Paulo: Ed. Brasiliense.
MAINGUENEAU, Dominique. 2001. Análise de textos de comunicação. Trad. Souza-e-Silva, Cecília P; Rocha, Décio. São Paulo: Cortez Ed. Cap. 4: Discurso, enunciado, texto.
--------------------------------------- 1989. Novas tendências em Análise do Discurso. Trad. Indursky, Freda. Campinas, SP: Ponte, Cap. II: Do discurso ao interdiscurso.
---------------------------------------- 2005. Gênese dos discursos. Trad. Possenti, Sírio. Curitiba, PR: Criar Edições.
BRANDÃO, Helena H.N. 2004. Introdução à Análise do Discurso. Campinas, SP: Ed. UNICAMP, 2ª. Ed. rev.
------------------------------------------ 2003. Análise do discurso: um itinerário histórico. IN: PEREIRA, Helena B.C e ATIK, Maria Luiza G. Língua, Literatura, Cultura em diálogo. São Paulo, SP: Ed. Mackenzie.
ORLANDI, Eni P. 1999. Análise de discurso. Princípios e procedimentos. Campinas, SP: Pontes.
DUCROT, Oswald. 1987. Esboço de uma teoria polifônica da enunciação. IN: O dizer e o dito. Trad. Guimarães, Eduardo. Campinas, SP: Pontes
AUTHIER-REVUZ, Jacqueline. 1998. As palavras incertas. As não coincidências do dizer. Trad. Vários, revisão técnica: Orlandi, Eni. Campinas, SP: Ed. UNICAMP.
POSSENTI, Sírio. 2002. Os limites do discurso. Curitiba, PR: Criar Edições.
BAKHTIN, Mikhail. 1992. Os gêneros do discurso. IN: Estética da criação verbal. Trad. Pereira, M. Ermantina G.G. São Paulo: Martins Fontes.
BRANDÃO, Helena H.N. 2004. Gêneros do discurso: unidade e diversidade. IN: Polifonia. Cuiabá, MT: Ed. Universidade Federal Mato Grosso.
BRANDÃO, Helena H.N. 1999. Texto, gêneros do discurso e ensino. IN:
BRANDÃO, Helena H.N. (Coord.) Gêneros do discurso na escola. Mito conto cordel, discurso político, divulgação científica. São Paulo: Cortez Ed.



INTERTEXTUALIDADE EM CLARICE E MACHADO










Trabalho a ser apresentado à P
Assis, Machado de. Os melhores contos de Machado de Assis / seleção Domícia França Filho – 12º Ed – São Paulo: Global, 1997
Lispector, Clarice. A hora da estrela – Rio de Janeiro: Racco, 1998.

Neste ensaio pretendemos abordar as relações intertextuais entre a obra A hora da Estrela da autora Clarice Lispector e o conto A cartomante de Machado de Assis, tomando como recorte da obra de Clarice, o episódio da visita de Macabéa a cartomante, analisaremos a partir do eixo temático do amor como essas produções artísticas dialogam e desdobram outras temáticas, questões sociais, através das histórias movidas pelo amor.
A nordestina Macabéa, a protagonista de A Hora da Estrela, é uma mulher miserável, que mal tem consciência de existir. Logo após perder seu único elo com o mundo, uma velha tia, ela viaja para o Rio, onde aluga um quarto, se emprega como datilógrafa e passa o tempo ouvindo a Radio Relógio (que dava “hora certa e cultura”, e nenhuma música). Apaixona-se, então, por Olímpico de Jesus, um metalúrgico nordestino que mais tarde a trai com uma colega de trabalho.
Desesperada, Macabéa consulta uma cartomante que lhe prevê um futuro luminoso, bem diferente do que a espera.
Vilela, Camilo e Rita, os três protagonistas de A Cartomante têm suas origens da seguinte forma: os dois primeiros eram amigos de infância. Vilela seguiu carreira de magistrado, Camilo entrou no funcionalismo público com a ajuda da sua mãe e a contragosto do pai, que o queria médico. No início de 1869, Vilela retorna da província onde casara com uma “dama formosa e tonta” – Rita. Tendo abandonado a magistratura veio abrir banca de advogado. Camilo arranjou-lhe casa na região de Botafogo e foi recepcioná-los.
Com o reencontro uniram-se os três e o convívio trouxe intimidade. É a partir daí que se inicia o triângulo amoroso, a traição, as suspeitas, os medos etc.
Enquanto Macabéa buscava consolo através da cartomante, os personagens da Machado, Rita e Camilo buscavam saber se seriam felizes apesar de viverem um relacionamento ilícito, pois eram amantes, já que Rita era esposa de Vilela. É nesse ponto que as obras convergem, pois ambos os personagens de Clarice e Machado, recorrem ao sobrenatural em nome do amor, é interessante perceber que o equívoco na previsão das cartomantes se repete nas duas produções artísticas e a culminância é a morte dos personagens.
Podemos identificar que apesar dessas produções serem marcadas pelo enfoque no amor é possível perceber a questão do desamparo na Hora da Estrela, pois Macabéa é o símbolo máximo do abandono, do descaso, (representação das massas populacionais, classe não privilegiada, operária etc), é no episódio da sua morte, em que após ser atropelada por uma Mercedes, Macabéa é rodeada por transeuntes curiosos, essa é hora da estrela, nesse momento Macabéa é percebida pelo mundo, porém ela não está mais ali, apenas o seu corpo inerte.
Percebemos então a invisibilidade da personagem de Clarice diante do mundo que a cerca, sobre essa invisibilidade, Santiago (2004) afirma ser o cosmopolitismo do pobre que passa pela vida, engrossa as fileiras de uma sociedade que não lhe percebe, sobre isso fazemos menção a outra característica presente nas obras de Clarice, que é a errância/migração, o sentir-se estranho em qualquer lugar, o sentimento de não pertencimento, a condição existencial, o estar fora estando dentro, o sobreviver em lugar de viver, essas marcas (características) são perceptíveis no imaginário da obra, no entanto nem sempre aparece de forma concreta, explícita.
Em relação à obra de Machado, podemos perceber além do eixo temático do amor que une as duas produções artísticas através da intertextualidade, idenficamos a questão moral /religiosa no episódio em que Camilo ao saber que Rita consultava uma cartomante, a censura -... “Tu crês deveras nessas coisas? Perguntou-lhe”, “ ... Camilo não acreditava eu nada..”, sobre a questão moral é perceptível a figura da mulher como sedutora, como instrumento pelo qual o homem é sempre tentado a transgredir as leis morais e religiosas - ... “Pouco depois morreu a mãe de Camilo, ...Vilela cuidou do enterro, dos sufrágios e do inventário; Rita tratou especialmente do coração, e ninguém o faria melhor”... ...“Como daí chegaram ao amor, não o soube ele nunca. A verdade é que gostava de passar as horas ao lado dela; era a sua enfermeira moral”... e ... “Camilo quis sinceramente fugir, mas não pôde. Rita como uma serpente foi se acercando dele, envolvendo-o todo, fez-lhe estalar os ossos num espasmo e pingou-lhe o veneno na boca. Ele ficou atordoado e subjugado... ...adeus escrúpulos...”, assim percebemos alusão clara a queda do homem pela tentação da serpente e da mulher no paraíso bíblico. Essa questão religiosa também está presente na obra de Clarice no episodio em que durante a consulta de Macabéa, madame Carlota fala de suas desventuras passadas e de como “Jesus” a ajudara, é interessante perceber que madame Carlota molda o seu discurso ao discurso cristão/protestante que afirma que só “Jesus” pode salvar esse episódio demonstra um paradoxo entre os discursos presentes no pensamento religioso ocidental que tornam oposto prostituição/castidade, pecado/santidade, já que madame Carlota afirma ser ex prostituta, ex cafetina, e ainda pratica bruxaria, no entanto afirma que Jesus está ao lado dela, contradizendo o que a Bíblia afirma do condenar tais práticas.
Outra questão implícita na temática do amor presente nessas obras é a idéia da morte como redenção/libertação e vingança/restituição (da honra) já que Vilela, o marido traído mata os amantes, e Macabéa morre libertando-se da sua vida de sofrimentos. Percebemos a presença do mistério e do futuro imprevisível (até mesmo para a cartomante), na obra de Machado, isso é sinalizado através da intertextualidade com as obras de Shakespeare (Rita é descrita como interprete de Hamlet em vulgar (números, ou ainda, o simulacro), no entanto afirmamos que a intertextualidade perpassa ainda Macbeth, pois assim como as três bruxas aparecem ao general Macbeth anunciando “Coisas de som tão belo”, a Cartomante consultada por Rita e Camilo faz previsões tais que outra sorte não se poderia admitir.
Vale ressaltar ainda a descrição das características físicas das cartomantes de nas duas obras que muito se aproxima, parecendo se tratar do mesmo personagem, até o ato de comer durante a consulta está presente nas duas obras, enquanto a Cartomante de Machado ingeria passas, obra de Clarice, Madame Carlota comia bombons, em Machado, “mãos com longos dedos finos, de unhas descuradas e duas fileiras de dentes que desmentiam as unhas”, em Clarice, uma mulher enxundiosa, com boca rechonchuda pintada com vermelho vivo e nas faces oleosas, duas rodelas de ruge brilhoso.
Tais características analisadas nesse trabalho nos permitem demonstrar a intertextualidade através da literatura comparada que busca no estudo dessas obras evidenciar o que aproxima e o que distancia essas duas produções artísticas.




Referências

SAID, Edward Reflexões sobre o exílio e outros ensaios. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.
SANTIAGO, Silviano. Uma literatura anfíbia. In:
O cosmopolitismo do pobre: crítica literária e crítica cultural. Belo Horizonte: Ed UFMG, 2004. P. 64-73







Artigo


Paulo Souza de Amaral





Artigo apresentado a Profª Mônica Menezes
Para Avaliação parcial do semestre 2011.1 da disciplina
 Letc - 37 – Literatura Infanto – Juvenil (UFBA).




Salvador, Junho 2011





Monstros e Monstruosidades a Catarse do Indivíduo


O clássico mais célebre que traz a alegoria do monstro e monstruosidade inerente ao ser humano, talvez seja The Strange Case of Dr Jekyll and Mr Hyde, O médico e o monstro Robert Louis Stevenson.
Nessa obra percebemos o indivíduo e seus conflitos, preso num só corpo o convívio dual de criaturas distintas, uma humana e a outra bestial. É interessante perceber a construção desse personagem pelo autor: Robert Louis Stevenson em The Strange Case of Dr Jekyll and Mr Hyde, ilustre médico, percebe-se dividido entre duas personalidades, ambas, para ele, completamente verdadeiras. Uma é a do emérito doutor, filantropo respeitado e exemplo de conduta. A outra, reprimida durante toda a sua vida, é a do hedonista, que busca o prazer carnal, que comete crueldades e vilanias, sem responsabilidades. Busca, então, na ciência, a maneira de resolver esse impasse. A poção que permite a transmutação entre as personalidades é, ao mesmo tempo, amostra das incríveis possibilidades abertas pela ciência em acelerada evolução e exemplo da angústia de não saber até onde ela poderia ir, já que a invenção subjuga o próprio cientista, que não pode mais controlá-la. Ainda que de forma não premeditada, Stevenson transporta para a literatura o debate político e social vigente, (Karl Marx viveu em Londres de 1850 até sua morte, em 1883). Ao mesmo tempo que traz o progresso e a riqueza, a ciência traz a pobreza e a destruição, como se podia observar na própria Londres da época.  
A invenção do Dr. Jekill explicita ainda um tema importante relacionado à moral e à sociedade: o bem e o mal convivem dentro de cada ser humano. Mr. Hyde não ganha vida pela ingestão da beberagem, e sim é libertado do interior de Jekill, onde já vivia, embora reprimido.
Não é difícil encontrar evidências de uma tese sobre o consciente e o subconsciente nas entrelinhas dessa obra de ficção do final do século XIX. Para isso, basta ler o último capítulo do livro em que o médico, num momento de lucidez, narra em uma carta todo seu trabalho e pesquisa dos últimos anos. A escolha feita pelo autor do personagem como um médico, profissão tida como nobre desde a Grécia Antiga fundada com o juramento de Hiprócrates não é inocente.
O médico um indivíduo ético, sério comprometido com sua profissão que seria a de salvar vidas e curar o mundo de suas mazelas através da ciência vê-se num dilema.
No clássico de Stevenson, esse ser nobre é também um ser dual, guarda em si, uma criatura horrenda, mas qual seria esse propósito do autor? O de confinar num único corpo dois seres de natureza tão diferentes? O Médico e o Monstro?
Segundo Jeha (2008) Monstros corporificam tudo que é perigoso e horrível na experiência humana. Eles nos ajudam entender e organizar o caos da natureza e o nosso próprio. Nas mais antigas e diversas mitologias, o monstro aparece como símbolo da relação de estranheza entre nós e o mundo que nos cerca.
A partir dessa idéia, entendemos que no clássico o Médico e o Monstro o autor propõe a catarse do indivíduo através da manifestação da personalidade /alter ego do Monstro, para demonstrar que o ser humano não seria tão bom, tão perfeito como poderia se esperar.
O conflito psicológico apresentado na obra também demonstra a eterna luta do indivíduo contra sua natureza terrena/bestial e egoísta em contrapartida com os valores estabelecidos pela sociedade e dos dogmas da Igreja que si mesclam a esses valores sociais.
Sobre isso entendermos que a auteridade do indivíduo está sempre condicionada aos valores do Estado que na Idade Média era regido pela Igreja Católica, e hoje é tido como Laico, porém se apresenta na verdade como Científico, pois o governo é orientado pelas descobertas cientificas e avanço da ciência. Todo governo se apoia na ciência para governar.
E é nessa sociedade científica que nos é apresentado à nova concepção para Monstros e monstruosidades. Segundo Jeha o monstro como uma metáfora do mal: deixando um pouco de lado a criatura em si, sua aparência e deformidades para focar nas suas monstruosidades, aqueles atos monstruosos que as pessoas cometem. Podemos citar os grandes ditadores como: Stálin, Hitler, e o terrorista Bin Laden que tinham algo de bom, mas cometeram atrocidades, atos de crueldade que foram além do que se esperava de um ser humano.
O autor destaca que o cerne da questão é a capacidade do homem de exceder o limite da maldade e a que a literatura é um bom campo para analisar isso.
Se na obra de Stevenson, o médico e o monstro, inaugura a catarse do indivíduo na literatura da época, na atualidade esse monstro e essa monstruosidade é repensada, não tem lugar fixo nem definição estabelecida, o monstro para Jeha é um vazio que se pode preencher com vários medos, acusações, castigos. Ele pode ser uma criatura, uma pessoa ou mesmo um lugar.
Desse modo entendemos que tais construções do monstro e monstruosidades fazem parte do indivíduo, e podem estar relacionadas a aspectos diversos como: forma de obter coesão do grupo, toda comunidade precisa ter união interna para agir contra um inimigo externo. Uma das maneiras mais fáceis de obter isso é usar a imagem do monstro, transformando o inimigo em monstro, é possível unir todos contra ele.
 O monstro pode ser resultado ainda, de uma falha no conhecimento humano-tanto no sentido científico, quanto moral e social, ou seja, aquilo que o homem não conhece ainda tende a ver como monstruoso. Da mesma forma, a partir do memento em que se torna natural, passa a fazer parte da realidade das pessoas e deixa de ser monstro.
Assim o monstro é sempre caracterizado pela ideia de excesso, irreal e de anormal.










JEHA. Julio, MONSTROS E MONSTRUOSIDADES NA LITERATURA, editora: UFMG, edição: 1ª, ano: 2007.
STEVENSON. Robert Louis, THE STRANGE CASE OF DR JEKYLL AND MR HYDE, coleção: clássicos infantis, editora: cia das letrinhas,  edição: 1ª,  ano 1999.
http://revista.fapemig.br/materia.php?id=478






Conto – narração ficcional de reduzidos limites em relação ao romance e a novela, com teores variados: anedótico, espectral, intimista, perverso ou ainda imprecionista.
Extensão / insight (mergulho existencial) características autobiográfico (quase sempre), no conto o pensamento (a introspecção) é mais importante do que as falas e as ações dos personagens.
Caracterizado por meandros das entrelinhas jogo-mostra/esconde
Ambigüidade, ambivalência.
Função – aprendizado contínuo – trata das experiências de outrem como ensinamento ao leitor (interlocutor).
Ambivalência – maior conquista do ficcionismo moderno/pós moderno.
Conto – novela depurada de excessos.
A crítica – burra, caprichos, preconceituosa.
A crítica não é docente, não ensina a ninguém escrever bem.

  •  Regras básicas - Basics rules
  •  Ponto de vista – view point
  •  Traço – trait
  •  Final feliz - Happy End
  •  Conflito da personagem - Conflict of character
  •  Abertura – Opening
  •  Mostrar a ação - To show the action
  •  Diálogo – Dialogue
  •  Cenário – Setting
  •  Tema - theme
  •  Saia rapidamente - Exit quickl

ROMANCE/CONTO

Romance analítico / extensão / elasticidade
Conto - sintético / profundidade / intensidade

Romance como representação da vida
Conto como a representação de um acidente da vida
Conto – monocrômico /arte narrativa
Romance – Sincrônico / figurativa.

HOJE



Hoje estou só no meu silêncio, mas há muito barulho dentro em mim, revejo cenas do acontecido, penso nas conversas antigas, os sentimentos de antes.
Vejo imagens que cansam saudade penso no mento feliz que vivi, será que aproveitei ao máximo essa felicidade? Será que desperdicei algum instante? Sinto falta desse instante agora.
Posso escutar o silêncio das minhas palavras, anseio por novos momentos felizes não sei ao certo se com a mesma pessoa, se impossível for, que seja com outras.
A felicidade é uma condição, um estado de espírito, não se é feliz, se está feliz ou não.
Hoje as formas do silêncio me fazem refletir, olhar para dentro e decidir se quero estar feliz ou não. 

UTOPIA



Eu vivo uma utopia, cercado de alegrias por dentro, monotonia.
Não penso muito na vida, não olho muito a circunstância, mascaro a realidade.
A preocupação só por um instante, logo penso no futuro imediato, o que a vida tem de bom ainda.
O segundo semestre se aproxima e com ele o balanço, a contabilização dos ganhos e perdas, a conclusão do curso, a permanência na empresa, o salário escasso, tudo corrobora para viver a utopia.
A realidade assusta e pensar sobre isso, machuca. A mente logo atina isso também vai passar.
Refletia Silas na cama antes de dormir após a longa jornada de trabalho.


quarta-feira, 24 de agosto de 2011

IDENTIDADE



O meu amor me deixou, levou minha identidade. Não sei mais bem onde estou. Nem onde a realidade. O meu amou me deixou, levou minha identidade, não o documento, mas a constituição do meu ser, meus valores, ideais, minha essência.
Vivia para ele, para agradá-lo. Sentia-me feliz quando fazia-o feliz. Agradava-o com baquetes e carinhos.
Numa manhã de terça, desapareceu. Domingo ligou, mas logo desligou aborrecido com a notícia financeira, depois disso? É o início da história, abandonou-me por completo não sei onde anda, o quer ou faz, não aparece mais, não liga, já não me quer.
Quem sou? Já não sei, minha identidade está nele não sei qual é.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

VOCAÇÃO

Ana não sabia o que fazer desde que o evento ocorreu, ela já não tinha a que se apagar ou acreditar. Nunca esperara nada grandioso da vida, porém nunca pensou que seria vitima de uma tragédia literária como as dos protagonistas de Sófocles. Após anos de sofrimento, fome e dor Ana arruma um emprego de recepcionista numa clínica na área nobre da cidade, é mal remunerada, e tem que trabalhar doze horas diárias. Mas ela não sobe ainda que sua vida poderia ficar pior. Tendo retornado a clínica após a sua folga semanal, é interpelada pelo patrão que a acusa de irresponsável e assassina. É que desde a última sexta-feira, após Ana ter entregado os resultados dos exames a certo paciente ocorreu uma fatalidade, o paciente cometeu o suicídio após constatar sua soropositividade. Agora sua família processava a clinica que errou ao trocar o resultado dos exames na hora da entrega. Ana não entendia como isso foi acontecer, tinha certeza que o erro não era seu, mas resolveu não contestar, acatou a demissão por justa causa. Retornando para casa avistou um bar na esquina e logo pensou qual seria seu novo emprego. Tornou-se cantora e dançarina do Colon, o bar da Rua do Taboão.

VALOR



Gilberto desde menino cresceu ouvindo que na vida tudo tinha um custo.
Ainda não entendia quanto ele mesmo valia, pois o discernimento não repousara na sua consciência de criança.
Quando jovem pôde entender as questões da infância, porque a vida, madrasta cruel lhe cobrava cada centavo da sua existência.
Amigos não tinha, os que o acompanhava eram interesseiros que gostavam de beber as suas custos, festas, presentes, empréstimos todos desfrutavam da benevolência do Gilberto.
Já em estado de falência ao ser abandonada pelos companheiros compreende que a vida se assemelha ao mercado de câmbio da bolsa de valores, onde a instabilidade é sempre uma constante.
Ele, um homem sem recursos, amigos, respeito nem valor.