Quem sou eu

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Salvador, Bahia, Brazil
A língua está em mim, me perpassa, faz parte da minha formação como ser social inserido num grupo. Compõe ainda a minha própria formação acadêmica já que resolvi após o primeiro curso superior (Administração), cursar Letras. Essa língua me representa em todos meus conflitos, pois suas características são iguais as minhas, um ser multifacetado, de exterior sóbrio e estático, mas no íntimo um turbilhão em movimento. Assim como um rio congelado que apresenta a sua superfície estática, mas o seu interior está sempre em movimento, num curso perene. Capacidade de adaptação e compreensão com singularidade e regionalidades tolerantes como próprios à língua. Escrever é para mim, como respirar, sinto essa necessidade e é através da escrita como afirmou Aristóteles que transitamos desde o terror até a piedade de nós mesmos e do outro. Esse ofício da escrita nos eleva, nos projeta, nos ressignifica quando tocamos o outro com as nossas palavras, seja no universo ficcional, biográfico ou autobiográfico. Escrever é uma necessidade, escrever é transpirar no papel as nossas leituras.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

O AMANTE


A mulher do marinheiro, achava tê-lo por inteiro até que num dado momento se deparou com o seu  tormento, ser trocada por outro. Na verdade não houve troca, se o fuzileiro mantinha relação com os dois, cada um a seu tempo e de um jeito. Ela tomada pela ira, ao descobrir a traição, liga para o amante do seu marido e exige que ele pare de ligar. O amante sabendo do sentimento que nutria pelo marinheiro e não querendo prejudicá-lo, responde à mulher furiosa: com certeza trata-se de um equivoco! Pondo um fim ao relacionamento de anos.

A BUSCA



Procura-se: homem bonito, sincero, fiel, trabalhador e sério.
Homem maduro procura: mulher nova, independente, leal para compromisso sério.
Sua semana se iniciava assim, lendo os classificados em busca de respostas para sua vida. Por longos anos se habituara a essa rotina na esperança de atingir o seu objetivo; o casamento.
 Sua idade não permitira se aventurar pela noite carioca, era Balzaquiana, optara pelos classificados, achava mais discreto e seguro. Porém a espera a cansava. Decidiu então reduzir o nível de exigências.
Procura-se companhia para convívio estável. Após meses de espera e já desiludida, certa noite o telefone toca, após atender e marcar no boteco ao lado da sua casa, enfim o encontro. Duas horas mais tarde os dois corações desconhecidos e apaixonados estão sob os lenções na cama.
Após a conexão amorosa, Rebeca percebe que pós-fim a sua busca nos braços de Rosana.




quinta-feira, 28 de julho de 2011

DESILUSÃO



Queria ter uma pedra no lugar do coração para não me apaixonar, e não sofrer na desilusão.
Quando as pessoas chegam, nunca dizem o que pretendem, por isso nosso coração abraça-as e depois quando elas se afastam, ou não correspondem às nossas expectativas, ele não consegue liberá-las tão facilmente, assim como agarrou-as inicialmente.
O beijo aproxima o corpo e une a alma e a desilusão expurga a alma do outro de dentro da nossa, e essa separação machuca o nosso coração. Se o coração fosse pedra então, difícil seria penetrá-lo e impossível magoá-lo.
Talvez seja por isso que o poetinha escreveu que a vida é a arte do encontro, embora haja tantos desencontros pela vida.

INSENSATEZ


- E então, não vai sugar o sangue gelado e estático do corpo dela?
Esse discurso reverberava dentro de si desde que o ouvira. Apesar de ser letrado graduado e bilíngue, era cego.
Digo isso porque só enxergava o seu próprio umbigo, como dizia os matutos.
Sempre fora aproveitador barato de todos ao seu derredor, a sua mãe era mais um dos exemplos disso. Vivera com ela até os trinta anos e quando arrumou uma rapariga e a trouxe para casa da mãe que morava de aluguel. Sua mãe suava para pagar a dívida mensal sem ajuda dele que era o 2º filho dos três que tivera e mais o frio, cruel e ambicioso.
Acontece que quando finalmente sai de casa, prospera adquirindo vários imóveis, se recusa a ajudar a mãe que sofre com reumatismo agudo e ainda trabalha para se sustentar aos 59 anos. Quando questionado sobre o descaso com a mãe, argumenta: que não quer ajudar indiretamente o sobrinho que é seu desafeto, filho de sua irmã mais velha que ele odeia com ódio mortal.
Agora deseja viajar com sua amante para o Ceará e implorava a mãe que ficasse com seu filho para não ter que levá-lo para viagem, a mãe bondosa ou estúpida, aceita reticente, mas não pode fazê-lo, pois teria que deixar de trabalhar para ficar com o neto.
E as contas como pagaria? Como pagaria o aluguel de 360 reais, a luz de 89,00 como compraria o gás e os víveres? Para o filho nada importava senão ter seu desejo atendido.
Ao encontrar a mãe caída no local de trabalho, em decúbito dorsal, pensa o que farei agora? Na sua face não há o sinal da dor ou da perda, apenas a face indiferente.
Resolve então ligar para o irmão que lhe atende com a resposta desagradável aos seus ouvidos, pois essa lhe adjetiva comparando-o ao vampiro.




quarta-feira, 27 de julho de 2011

CONSCIÊNCIA DO AMOR



Nascimento: quarto rosa, roupas delicadas, regras e etiquetas, bonecas, casinhas, desejo de ser professora, anseio por casamento, príncipe encantado, cavalo branco, castelo, amor, felizes para sempre.
Era diferente, nunca quisera nada disso, os pais sonhavam por ela, ditavam as regras, faziam previsões: Elisa professora.
Ela não entendia, não aceitava, não tinha o casamento como um sonho de consumo. Não cabia naquela forma desenvolvida pelos pais crescera indiferente a tudo e a todos a sua volta. Seguiu seu próprio caminho, formou-se em Medicina, morava só, vivera sempre acompanhada da sua melhor amiga da faculdade, a Laura. Essa compartilhava seu destino solteira e independente, adorava passar as tardes na companhia da Elisa, no cinema, no Teatro, no parque. A vida aproximara um amor que nunca contado nos contos de fadas e nem poderia, por se tratar da realidade da vida, sem previsões de outrem.
Nada de planos, nem moldes, apenas a consciência do amor.

MULHER NO AVESSO




Ela olha para seu interior na busca de encontrar sua significância. Olha novamente, insiste nesse exercício. Na sua introspecção percebe sua insignificância diante de um universo macro.
Seu interior um emaranhado de sentimentos, composto de fragmentos de almas.
Almas. Amores antigos, amores perdidos. Desilusões que colecionara na construção desse mosaico que agora é sua essência.
Identifica-se com o vazio, o não, lhe é familiar, nunca fora amiga do sim. A vida sempre lhe aproximou da dor e do descaso. Aprendera muito cedo que o instante é tudo, isso porque tudo o que tivera sempre foi efêmero, curto demais para pensar sobre, viver o momento,  era  para ela, fundamental. O amanhã ficava para depois aproveitar a emoção diária era sua preocupação, o mais fica para depois.

A CONCUBINA DA DOR



A angústia circulava na sua corrente sanguínea. A solidão ocupava a sua mente. Nos olhos o reflexo da dor, sua companhia sempre fora o abandono. Estudava pela noite, trabalhava durante o dia, lutava contra os dias da semana e os vencia dia após dia. A angústia que corria nas suas veias era devido ao anseio pelo matrimonio, fora abandonada sete vezes no altar e na última vez o pretendente fugira com os trocados que juntara durante os cinco anos de trabalho e que reservara para adquirir os móveis da casa.
Agora não esperava nada da vida, odiava todos os homens, pensou em se relacionar com mulher, mas logo desistiu, elas não poderão me satisfazer. Então, dissera para si mesma: - Prefiro morrer assim: desposada pela angustia no prazer da solidão e no êxtase da dor.

terça-feira, 26 de julho de 2011

O SABER




No ano da formatura, ela achava-se irrequieta, nada a agradava, tudo a irritava, partilhava um sentimento estranho de realização e vazio ao mesmo tempo.
O recebimento do diploma não lhe trouxera felicidade, sentia-se inútil num mundo Burguês. Provara o conhecimento desse grupo e agora tornara-se como eles, a Burguesia esclarecida, podre de escrúpulos, mercenária, materialista, trocara a sua sensibilidade pelos títulos acadêmicos. Percebia-se traidora de si . Agora entendia a lacuna que perpassa a vida dos catedráticos e as várias tarefas ocupadas por eles a fim de preencher essa ausência de sentido presente à sua existência.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

SEGREDOS



O coração congelava sempre que o via seu comportamento se alterava sentimentos conflitantes: ódio, amor, raiva e desejo.
A sensação de ser desprezado pelo outro que nem mesmo o conhecia, não parava de crescer dentro dele.
Procurava sempre um jeito de chamar-lhe a atenção. Não se conheciam, nunca se falaram, mas existia entre eles um desconforto, o que alguns chamam de antipatia a primeira vista.
Um, mauricinho, bem nascido, os pais possuíam posses e lhe proporcionaram boa vida, apesar de que ele não aproveitava as oportunidades, vivia dissolutamente.
O outro, mauricinho, pobre, os pais falidos e separados, não podiam lhe sustentar, ele trabalhava e estudava, era brilhante. Gostava de luxo, e elegância, a ninguém transparecia a sua penúria, menos ainda ao seu rival e amado. Para quem aparecia sempre em destaque bem arrumado e com cara de felicidade, apesar de por dentro estar em pedaços, vazio de afetos e cheio de preocupação com o futuro instável e assustador.

ROTINA


Às 03h50minh despertador toca, levanta-se sonolento, escova os dentes, veste-se e inicia o alongamento. Às 04h15minh sai. Faz o percurso de 4 km, no caminho entre sua casa e a saída do bairro histórico em que mora, a cada passada sua mente sonha, fantasia, irrompe em pensamentos mil, a felicidade, o companheiro adorável, a promessa de prosperidade e paz que ouvira de uma mulher de oração em uma reunião gospel há anos atrás, talvez 2000 ou 2001 não se lembra o certo. Quanto mais seu corpo se movimenta sua mente sonha ao contemplar a paisagem verde do bairro urbanizado. Seu cérebro libera no seu organismo o hormônio da satisfação e bem estar responsável por combater o estresse físico e mental a endorfinas. Imagina-se belo, forte, atlético, viril, em outros tempos sonhara com a passarela da moda e os grandes desfiles. Inspirava-se quando assistindo aos eventos da alta costura via os modelos famosos, inclusive o seu preferido: Paulo Zulu.
Fim do trajeto diante das escadas da sua casa abre a porta, toma água, deitado no chão do quarto faz 120 abdominais para encerrar os exercícios diários. De volta à realidade toma banho, arruma-se para ir à faculdade, a aula começa às 07h00minh e precisa sair cedo, pegar o ônibus lotado se quiser chegar a tempo.
Amanhã quando levantar, irá retomar os seus sonhos e projetos, alimentando a esperança de um dia realiza-los.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

AS AVENTURAS DE UM BANHISTA INUSITADO



Sempre fora destaque nos esportes, exibido, atrevido, desafiava a todos no vôlei, futebol, tênis e no atletismo.
No clube, passava o dia na quadra de tênis ou a beira da piscina pegando sol. Os pés estavam sempre tocando a água, e quando convidado para dar um mergulho, desculpava-se dizendo que o cloro fazia mal à sua pele e ao seu cabelo.
Certo dia após ter atendido ao seu anseio consumista, tendo passado no Shopping, adquirido novas roupas entre elas uma sunga, resolvera ir à praia. Em lá chegando observava tudo à sua volta e percebia que aquilo era diferente do clube que freqüentava. Ali tudo parecia mais real, mais natural, vislumbrado pelas ondas do mar e pelas pessoas que se divertiam nadando, inclusive as crianças. Resolveu dar um mergulho, afinal que mal poderia haver naquela água que ia e vinha molhando a areia, convidando-o a se entregar nos seus braços espumantes?
Num movimento abrupto, põe-se de pé e logo está lá, dentro do mar. Agora percebera que se afastara demais da paria e lembrara-se que não sabia nadar. A aflição, a vergonha, o medo de reconhecer que não era o atleta perfeito que todos consideravam devido às suas gabolices. Então surge o ódio, ódio do mundo, de todos que sabiam nadar e se exibiam por isso.
Desesperado e com vergonha de sinalizar ao salva-vidas, olhava ao redor na esperança de alguém o socorrer, ou o mar devolvê-lo à praia numa onda. Agora entendia que as pessoas valiam mais do que ele sempre as considerava.
Percebendo a agitação do mar, e que submergia a cada minuto, grita desesperado: socorro, socorro! Em um piscar de olhos os salvas-vidas entram em ação.
Ao chegar na praia, era um novo homem, seu orgulho e altivez fragmentados faziam parte de um mosaico que ainda iria tecer, num futuro inglório.

SENTIMENTO A SÓS



As palavras que ansiamos, quando chegam, recusamos. Queremos ouvir o “eu te amo”, mas quando tais palavras chegam até nós, nos sentimos vilipendiados.
Você saberia o que significa uma frase vazia se a escutasse da pessoa amada. Saberia que o interesse mercenário fere o outro quando esse ama verdadeiramente.
A sua dedicação desvelada, abnegação incondicional se transforma em frustação, quando constatamos que nada temos em troca.
Aprendemos que o amor é caracterizado por desprendimento e renuncia. Porém esse sentimento nos envenena se não é alimentado pela chama de reciprocidade do outro.
Amar sozinho não é amar, é sofrer, chorar, morrer.

OMISSÃO



Não diria que fosse infeliz. Mas era uma provocação à indiferença do mundo. O coração sofrido já tinha alcançado o limite das emoções tristes.
A alta estima só por tenacidade ainda servia para cobrir a alma magra. Imagem da infelicidade admitida e permitida. Conivência responsável, quem somos nós que fingimos não ver o diferente, a diversidade? Não, ele não era um infeliz, nunca tinha mendigado amor. Embora a solidão gritasse do rosto danificado. Quem somos nós que não temos tempo para amar aquele homem? Caminhando permanecido sob a alma remendada. Abraçado a um fio de esperança.

SUPERMAN



Nascera no dia 12 de fevereiro do ano de 1989, não sabia ainda, mas o acontecimento desse dia influenciaria para sempre na vida esportiva. Digo isso, porque nesse ano, por conta do atraso do campeonato Brasileiro, a disputa da final foi postergada para essa data.
Seu pai que levava seu próprio nome preferiu ir a pé até a Fonte Nova, local onde, seria disputado a final, o Estádio Octávio Mangabeira, isso por causa da greve dos rodoviários que já ocorria há uma semana. A mãe se encontrava, internada a espera do segundo filho e reclamava a ausência do marido que optou pela ansiedade da arquibancada do estádio a da sala de espera da maternidade.
No entanto para a felicidade de todos o time venceu o campeonato conquistando seu 2º título Brasileiro e seu pai feliz com a conquista foi visitar seu mascote na maternidade após o jogo com um belo presente: a camisa do Esporte Clube Bahia.
Desde então o pequeno cresceu e, apesar de nunca ter visto o seu time ganhar um campeonato, acredita que fez a escolha certa, ao ter nascido no dia da conquista do Campeonato, trazendo sorte à torcida tricolor.

PESQUISADOR



Pietro engenheiro civil, funcionário de uma multinacional, está insatisfeito.
Quando criança, sempre acreditava que era super inteligente, sabia muito por que lia bastante, seus irmãos mais velhos, principalmente seu irmão (machista, bruto, rude, metido a sabichão) contestava tudo que o menino prodígio falava ou contava com ar de pesquisador que entrega ao mundo a mais nova descoberta da ciência.
Na adolescência os boatos se confirmaram o nosso garoto se destacara em todas as disciplinas e atividades esportivas o que causava inveja aos irmãos, além do que a mãe amava mais o caçula e não era por causa da sua genialidade.
Passou no vestibular das duas melhores Instituições de ensino do seu Estado, ambas eram Federais e tudo isso sem curso preparatório. Porém logo percebera que na Academia havia intelectos maiores do que o dele, e que talvez nem fosse esse gênio que todos acreditavam.
Cálculo foi o seu algoz, sofrera os piores momentos nos dois semestres em que essa disciplina lhe acompanhou isso por que repetira a disciplina. Até as aulas de direção na autoescola Veja foi prejudicada, pois tivera um mau desempenho devido ao estresse do semestre ruim, com final de cálculo e a decepção da reprovação.
Seu rosto refletia sua condição de estresse, a pele rompera em acnes que lhes já não era própria da idade, pois tinha 28 anos.
Hoje essa fase teve fim, ele aprendeu que ser brilhante é jamais desistir do que deseja mesmo que não possua a sabedoria do Oráculo de Delfos.
Agora Pietro continua estudando, tem se destacado nas disciplinas do seu segundo curso que, aliás, não têm cálculo como disciplinas, mas tem um tal projeto de pesquisa que lhe tem tirado o sono, o medo e a apreensão lhe acompanham, mas ele sabe que pode desenvolver esse projeto, trabalhar no Jornal ATarde, e passar na prova de inglês da seleção do mestrado.
Tudo isso por que aquele cientista mirim que sempre existiu dentro dele lhe diz que a persistência e a dedicação são o combustível para o sucesso.

SENSAÇÕES





Livre-arbítrio:
s. m.
Faculdade da vontade para se determinar, faculdade de autodeterminação, atribuída ao ser humano.

Será? Porque então sou guiado pelo meu olfato? porque desejo tudo que percebo pelo cheiro? perfumes, manjares, doces, frutas e até roupas e livros.
Ou nunca perceberam que as lojas de roupas e as livrarias exalam odores? as roupas possuem cheiro do desejo de consumo, da beleza, da satisfação de estar bem composto. As livrarias odor de livro novo, de conhecimento, de curiosidade. Ah! Como exercer o livre arbítrio se nosso olfato nos oprime? Dizem até que nossos relacionamentos afetivos são determinados por feromônios captados pelo cérebro através do olfato.
Percebe-se, então, a incoerência dos sentimentos, são guiados por instintos naturais, nunca pela razão.

O BEIJO




Uniram-se como um imã, num pequeno instante duas vidas diferentes estavam em completa harmonia de sentimento.
Parece que por intuição ambos sabiam que suas almas se desejavam, apesar de negarem aquele desejo com suas atitudes. Ela era comprometida, mulher casada e mais velha. Ele, um menino, ainda confuso com as coisas da vida.
Ele a desejava e a possuía nos seus sonhos e nas suas visões. Ela intrigava-se com a sua juventude e beleza, desejava sorver aquela essência que exalava dos seus lábios.
Certa noite, uma visita ao quarto do jovem, um cuidado maternal tornou-se gesto passional. O beijo. A satisfação de beijá-lo ainda que dormindo.
Logo após arrependimento, medo e repulsa. Não desejava mais vê-lo, evitava-o, queria esquecer o ocorrido.

A AVENTURA DE UMA BANHISTA




A Senhora Isotta, mulher pudica, recatada, vivia para o marido. Nunca, jamais ousou imaginar que sua rotina perfeita poderia se alterada.
Um dia, uma loja, um maiô, uma praia. O despertar de sentimentos há muito tempo adormecidos. A descoberta do mundo, a vontade de ser desejada e satisfazer esses desejos ilícitos e libidinosos dos homens.
De repente deparou-se com a moral que insistia em dizer-lhe que estava sempre errada em tudo que fazia: como calar essa voz enraizada no seu próprio gênesis? Como libertar-se num êxodo que levaria a ser outra melhor, livre de valores pré estabelecidos por uma sociedade alienante?
Pensa silenciosa, o que mais preciso agora é sair dessa situação vexatória.

REGRESSO


Estar ali era difícil, olhava a paisagem, o clima frio, o meu cansaço dos dias da viagem repercutiram no corpo.
Agora só restava aquela cena, o vazio do desbravador que ao chegar ao termo da sua viagem nada encontra. O que lhe restará? Os sapatos gastos, as meias sujas e os pés cansados.
Meus pensamentos fervilhavam dentro de mim, como um fantasma, uma imagem fantasmagórica que me observava na minha inutilidade de conquistador inútil, sem conquistas alcançadas.
Porém a cada amanhecer, senta-me revigorado. A imagem do fantasma desaparecia e como a Fênix ressurgindo das cinzas, minha esperança, meu desejo pelo novo, pelo desconhecido, pela aurora da vida fazia-me continuar, romper o ovo e sair em busca do desconhecido mundo das possibilidades.
No entanto, sabia que essas possibilidades poderiam não ocorrer ao certo, pois seu nome já deixava claro: eram apenas possibilidades. E a noite a imagem fantasmagórica reaparecia levando-me a ponderar sobre as conquistas e os fracassos.
Agora buscava compreensão para tudo que experimentara nessas viagens, tudo que vira; tudo que sentira. Seu maior desejo era retornar, estar em casa, quieto, como quem está no seu próprio íntimo, a sós com sua nudez.
O regresso parecia uma viagem eterna, a figura de uma Deusa me observava no horizonte que parecia se afastar a cada avanço da embarcação que seguia seu curso tranquilamente. Às vezes tinha a impressão que a figura da mulher desaparecia ou se transmutava em ilhas, pedras ou barcos.
Quando desembarquei, ao pisar em terra firme tive a sensação de nunca ter partido; as torres da cidade figuravam troféus, como se pretendessem homenagear aquele cavaleiro das águas.

ABANDONO



Em certas circunstâncias sentia-se abandonado, como as outras pessoas, local estranho turma nova, novo emprego, bairro novo. Mas o sentimento de abandono que sentia o acompanhava desde tenra idade, talvez sua origem estivesse na separação dos pais, não se pode precisar.
Seus envolvimentos amorosos eram sempre por conveniência dos seus parceiros, e logo depois disso venha o abandono.
O vazio preenchia todo o seu ser, se fosse possível um mergulho introspectivo nada encontraria naquele eco de ausência de afetividade.
Passava o tempo enganando sua alma, se aproximava de amigos diversos, conquistava-os, premiava-os convencia-os e logo depois eles o abandonavam.
Acreditava, insistia, cria. Ainda encontrarei alguém que me ame, sem buscar premiações e vantagens financeiras.

VAMPIRO



Aparecia todo mês, sempre duas vezes, duas visitas precisas, nestas lhe sugava um pouco da sua vitalidade.
Tudo que sua força produzira, a essência do seu ser, o seu suor que irrigava a terra e produzia frutos para o capitalismo era sugado veementemente.
Estava sempre em dívida. Quando oferecia sua oferta de sacrifício, pensava quando irei liberta-me desse mal eterno?
Dia 10 de cada mês, ele estava lá, o credor, o proprietário para receber o aluguel e mais tarde retornaria dia 15 para buscar a conta de energia que deveria estar quitada.

O COMBUSTÍVEL DA VIDA


A esperança ainda suspirava, as promessas já feneciam e o coração sangrava por inteiro. Sabia que por mais que tentasse nunca obteria o que sempre sonhara, o afeto do outro.
Sua felicidade seria sempre momentânea, quando suprisse os desejos do outro, e esse sorrisse feliz em agradecimento.
Porém nunca seria amado como desejava seria apenas a última companhia a ser requisitada, mas afinal, porque se submetia a essa condição? Porque fantasiava não acertando a realidade que sempre fora a sua única amiga? Por quê?
Dizia sempre a si mesmo: Quando paramos de sonhar, morremos.

SOLIDÃO A DOIS



Vazio, era a sensação que ficava quando o outro ia embora, suas visitas eram cronometradas e propositais.
Não sei se ele percebia que eu estava ciente e não me enganava, enxergava a sua ambição e o seu interesse maquiados de amor.
Suas últimas visitas eram acompanhadas de amigos, para evitar contatos, ou denunciar seu romance secreto. Sabia que outro não iria se expor, nem cobrar nada na frente dos amigos.
Assim, aproveitava o conforto o banquete, o dinheiro, exibia-se diante de todos: “sou o amante inveterado, todos me desejam”.
Porém esquecia-se de alimentar aquela chama, o amor que o outro lhe dedicava, antes a cada dia, fazia extinguir o sentimento.

A BUSCA




Queria poder para tornar o instante eterno queria poder para retornar aos melhores momentos, queria eternizar o sorriso e minimizar as dores.
Amar, amar é sempre doar-se, sim porque quando amamos, estamos dando da nossa essência para outrem. Mas e o vazio? Ele sempre se perguntava, porque sinto esse vazio, se amo intensamente?
Logo aprenderia que quando amamos existe o vazio, porque o tempo todo estamos dando a nossa força, o nosso sentimento, e se não houver retorno nessa doação, ou se essa recíproca não for suficientemente mútua, resta-nos um espaço carente e característico o qual chamamos vazio.
Ele tentava, tentava, tentava preencher de alguma forma, e com algo, esse vazio, seja com o ritmo frenético de trabalho o qual se submetia, seja com vários outros relacionamentos, todos onerosos para o bolso e para a alma, essa que ao final estava sempre deprimida, mas estava sempre lá no marco inicial: amando intensamente, mesmo sabendo em um dado momento perceberia o vazio novamente.

INSENSÍVEL



Vivia sendo agradado por todos, as namorados, os amantes, só se queixava dos pais, em especial da mãe que o criticava o tempo todo, não conseguiam estabelecer um diálogo sem que houvesse uma briga, uma discussão.
Talvez fosse isso, a mãe projetava nele o ódio que nutria pelo seu pai, que fazia sofrer por longos anos.
Ele jovem 21 para 22 anos saíra cafajeste como pai, habituado a vida promíscua mantinha múltiplos relacionamentos por sexo, por dinheiro, nunca por amor ou por afeto.
Sua atitude sempre interesseira, só adequava seu discurso quando queria obter algo dos seus parceiros, era insensível, nunca prestava atenção nos outros ou se interessava pela vida ou problemas dos seus parceiros, o que lhe interessava sempre era o dinheiro.
Mas por que afinal nos dispomos a isso? O que nos leva a sustentar um relacionamento que não nos supre afetivamente que nos exaurem as forças como Selene Rainha Negra do Clube do inferno que sorvia a vida das suas vitimas, para manter a sua beleza e jovialidade eterna.
Como aceitar um relacionamento, sustentado na felicidade de um só. A fantasia do convívio e do relacionamento só existe na mente de um, que vê o outro como seu amante e parceiro, mas o outro vê apenas suas vantagens obtidas pela dedicação exclusiva do seu amante que sofre para agradá-lo um tudo, na esperança de que algum dia esse cara insensível se volte para ele e tente uma atitude de afeto, de carinho, de amor, de gratidão.
Sua fisionomia não transparecia sua dor, mas alegria ao revê-lo ou reencontrá-lo. Fazia lanches e festas, preparava tudo de forma confortável para esse amante insensível que nunca se preocupava em ver além das aparências, além daquilo que lhe era apresentado na face do seu dedicado parceiro.
Difícil é crer que lá no fundo, no intimo, aquele ser insensível não se apercebesse do mal que causava a todos que diziam lhe amar sua indiferença disfarçada de relacionamento era como veneno que mata lentamente sem que a vítima sofra de imediato.
O que ele causava nas pessoas? Um misto de êxtase, desejo e dor. Não é possível explicar ao certo só quem vivenciou esse sentimento é capaz de fazer inferências ou entender essas palavras.

ROMANCE


O sentimento se transforma dentro em mim, às vezes nem mesmo sei o que sinto. Quero abraçá-lo,
tê-lo perto a mim, amá-lo. Porém quando ele está junto a mim o encantamento fenece. Já não compreendo o que sinto. Espero seus carinhos, gratidão, porém ele traduz o seu sentimento apenas com um olhar de aprovação. Quando está bem humorado, brinca chama-me por nomes carinhosos, inventa e interpreta o romance.
Assim era o relacionamento de Pietro e Alejandro a fantasia só existia na vida do primeiro que esperava o amor do Conto de Fadas enquanto o segundo vivia a vida loucamente, na adrenalina do momento aproveitando cada dia como se morresse amanhã.

SINAIS




O relevo era acentuado, o tempo desenhara naquela superfície formas e linha que jamais iriam se apagar.
Não se dera conta de como tantos sinais foi lhe aparecendo, pois não tinha muito tempo para observar a sua imagem refletida no espelho. Vivia para o trabalho e para o amanhã, sempre atarefada para cumprir as suas obrigações financeiras. Não aceitava nem os dias de folga, sua motivação era o trabalho sempre sonhando conquistar tudo que a vida lhe tirara de forma abrupta, a casa, o casamento, e união dos filhos.
Esses se apoiavam nela que era a coluna principal da constituição familiar. Os filhos temiam a morte da mãe, pois sabiam que nada herdariam, senão a tenacidade da sua progenitora que mesmo doente se recusava parar de trabalhar.
Dessa forma iam aproveitando a vida sem muito esforço e não se importavam com a vida da mãe, só com a morte, pois essa desestabilizaria-os tirando-os do lugar de conforto, da inércia da preguiça forçando-os a assumirem as suas próprias responsabilidades.

INÉRCIA




Nasceu de parto normal, no tempo certo nove meses, dizem que não era esperado pelos pais, nem fora planejado. Talvez por isso, sua formação psicológica-emocional possuía essas singularidades.
Nunca pôde brincar, passear, ficar de bobeira. Sua vida sempre fora tensa. Essa tensão se deve a grande apreensão que vivera durante todos os dias. Essa tensão era por causa da carência de recursos financeiros, viviam na mais extrema penúria. A casa de três vãos: sala vazia com uma tv antiga que funcionava sazonalmente, um quarto com beliches velhos e a cozinha com uma mesa antiga e um fogão apenas. O banheiro era rudimentar: um vaso sanitário e um tubo por onde saía à água para o banho.
Amadurecera cedo demais, isso porque a mãe o expunha aos problemas financeiros da família e a sua companheira indivorciável: a fome. Não possuía emoções afloradas, nunca se emocionava grandemente, nem de forma pequena.
A família sempre o culpava por isso, ele achava uma injustiça, já que não se pode controlar os sentimentos também acreditava que expôs os sentimentos, era doloroso demais e sinal de fraqueza.
Nem quando sua irmã morreu se emocionou. Apenas afirmou, quando fora censurado pela mãe; infelizmente, não tenho tempo para choros, tenho que trabalhar estudar, e conquistar um futuro melhor. Dizia isso por que acreditava que lamentos era perda de tempo e energia, e a vida era bem mais que isso, a vida para ele seria trabalho, conhecimento e movimento. A inércia de um velório o assustava.

AMAR DEVIA SER PROIBIDO



Afinal quando o amor é equacionado em medida de igualdade para ambos os amantes? Quando sabemos que estamos sendo amados verdadeiramente? Como não saber se o sentimento do outro é movido pelos presentes, agrados, favores, vantagens?
Explicar não podemos, mas quando percebemos que o amor do outro para conosco é tão grande a ponto de pedir prova de abnegação do nosso ciúme, passamos a desconfiar, e nos perguntar: será que ele não percebe que isso é demais para mim? Me liga a cobrar para pedir-me que ligue para a sua amante e avise o ponto de encontro de hoje, pois ele se atrasou e ao chegar no lugar combinado ela já havia passado com o carro, e não avistando ninguém foi embora, pensando ter levado um bolo.
A grande dúvida é: ele me ama de uma maneira singular e mantém seus relacionamentos abertos ao meu conhecimento ou ele não me ama, apenas aproveita as vantagens do meu amor por ele?
Alguns diriam que isso é desrespeito, outros que seria reflexos da modernização nos campos das ciências sociais, Ele, no entanto, apenas a sua célebre frase: “Eu já lhe disse que você não pode se igualar à mulher.”.
Na verdade, não sabemos como definir esse relacionamento e para ser sincero não precisamos disso. Vamos vivendo e convivendo até nos cansarmos de tudo.

OSTENTAÇÃO



Nascera em um país de primeiro mundo, ou como se diz, país do centro, influente, rico. Aprendeu a cultuar a sabedoria, o bom gosto e a cultura erudita, sim apesar de muitos ignorarem existe a cultura popular e essa é a mãe ou percussora da cultura erudita como afirma Burke.
Acostumara-se a freqüentar os locais privilegiados e destinados aos de classe média alta, sua rotina o agradava, gostava do belo, porém não podia sustentá-lo.
Apesar de tudo isso, era filho da moça do estacionamento que o levava para seu trabalho para não arrumar confusão com os irmãos em casa, no bairro onde moravam na periferia.
O trabalho da mãe consistia em cobrar a taxa da prefeitura pelo estacionamento da Orla no Jardim de Alah, muitos clientes não entendiam como funcionava o serviço, por que quando retornavam e não a encontravam como um cão de guarda próximo ao seu automóvel, e creio que muitos ainda hoje não entendem, ou confundem os serviços prestados entre o estacionamento privativo e o da prefeitura.
Esse último não oferece garantias para o cliente, apenas cobra a taxa de ocupação do espaço público que foi transformado em estacionamento sinalizado pelas faixas divisórias no chão e a placa Zona Azul: início e fim. Enquanto o privativo oferece seguro contra perda/roubo do veículo e bens presentes no interior do carro.
Mas voltando ao personagem, quero lembrá-los de que o mundo que afirmamos no início desse Conto, existe e é tão palpável quanto o nosso mundo real, porém foi criado na mente do nosso personagem e transportado para a vida real, já que ele vivia como se fosse um dos ricos que passavam o dia na orla praticando cooper e exercícios físicos, comprava tudo os que os ricos compravam pelos esforços da mãe que insistia em manter seu padrão de vida como se fosse normal aquele comportamento que destoava da sua realidade.
Hoje aprendeu a muito custo que não poderia sustentar seu mundo de fantasia nem acompanhar a avalanche capitalista consumista. Ainda guarda o bom gosto e o fascínio pelo belo, mas procura gastar seu pouco dinheiro sabiamente, equacionado as dívidas e os luxos para não ficar duro durante todo mês.

O AMANTE INCONFIÁVEL


Perdera a inocência não se sabe quando nem como. A virgindade foi aos 15 com uma nega, vizinha sua, da casa da Ilha.
Seu nome? não se lembra, também não importa, já que sabe contar a historia certinha com riqueza de detalhes. Já ficavam há algum tempo, certa tarde combinaram de namorar na casa da vó Dinorah, e lá aconteceu, ele sem muita experiência, e ela sem muito jeito, foram forçando até que ela sentiu muita dor e algum sangramento sujando de sua cueca que não retirara durante o ato, apenas abaixara até os joelhos.
Pela noite se encontraram e toparam fazer novamente e dessa vez tudo foi mais fácil, agora ela sentia prazer e ele acreditava ter adquirido experiência, pois aquela já era a sua segunda vez.
Daí em diante choveu pretendentes, novas, velhas, feias, bonitas, amigas, vizinhas e ele pegava todas, tentando conciliar os dias nomes e horários para não dar rolo.
Todas acreditavam que puxara a seu pai que era cafajeste e mulherengo e outras coisas mais que pela história do filho deduz-se.
Tinha características de malandro, o bom malandro carioca que sabe equilibrar-se na corda bamba.  Aproveitava todas as oportunidades que a vida lhe proporcionava e tirava lucro de todas.
Tornou-se inconfiável porque sempre envolvido com várias mulheres nunca se apegou a nenhuma. Nem àquela que lhe dera uma filha, a qual lhe pôs o nome lua,  em Latim.
Os homens o amavam, mas ele só queria se divertir com eles, explorando-os ao máximo, tinha um jeito sedutor de saber pedir e conseguir o que sempre desejava. Era bruto, grosseiro, rude, mas sabia atrair os homens para si com sua sensualidade malandra.
Quando brigavam sempre conseguia inverter a situação a seu favor e de vez em quando, tinha lapsos morais e religiosos dizendo que o que fazia sabia ser errado, mas quando o seu companheiro que era bem resolvido respondia que não queria forçá-lo a nada, e que se ele não estava em paz com o relacionamento eles terminariam, não queria ficar com alguém com crises de consciência. Ele logo ponderava: como irei pagar minhas contas, meus luxos, sustentar o vício das drogas? E logo aceitava manter o relacionamento, pois sabia que sua mãe não lhe daria a boa vida que tinha, explorando mulheres carentes e homens que o amavam. Ele era meia boca com os homens, mas sua sorte é que todos o amavam não se sabe o porquê, mas o fato é que seu jeito cativava, apesar de que não era belo, educado, nem culto, apenas um malandro; o amante inconfiável.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

IDENTIDADE



Memórias de quando criança, com tenra idade não possui, não sabe se por trauma ou se por doença, não se lembra se sofrera algum desses males.
A mãe conta que quando nascera tivera convulsão, daí ter que ficar em observação pediátrica no Hospital Manuel Victorino, onde nascera às 11:55 da manhã do dia 15 de Junho de 1977.
Seu nome de batismo fora escolhido por seu pai de última hora a contragosto da sua mãe, que planejava que se chamasse José Luís, após o registro, e o convívio de dois anos, o pai afasta-se para sempre contraindo novas núpcias com outra mulher com a qual tivera quatro filhos. Nenhum de nome José Luís.
Sua mãe o criou cheio de cuidados (superproteção) o que estraga toda criança, sempre teve tudo de bom até que sua mãe entrou em crise financeira, ainda assim a coitada fazia o que podia, nos dias de crise, deixava até de comer para alimentar seus três filhos os outros dois? Irmãos invejosos, desse que a mãe insistia em chamar de José Luís.
Nas crônicas maternais, ela dizia sempre: Vocês irão crescer, e eu irei ficar sozinha com meu caçula, o José Luis, que será médico.
Hoje as previsões maternais não acertaram muito, José Luís cresceu já frequentou dois cursos superiores, continua estudando, mas nenhum desses é o sonho da mãe: medicina.

Passione




Amar tinha certeza que amava apesar de todos afirmarem que lhe era impossível. Não entendia, pois, se muitos amam animais qual o problema de amar daquele jeito que a todos causava estranhamento?
Seu comportamento era sisudo observador extravazava apenas nos estudos, obtendo conceito A+ em todas as disciplinas, seus sentimentos e energias sexuais foram canalizados para o ato de estudar, inquirir, pesquisar, porém sua revolta com o mundo e com sentimento que não entendia era externado através de um comportamento agressivo e zombeteiro. Daí que apesar de ser 1º aluno na sua turma em Q.I e conceito, era o pior em comportamento.
A escola que freqüentava de cultura Alemã, já não acreditava em teoria pedagógica que lhe endireitasse. Daí que a cada ano (pois, nosso amante proibido estudara do 6º ano até 9º ano)  a diretora da escola D. Jailda prometia expulsar-lhe, sua mãe carinhosa, rogava a diretora que lhe desse uma nova chance a cada ano, prometendo-lhe que ele iria melhorar.
De fato, não se sabe se por conta das altas mensalidades pagas pela mãe ou pela melhora do comportamento do filho, o que ocorreu foi que o amante de sentimento inquietante cursou todo o ginásio naquela escola Alemã, e já no 9º ano seu comportamento havia melhorado, já não brigava mais. Agora mais que nunca, tentava compreender que sentimento seria aquele que nutria pelo seu melhor amigo: O Fred.

AMOR EXORBITANTE


Sabia que seu preço era caro e para tê-lo haveria de consegui muito dinheiro, ter nascido rico ajudaria, no entanto, esse não era seu caso. Se quisesse adquiri-lo teria que trabalhar muito, estudar bastante, obter sucesso na vida, para poder comprar o que mais lhe faltava: o amor exorbitante. Digo exorbitante por que essa era a característica do amor que podia ter.
Jamais foi tocado por interesse de outrem nele mesmo, mas no que ele poderia conceder fazer, ensinar, dar, e isso falo de bens e favores matérias.
Triste isso, saber que o melhor que fizesse sempre seria pouco, pois o desejo é sempre uma bola de neve que aumenta a cada giro sobre a superfície terrestre, e assim, seria incomensurável a ambição dos seus pares pelas vantagens que ele poderia lhes proporcionar, porém ínfimo o interesse nele próprio, já que o que os movia era a fúria capitalista consumista e não o desejo de amar o que lhes era igual no gênero.

MIGALHAS


Sempre foi assim, comia as migalhas. Não era muito de reclamar, aceitava sempre tudo que lhe ofertavam isso por que até a sua própria família o desprezava.
Os irmãos o torturavam emocionalmente. Acredite, eles entraram num concílio para deixar de falar com ele, até os cumprimentos básicos.
Vivia isolado de tudo e de todos, apesar de não viver em cárcere privado.
Talvez tenha vindo daí o seu gosto pela leitura, lia tudo o que encontrava, seus amigos eram os livros, apreciava as explicações e logo após fazia os exercícios propostos como quem respondesse as perguntas dos seus amigos; os livros.
Aprendeu a ser autodidata e virou destaque nas escolas em que passou. Hoje é bem sucedido na vida profissional, não guarda mágoas dos irmãos, apesar de ainda não ter sido amado como acredita que merece ser.
As migalhas melhoraram, até se relacionou com um cara que não exigia nada em troca, era sexo por sexo, a esse não precisava pagar, ou agradar com presentes.
Seu nome? Era Léo, Ele ligava sempre que estava a fim de se divertir com o jovem carente de afetos.