Quem sou eu

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Salvador, Bahia, Brazil
A língua está em mim, me perpassa, faz parte da minha formação como ser social inserido num grupo. Compõe ainda a minha própria formação acadêmica já que resolvi após o primeiro curso superior (Administração), cursar Letras. Essa língua me representa em todos meus conflitos, pois suas características são iguais as minhas, um ser multifacetado, de exterior sóbrio e estático, mas no íntimo um turbilhão em movimento. Assim como um rio congelado que apresenta a sua superfície estática, mas o seu interior está sempre em movimento, num curso perene. Capacidade de adaptação e compreensão com singularidade e regionalidades tolerantes como próprios à língua. Escrever é para mim, como respirar, sinto essa necessidade e é através da escrita como afirmou Aristóteles que transitamos desde o terror até a piedade de nós mesmos e do outro. Esse ofício da escrita nos eleva, nos projeta, nos ressignifica quando tocamos o outro com as nossas palavras, seja no universo ficcional, biográfico ou autobiográfico. Escrever é uma necessidade, escrever é transpirar no papel as nossas leituras.

sábado, 10 de dezembro de 2016

VIVÊNCIAS



            Se for só isso, terei sido feliz. 
O amor passou e acenou-me com a mão. Corri em carona e deixei-me conduzir.
            A alegria suspirou e senti o êxtase das sublimes emoções. Tentei parar o tempo, 
eternizar o momento. Segui acreditando no percurso da realização.
             Atravessei e continuo seguindo, se foi só isso, terei sido feliz;
Na felicidade do momento; a contento; do aprendiz; aprendendo a ser feliz!


domingo, 31 de julho de 2016

ALIENAÇÃO







                 Segundo Fanon (1951) não basta apenas mudarmos a nossa visão de mundo, para que deixemos de ser alienados, é necessário mudar o mundo. Para o autor a alienação colonial consiste na impossibilidade do indivíduo se constituir enquanto sujeito da sua própria história. Então, se estivermos impossibilitados de reagir à colonização, seremos sempre alienados, ainda que estejamos conscientes de tudo que acontece em torno de nós;(saibamos quem são nossos opositores/adversários).
                  Fanon pensou as consequências dessa  alienação de duas formas: subjetiva e objetiva; o indivíduo negro para ser aceito como humano deveria agir/pensar como os chamados "brancos'. Tal comportamento, segundo o autor, traria consequências objetivas (concretas) e subjetivas (psicológicas). Pois, embora o ser humano seja constituído de razão e emoção, a sociedade ocidental tende a separar a razão da emoção como duas coisas distintas, mais ainda, ao definir o indivíduo como ser humano, a sociedade ocidental afirma que o ser humano é a razão, pondo assim a emoção no campo da natureza, afirmando ainda  que há uma necessidade de controle dessa emoção por considerá-la uma  ameaça a razão.
                   O autor afirma ainda, que no Século XVIII, os Iluministas (europeus) definiram os humanos com base em si mesmo (tendo a si próprio como modelo), trazendo assim uma definição truncada (incompleta) que não contemplava o indivíduo negro, já que essa classificação iluminista englobava apenas o sujeito branco (humanidade)  representado pela razão, (que denotava valores como civilização, religião, cultura, tecnologia e o estado) e o corpo como algo a a ser dominado (domado/domesticado). Fanon chama atenção para as conclusões iluministas: se o branco é tido como humano, e o indivíduo que não é branco? Esse não é considerado tão humano assim.
Logo, para se humanizar o individuo negro teria que se embranquecer, inclusive através  do adestramento do corpo (comportamento, roupas, linguagem e até através das relações afetivas).
               Em sua obra  Pele Negra Máscara Branca, Fanon cita um exemplo intersexual para demonstrar o sofrimento psicológico como consequência subjetiva: "Da parte mais negra de minha alma, através da zona de meias-tintas, me vem este desejo repentino de ser branco. Não quero ser reconhecido como negro, e sim como branco. Ora — e nisto há um reconhecimento que Hegel não descreveu — quem pode proporcioná-lo, senão a branca? Amando-me ela me prova que sou digno de um amor branco. Sou amado como um branco. Sou um branco. Seu amor abre-me o ilustre corredor que conduz à plenitude... Esposo a cultura branca, a beleza branca, a brancura branca. Nestes seios brancos que minhas mãos onipresentes acariciam, é da civilização branca, da dignidade branca que me aproprio." (p.69). Nesse capítulo, o autor demonstra uma das formas do sujeito negro se apropriar da cultura branca através dessa relação amorosa.
               Percebemos assim, o sofrimento psíquico do indivíduo ao perceber-se negro num mundo regido por ideais branco e que não aceita o diferente dos seus padrões. O autor afirma ainda que tem algo que iguala homens e mulheres negros em relação a esse tema, que é: a busca por esse "outro" é mediada pelo racismo num lugar em que o branco é tratado como sinônimo de humanidade. Logo, esse negro, irá tentar ser branco (se apropriar desse embranquecimento) em vários aspectos, a exemplo da literatura, nos hábitos, costumes, porém essa tentativa torna-se limitada porque apesar do desejo de ser branco (agir /viver como branco), ele percebe que continua sendo negro, mesmo que ele acredite que é branco. (sempre será visto como negro).
               Fanon afirma  que algumas pessoas irão perceber que por mais que elas tentem ser negras, (viver e agir de acordo com sua identidade )elas não vão conseguir, outras não. Por outro lado, há ainda aqueles que amaram muito o mundo branco e agora percebem que não são aceitos. Esse amor dedicado ao mundo branco, torna-se-á ódio por tudo que representa esse mundo branco. O autor afirma ainda que esse ódio é bom pois, ajuda a desestabilizar a hegemonia branca. No entanto, ressalta que nenhuma luta política se faz pelo ódio, já que esse sentimento impede a percepção do sujeito sobre  as afinidades entre os indivíduos. Ao enxergarmos o outro como depositário de todas as agressividades (o corpo/ a agressividade/ a barbárie), deixamos de perceber a nós mesmos  como sujeitos do processo. Tentando explicar assim, todos os conflitos como culpa do outro, não identificando  a nossa responsabilidade como ator social (que reproduz os mesmos comportamentos errôneos ), então faz-se necessário superar esse ódio.
                O autor alerta ainda sobre o risco do sujeito negro aceitar essa dicotomia (branco-razão/ negro-emoção)  que o indivíduo branco estabeleceu afirmando que a razão é superior a emoção. Fanon considera perigoso para o indivíduo negro apenas inverter essa noção/conceito, pois o negro continuaria sendo emoção e o branco razão, no entanto, a emoção seria valorizada em detrimento da razão. O autor chama atenção para os debates sobre identidade, afirmando que tais debates só são produtivos se valorizarmos nossa identidade sem desvalorizar a identidade do outro.
                 Portanto concluímos que, para Fanon a luta não é identitária, nem pela preservação da cultura,  mas pela libertação do indivíduo e pela possibilidade do ser humano ressignificar  essa cultura.

sábado, 27 de fevereiro de 2016

ENTRE DOIS.





        Retornou, retrucou, redarguiu! Eram dois, eram um, eram depois. Depois de tudo nada havia, apenas  mentiras e agonia.
        Razões razoáveis aplicadas na razão de dois. Um vitimizava-se,  outro exorava para si a verdade. Achava-se preterido, rejeitado, fora defenestrado para fora da vida a dois.
        Inconformado não soubera perdoar, entender, relevar nem compreender. Emudeceu! E diante do silêncio encarava respostas. Retornar não poderia, nem mesmo sem ter concluído o objetivo, já seria muito tarde. 
        Revestiu-se da solidão  e retomando a caminhada, suspirou: - "agora somos um em busca do dois." 

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

BOURDIEU E O SISTEMA ESCOLAR










        Segundo Bourdieu (1970) o sistema escolar não vai igualar as oportunidades ou dar cultura a todos mas pode, no entanto, não reforçar a desigualdade.
        Dentre suas inúmeras contribuições está, de certo, essa de mostrar que, se a escola agrava, por assim dizer, as desigualdades que tem origem nas posições ocupadas pelos indivíduos no espaço social, ela o faz, justamente por privilegiar a cultura dominante, ao valorizar relações com os conhecimentos associados aos padrões de elite, ao construir e favorecer modos de avaliação cujos critérios também repousou sobre distinções sociais.
       Atualmente o Ministério da Educação está desenvolvendo a Base Nacional Comum Curricular com o intuito de igualar  o currículo no sistema pedagógico. Sistema é o conjunto  de vários elementos intencionalmente reunidos de modo a formar uma estrutura coerente  e operante. O sistema pedagógico (ou educacional) é o conjunto das instituições por meio das quais uma sociedade procura conscientemente e, principalmente, pela palavra, formar as ideias, os sentimentos, etc. (construção do indivíduo)
       Desde cedo, na obra de Bourdieu, a escola é tida como instância conservadora e a pedagogia como conjunto de procedimentos que podem agravar as diferenças sociais vividas na cultura escolar como diferenças de capacidades ou de aptidões, de "inteligência" ou de  "dons". Ele pensava que apenas uma "pedagogia racional" poderia neutralizar essa ação de intensificação das desigualdades no interior  do sistema escolar e, assim mesmo, apenas aliadas a uma vontade política de dar a todos oportunidades iguais perante o ensino. Essa pedagogia deveria ser fundada sobre uma sociologia das desigualdades culturais.
      A base nacional comum curricular torna-se um desafio uma vez que, os sistemas de ensino implica uma pluralidade de organizações públicas e particulares, um conjunto mais ou menos complexo de unidades escolares de natureza  e níveis diferentes superpostos, hierarquizados e ligados entre si por uma relação de coordenação e subordinação. Na sua estrutura e desenvolvimento há diferentes influências histórico-sociais. Na sua organização refletem os interesses das classes dominantes e as diversas demanda dessas classes.
      De acordo com Bourdieu exatamente porque conhecemos as leis da reprodução- as formas pelas quais ela se efetiva- é que passamos a ter alguma possibilidade de minimizar os efeitos da ação reprodutora da instituição escolar. Bourdieu analisa a ação pedagógica como ação de violência simbólica, isto é, de inculcação de significações e  de legitimação dessas mesmas distinções. Eles desentranham  das situações de ensino das formas pelas quais tal violência é exercida pelos agentes pedagógicos devidamente autorizados na instituição.
      Assim é que, para dar conta das especificidades do sistema educacional, são examinadas as diversas relações que se concretizam na instituição escolar entre o capital cultural dos indivíduos e os modos de viver a comunicação pedagógica, os discursos dos professores e as formas de compreensão dos alunos, o papel dos exames e os modos de selecionar os que podem ascender socialmente pela educação.
       Portanto é perceptível um estreito diálogo entre a base nacional curricular proposta pelo Ministério da Educação e as ideias de Bourdieu que ao gerar cuidadosa análise das formas pelas quais a escola concretiza no cotidiano, sua função reprodutora das relações de dominação vigentes na sociedade, Ele sustentou uma alternativa bastante peculiar de "cúmplice da utopia" propondo o trabalho de desvelar os modos ocultos da produção da violência da dominação ou da injustiça. Dentre as conceituações para a explicação de Bourdieu acerca da educação está a de capital cultural. Assim como o capital econômico e o capital social que é constituído por redes de relações e prestígio, o capital cultural também contribui para situar os agentes em posições definidas no espaço social.
      O capital cultural identifica-se sob a forma de conhecimentos e habilidades adquiridos quer na família, quer na escola. Desse modo , o capital cultural aparece como um conjunto de prioridades adquiridas pelos indivíduos que se consubstanciam sob três formas a começar por um estado incorporado- como disposições duráveis do organismo, um trabalho do indivíduo sobre si mesmo, como um "cultivar-se" que traduz o tempo investido na aquisição de modos potenciais de ação. Já o estado objetivado do capital cultural refere-se a um certo número de prioridades definidas apenas em relação ao capital cultural incorporado e que podem associar-se aos suportes materiais (escritos e quadros, por exemplo). Entretanto mesmo sendo transmissíveis como o capital econômico, na verdade dependem do capital cultural incorporado para que possam ser desfrutados.
      Além desses estados, Bourdieu indica igualmente a existência de outra dimensão, a do capital cultural institucionalizado e exemplifica através dos diplomas que, como "certidões de competência cultural ", conferem aos seus portadores um valor constante, convencionado e garantido com relação à cultura. Esse certificado é como se fosse um reconhecimento institucional do capital cultural do indivíduo e permite tanto que se compare aos "diplomados" quanto que se estabeleçam valores ou taxas de conversão entre o capital cultural e o capital econômico.
     Quer isso dizer que os diplomas estabelecem valores para seus detentores e valores em dinheiro, que podem ser trocados no mercado de trabalho.