Quem sou eu

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Salvador, Bahia, Brazil
A língua está em mim, me perpassa, faz parte da minha formação como ser social inserido num grupo. Compõe ainda a minha própria formação acadêmica já que resolvi após o primeiro curso superior (Administração), cursar Letras. Essa língua me representa em todos meus conflitos, pois suas características são iguais as minhas, um ser multifacetado, de exterior sóbrio e estático, mas no íntimo um turbilhão em movimento. Assim como um rio congelado que apresenta a sua superfície estática, mas o seu interior está sempre em movimento, num curso perene. Capacidade de adaptação e compreensão com singularidade e regionalidades tolerantes como próprios à língua. Escrever é para mim, como respirar, sinto essa necessidade e é através da escrita como afirmou Aristóteles que transitamos desde o terror até a piedade de nós mesmos e do outro. Esse ofício da escrita nos eleva, nos projeta, nos ressignifica quando tocamos o outro com as nossas palavras, seja no universo ficcional, biográfico ou autobiográfico. Escrever é uma necessidade, escrever é transpirar no papel as nossas leituras.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

SELEÇÃO




Próximo. Ao chegar não dissera logo o motivo da sua vinda. Compartilhavam cumplicidades. A conveniência os unia.
Como é próprio de todo começo, eram felizes, o tempo passa, longas distâncias, visitas esporádicas, insatisfações.
Ausência, solidão, abandono. Longa distância, primeiro contato, ele está no além-mar, desconversa sobre a ausência menciona o vil metal.
Promessas. Segundo contato, ele permanece no além-mar, agora reatou o casamento, porém não desiste de relacionamento. Argumenta sobre o vil metal novamente.
Desilusão. Sem forças, Miro cansa de esperar pelo reencontro, sabe que a vinda do outro tem data marcada, o dia de receber o vil metal, razão pela qual ainda estão unidos. Em sua mente Miro visualiza a grande fila de relacionamentos efêmeros e quase que instintivamente ouve o grito da sua alma que ecoa por todo o seu corpo: - próximo.

SURFISTA



Não sei o que pensar, não sei o que devo querer, nada me satisfaz, ainda sinto falta de tudo, mas também não quero nada. Nada das pessoas que não se interessam por mim, odeio mentiras, falso interesse. A solidão me devora, finjo não perceber anoitecer, perdi minha alegria.
Ontem o encontrei me contive todo tempo, matei o sentimento, desconversei nada mostrei interesse, falei palavras desconexas, me afastei.
Apesar de apresentar um perfil de autossuficiência, por dentro se extinguia a última fagulha de esperança.
Não irei conquista-lo, a partir de agora, sei que é um amor inalcançável, moreno, jovem, 1,60m, malandro e lindo, Bruno é o seu nome, a inspiração minha escrita nessa tarde quente, aqui em Itacaré.

Mas afinal, o que é Literatura?




Culler problematiza o conceito de literatura para demonstrar que o conceito estrito (específico) é o que nos interessa, porém não é definido facilmente: Literatura é uma relação de linguagem com uma cultura e um contexto no qual a literatura está inserida.
A literatura é sempre uma relação com: outra obra, textos teóricos, obras literárias.
Culler afirma ainda que o texto literário apresenta características como: complexidade, multissignificação, criação, variedade, predomínio da conotação e ênfase no significante. No entanto, apesar da literatura conter essas características (Literariedade), para Culler, ela não se limita só a isso, porque a literatura é ampla.
Já para Barthes a literatura assume vários saberes por que todas as ciências estão presentes no momento literário de forma indireta da reflexividade, e isso é um processo infinito.
Barthes (1989) em seu texto Aula, valoriza a variedade linguística do tratar da liberdade utópica de escolhas que os indivíduos possuem de poder escolher uma linguagem segundo as suas perversões e não segundo a lei.
Barthes trata ainda sobre o poder do deslocamento que a literatura exerce sobre os indivíduos (leitores) e ainda sobre o próprio escritor (autor) e cita que este pode tentar fugir do que produziu (obra escrita), mas não dos seus pensamentos (a obra internalizada no seu consciente).
Logo, podemos depreender também a ligação que a literatura faz entre texto escrito (a obra) e o teatro através da língua.
A literatura através da semiótica (traduções Intersemióticas) trabalha com signos desenvolvendo a linguagem em todos os campos da ciência, daí a multiplicidade dos saberes.
É a partir desses conceitos de literatura e de texto literário que Hoisel (2002) irá fazer suas considerações. Para Hoisel, o texto define-se como qualquer discurso, qualquer malha significante que pode ser lido, relido, e escrito, reescrito em cada leitura. Constitui-se um mosaico de citações, contribuição de vários autores diacrônicos e sincrônicos.
Segundo Hoisel, a leitura é um duplo gesto que consiste em decodificar/codificar o tecido textual há uma possibilidade infinita de interpretações de um mesmo texto. Nesse exercício, o leitor é aquele que traduz um código para outro. Podendo ser descompromissado ou criterioso quanto à leitura que está fazendo (decodificando/codificando).
No entanto o texto pode apresentar um caráter de mascaramento, que consiste na capacidade que o texto artístico possui de permanecer imperceptível diante da percepção do leitor. Já o estranhamento, consiste em dar uma nova visão do objeto e não o seu reconhecimento, subvertendo expectativas lógicas, psicológicas, científicas do receptor.
Hoisel trata ainda da mensagem estética, afirmando que esta se apresenta estrutura da de modo ambíguo e surge como auto-reflexiva, isto é, quando pretende atrair a atenção da obstinatario para a forma dela mesma – mensagem. Possui capacidade infinita de renovação da linguagem, e a auto-reflexividade que é a possibilidade de dar forma e demonstrar experiências, um poema é sempre sobre outro poema (desmonta a tradição, dialoga, apresenta nova perspectiva).

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Queer





Inocência. A vida lhe batizara com a ingenuidade. Não compreendia o ser humano nem se esforçava para tal.

Por que todos pensam o mesmo sobre os homossexuais? Que são efeminados, que querem ser mulher, ou se submeteriam a uma mesa cirúrgica para mudarem o sexo? O homossexual é antes de tudo um (ser de identidade) forte.

Inocência assim pensava por não ter conhecimento, não lera Santiago: o Homossexual Astucioso. Sofrera a endogenia escolar, não está apta para o convívio social, não aprendera a tolerância.

Pobre Inocência, não sabe que o homossexual reúne em si o melhor do homem e da mulher.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

UFBA - Teoria da Representação da Literatura e da Cultura - Paulo Souza de Amaral


 FOUCAULT / BARTHES - TRAVESSIA



O texto mais representativo sobre a morte do autor é o de Barthes (1987), embora a estética da recepção já tratasse desse assunto (não questionava a autoridade do autor sobre a obra), o texto de Barthes estrutura o assunto de forma mais organizada, questionando a autoridade do autor.
Mais tarde Foucault (1992), resgata a importância do autor (sem dar relevância à sua autoridade), Foucault afirma que devido à função poética o autor perdeu a autoridade sobre o texto literário-referencialdade específica.
Assim Foucault pretende problematizar as condições de funcionamento de determinados discursos como a figura do autor, noção de obra etc, não há teoria da obra, portanto a noção de obra remete a uma leitura fechada, atribuir certas características a obra/autor-acarreta num fechamento da concepção do discurso, desse modo questionando-se o autor, questiona-se a obra, através dessas reflexões Foucault conclui que o indivíduo não é mais o responsável pelo texto, ele é construto de linguagem do texto (apagamento das características individuais do sujeito que escreve).
Barthes elencava o leitor em detrimento do autor, por afirmar que o texto é feito de escritas múltiplas, de várias culturas e que essa multiplicidade se reúne no leitor onde se inscrevem todas as citações de que uma escrita é feita, desse modo à unidade de um texto não está em sua origem, mas no seu destino - o leitor.
Santiago (1989) também estabelece o leitor como figura crucial do discurso afirmando que todo texto literário é de travessia (destinado a um determinado leitor anônimo) e singular por se tratar de uma leitura única, solitária. Prioriza a linguagem poética que é direcionada ao leitor.

UFBA - Teoria da Representação da Literatura e da Cultura - Paulo Souza de Amaral ( Barthes sobre autoria)



O texto mais representativo sobre a morte do autor é o de Barthes, embora a estética da recepção já tratasse desse assunto, não questionava a autoridade do autor sobre sua obra.
O texto de Barthes estrutura o assunto de forma mais organizada, questionado a autoridade do autor.
Barthes (1987) objetivava fechar o campo epistemológico que valorizava o autor, como se o texto fosse à biografia do autor, essa corrente de pensamento seria prejudicial para os estudos literários, segundo Barthes, por acreditar que o entendimento da obra só seria possível através do conhecimento do autor, seu contexto social, suas experiências etc. Desse modo, seria impossível para o leitor depreender o sentido do texto, já que a leitura era fechada.
Para Barthes da um autor a um texto é impor a esse texto um mecanismo de segurança, é dotá-lo de um significado último, por isso Barthes vai descontruir essas noções elencando a palavra escritor para evitar associações com afigura do autor antigo, pois o indivíduo não é mais o responsável pelo texto, ele é construto de linguagem do texto, (apagamento das características individuais do sujeito que escreve).
Mais tarde Foucault (1992) resgata a importância do autor, sem dar relevância à sua autoridade, Foucault afirma que devido à função poética o autor perdeu a autoridade sobre o texto literário-referencialdade específica. Com isso Foucault objetivou problematizar as condições de funcionamento de determinados discursos como: a figura do autor, a noção de obra etc. Segundo Foucault não existia teoria da obra, a noção de obra remete a uma leitura fechada, atribuir certas características a obra/autor acarretaria em um fechamento da concepção do discurso literário.
Todas essas reflexões vão culminar no texto de Barthes que trata da morte do autor em detrimento do leitor que se revela o ser total da escrita, pois para Barthes o texto (obra) é feito de escritas múltiplas, saídas de várias culturas e que dialogam um com as outras na figura do leitor, onde se inscrevem todas as citações de que uma escrita é feita, o leitor é um homem sem história, sem biografia, sem psicologia, é apenas esse alguém que têm reunidos num mesmo campo todos os traços que constituem o escrito.   

UFBA - Teoria da Representação da Literatura e da Cultura Paulo Souza de Amaral

PLATÃO E O SIMULACRO



 Reverter o platonismo deve significar, ao contrário, tornar manifesta à luz do dia essa motivação, encurralar essa motivação tal como Platão encurrala o sofista.
A dialética platônica se constitui de rivalidades (dos rivais ou dos predentendes), a essência está em profundidade na seleção da linhagem – distinguir o verdadeiro pretendente dos falsos.
O mito é o elemento integrante da própria divisão. Assim o mito constrói o modelo de análise de acordo com o qual os pretendentes devem ser julgados e sua pretensão medida – autenticação da ideia. Platão objetivou distinguir a essência e a aparência, o inteligível e o sensível, a ideia e a imagem, o original e a cópia o modelo e o simulacro, Platão divide em dois o domínios das imagens – ídolos: cópias ícones e simulacros fantasmas. A motivação platônica foi selecionar os pretendentes distinguindo: as boas e as más cópias, cópias bem fundadas e simulacros submersos da dessemelhança. A cópia é uma imagem dotada de semelhança, o simulacro uma imagem sem semelhança. O simulacro inclui em si o ponto de vista diferencial, o observador faz parte do próprio simulacro, que se transforma e se deforma com seu ponto de vista: o devir-louco.
O platonismo funda o domínio da representação preenchido pelas cópias ícones e definido numa relação intrínseca ao modelo ou fundamento. O desdobrar da representação como bem fundada e limitada como representação finita e antes o objeto de Aristóteles: A representação vai dos mais altos gêneros a menores espécies e o método de divisão toma então seu procedimento tradicional de especificação que não tinha em Platão, é o terceiro momento da representação, quando sob influência do cristianismo se procura torná-la infinita, fazer valer para ela uma pretensão sobre o ilimitado.
Assim podemos elencar a dualidade da estética: teoria da sensibidade como forma de experiência possível; e a teoria da arte como reflexão da experiência real. Logo, percebemos que reverter o platonismo significa introduzir a subversão nesse mundo já que o simulacro nega tanto o original como a cópia, tanto o modelo coma a reprodução.
Assim na modernidade, potência do simulacro, cabe à filosofia destacar da modernidade o intempestivo.

ECSTASY



Sérgio desperta durante a noite, suado e ofegante, a mente fervilha pensamentos de todos os tipos. Deseja muitas coisas, anseia por realizar mil planos.
Visualizava um futuro próspero, mas sem satisfação nele. Previa seu sofrimento, ainda que dinheiro viesse a possuir não adquiriria a felicidade.
Sua satisfação estaria sempre condicionada aos relacionamentos que pudesse compra, sim, o dinheiro era o padrinho que sempre abençoava a sua união.
Como um imã, os seus bens atraía os homens para ele, porém não estava feliz. Experimentava lapsos de alegria.
Após cada relacionamento a sensação do vazio aumentava exponencialmente. Como um dependente químico, sofria a abstinência da sua droga dileta, não compreendia o seu abandono.
O destino designara-lhe um trabalho hercúleo: amar um ser que lhe era igual no gênero.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

O INTRUSO




Esperança adentrou na classe em que só havia tipos desenvolvidos, de grande intelecto, experiências diferenciadas, com usos e costumes sofisticados.
Lutou e esforçou-se para acompanhar o aprendizado de conteúdos que não lhe eram familiares. Desenvolveu letramentos múltiplos, compreendeu o pensamento científico da aristocracia.
Aprendeu o funcionamento do mundo contemporâneo e a fúria do consumo capitalista. Sabe que antes do desejo de possuir, o indivíduo é um ser com identidade forte.
A esperança persiste na ideia de que o caminho percorrido é ainda pequeno e que a estrada a ser cumprida é longa e árdua: seleção de mestrado, prova de doutorado e o pós-doc no exterior, de preferencia no Reino Unido.
Como atingir os objetivos? Vivendo um dia por vez com esperança, não perdendo de vista o foco, o alvo, lembrando sempre da perseverança que ressuscita a esperança a cada dia.

LITERATURA POPULAR








Segundo Burke (1978) a cultura popular caracterizada pela diversidade, apoiada por uma minoria culta que tenta no século XIV reformar essa cultura, toma rumos inesperados, isso se deve as grandes transformações econômicas, sociais e políticas do período entre 1500-1800.
Podemos elencar essas transformações como: o crescimento populacional que ocasionou à urbanização das cidades proliferando a migração dos camponeses do campo para área urbana. A revolução econômica caracterizada por transformações econômicas que resulta na ascensão do Capitalismo Comercial e expansão do comércio dentro da Europa, a divisão internacional do trabalho, a revolução nas comunicações, o desenvolvimento da cultura de subsistência na agricultura etc.
Essas transformações afetam a cultura popular em cheio, pois, essa cultura estava intimamente relacionada com o seu ambiente, adaptada a diferentes grupos profissionais e modos regionais de vida. Necessariamente mudaria quando mudasse seu ambiente.
Uma das principais causas da ascensão da cultura popular é a revolução comercial que levou-a a uma idade de ouro, porém mais tarde numa revolução comercial aliada a revolução industrial irá contribuir para a destruição da cultura popular. Isso porque a transformação dos meios de produção impossibilitará a manutenção da personalização da produção artística e cultural dos artesões e a expansão do mercado destruiu a cultura material local.
No entanto, a o mesmo tempo podemos observar a dialética dessa revolução comercial em que o processo que destruiria a cultura popular tradicional possibilitou antes algumas das suas belas realizações, sobre esse fato podemos observar que a cultura popular ganha força enquanto que no campo ocorre o empobrecimento cultural significativo, devido à migração.
É importante mencionar a questão do uso da alfabetização que será importante nessa analise já que agora a cultura popular está sendo comercializada sob a forma de livro impresso (antes utilizava-se as grandes narrativas).
Podemos perceber nesse fato que essa transformação irá afastar do povo a sua própria cultura, pois as narrativas que esse povo antes estavam acostumados a ouvir, agora só poderia ter acesso através da leitura, no entanto a grande massa não era alfabetizada, o que legitimava o livro como forma de poder simbólico, de separação, forma de barrar o outro ao acesso a cultura.
Sobre isso fazemos menção a Canclini que irá analisar esse movimento na modernidade em que a “nobreza” ou “Aristocracia” irá se valer de três formas de movimento ou operação a fim de que seja estabelecida a separação entre o culto e o popular/intelectual e o povo (massa), o nobre e o plebeu.
Segundo Canclini (2000), essa modernização com expansão restrita do mercado, democratização para minorias, renovação das idéias, mas com baixa eficácia dos processos sociais. Esses desajustes entre o modernismo e a modernização foram úteis às classes dominantes para preservar sua hegemonia mediante três operações: espiritualizar a produção cultural, (que significa marcar a diferenciação entre arte/artesanato), engessar a circulação dos bens simbólicos em coleções, concentrando-os em museus e centros exclusivos e propor como única forma legítima de consumo desses bens, essa modalidade também espiritualizada hierática de recepção que consiste em contemplá-los.
Ainda sobre as transformações da cultura popular no período entre 1500 – 1800, podemos elencar três problemas de acesso, em relação à divulgação da cultura para as massas, são eles: o acesso físico os livros não chegavam até os camponeses, o acesso econômico, os camponeses/artesões não podiam adquirir essa literatura devido ao preço do papel (que correspondia a uma parcela maior do que o custo de produção do que hoje em dia) e finalmente a terceira é o acesso linguístico a forma de registro desses livros, não era adequada ao camponês/artesão semi-alfabetizado ou analfabeto.
Vale ressaltar ainda duas transformações graduais que influenciam o declínio da cultura popular era uma cultura de todos: uma segunda cultura para os instruídos (clero) e a única cultura para os outros. Já em 1800, porém na Europa, o clero, a nobreza, os comerciantes, os profissionais liberais haviam abandonado a cultura popular às classes baixas das quais agora estavam separados por profundas diferenças de concepção de mundo.
Esse afastamento da cultura popular por essas classes possui razões deferentes para cada uma em particular, pois no caso do clero a retomada fazia parte das reformas católicas e protestantes. Para os nobres e a burguesia, a reforma foi menos importante do que a Renascença que os incentivou a adotarem maneiras mais polidas, um estilo novo e mais autoconsciente de comportamento, modelado por livros de boas maneiras que orientava a exercer autocontrole a indiferença, cultivar senso de estilo, andar de modo altivo, falar, escrever corretamente segundo regras formais evitando assim dialetos e termos técnicos utilizados pelos camponeses. Tais modificações tiveram sua função social.
É importante observar que essa retirada da cultura popular ocorreu em ritmos diferentes em diferentes partes da Europa, no entanto a explicação é clara: a cultura erudita transformou-se com grande rapidez entre os períodos de 1500 a 1800, períodos marcados pela Renascença, Reforma e Contra- Reforma, da Revolução científica e do Iluminismo, apesar de ainda nessa época existir um diálogo entre as duas culturas, (Mascates distribuíram livros e panfletos de Lutero e Calvino, Voltaire, Rousseau; pintores camponeses imitavam o barroco e o rococó com auxílio de gravuras). No entanto, isso não foi suficiente para impedir o distanciamento entre a cultura erudita e a cultura popular, pois as tradições orais e visuais não conseguiram observar rápidas transformações propostas.
Já no século XIX, o crescimento das cidades, a difusão das escolas e o desenvolvimento das ferrovias, entre outros fatores, tornavam possíveis e até inevitável a rápida transformação da cultura popular.





RESILIÊNCIA




Sentimento vazio, espumas ao vento. Ser ignóbil, criatura chucra despida da cidadania, imersa na ignorância e no descaso. Ausência de perspectivas.
Por dentro, um turbilhão. Por fora um corpo vestido numa pela magra de alma moribunda e sentimento doentio. No olho do furação, inerte diante da Tsunami que pronta para traga-lo, não sente medo.
Não se intimida a dor é sua amiga. Aprendeu a sobreviver às agruras da vida.





PAIXÃO




O amanhecer, o giro dos ponteiros do relógio, o exercício da bailarina, a busca pela perfeição.
A esperança se renova sempre. Em algum momento nosso coração que já triste e desanimado recebe novo sopro de vida.
Hoje Lisa reanimada pela ligação do namorado comemora. O romance não acabou, apesar da distancia e do tempo, agora ela sabe que o som da voz do seu amado, renovou-lhe as forças. Já não está só, ele virá vê-la em breve, basta esperar. E ansiosamente ela aguarda, enquanto isso escreve essas linhas no seu diário da paixão.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

VERÃO




O desconhecido sempre chegava próximo. Às vezes até sentia-o de perto. Outras pensava que havia-o alcançado.
Sempre quando estava feliz, logo vinha à mudança, como num dos contos de Perrault, o conto de fadas, tudo se desfazia em abobora ou lágrimas de sofrimento.
Há um ano, era feliz, agora próximo ao verão pensa, quer entender, o que o afastou da felicidade. A felicidade era seu namorado, juntos faziam planos, ou será que só ele planejava, enquanto o outro divagava?
Hoje percebe que sonhara só. O outro não levava seus planos a sério, afastamento, desinteresse, abandono, ostracismo.
O desconhecido, nunca chegara a sentir. Ainda continua sem conhecer esse sentimento inalcançável, o amor.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

ESPERANÇA




Lara acordava cedo, gostava de preparar tudo com calma, espreguiçava-se lentamente, abria os olhos vagarosamente, levantava da cama, observava o céu através da janela, o dia ensolarado anunciava um bom dia, de conquistas e felizes realizações.
 Apressava-se nas tarefas diárias, lava roupa, limpar a casa, preparar o almoço, até as 11:00h tudo deveria estar pronto. Dai era só tomar o 2º banho diário para tirar o cheiro de gordura que adquirira na cozinha, almoçar e descansar um pouco, enquanto aguardava seus convidados.
Porém nem sempre eles apareciam, e isso a perturbava. Lara fitava e olhar para o infinito e pensava; tentava entender porque eles não vieram, acreditava ser culpada pela ausência dos outros e pelo desinteresse que eles nutriam por ela.
Tudo o que ela poderia lhes oferecer era pouco, sabia disso. Apesar de não compreender o motivo de tanta ambição nos seus pares. Apenas esperava, esperava.
O vazio no seu interior aumentava quando ela lembrava-se da sua condição: mulher solteira, que se dedicava a todos a fim, de obter um companheiro.


DESPEDIDA




Um lindo jardim, árvores em volta, um suporte peculiar aquele ambiente, uma declaração entalhada no suporte.
Ali tudo acabava. Ali se despedia do mundo. Fechara-se para sempre.
Olhares, desejos, sentimentos não mais. Desde os últimos acontecimentos tornara-se assim empedernida. A desilusão forjara essa nova criatura, isenta de sentimentos.
Nesse momento morria emocionalmente e sepultava ali sua alma.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

BIOGRAFIA E AUTOBIOGRAFIA: OS PRIMÓRDIOS



Hoisel (2006) irá afirmar que a concepção gerada pela crítica positivista do século XIX, passou a valorizar a biografia do ponto de vista que o texto era produto do autor, ou seja, o autor possuía autoridade sobre o seu próprio texto.
Hoisel afirma que o conceito de biografia nem sempre existiu, muitos autores foram criando, de forma que era uma parte da historiografia como um gênero literário. (como a narradora de Hatoum, se apóia na sua história e nos relatos de outros a respeito de si mesma para compor a sua “autobiografia” endereçada ao irmão).
É a partir do renascimento que surgem as condições históricas efetivas para que a biografia e a autobiografia possam se afirmar como forma discursiva, que se constituirá pela presença do sujeito a partir de um duplo e simultâneo foco. Como o sujeito reage ao mundo e como o mundo reage ao sujeito. Hoisel afirma que na idade média, faltava essa inter-relação, uma vez que, nesse período o sujeito ainda não é pensado a partir de suas dimensões psicológicas.
Desse modo, Hoisel elenca Rousseau como responsável pelos traços que constituem a autobiografia moderna, o que Costa Lima vai considerar como paradigma da autobiografia moderna, destacando cinco características principais desse gênero: definição da autobiografia como documento de uma vida, narrado por um narrador competente, prazer que o sujeito encontra em se narrar, revelação da sua própria intimidade e a paixão indagadora (podemos perceber todas essas características no texto de Hatoum, apesar desse texto se composto de um mosaico de citações (narrativas).
Diante disso, Hoisel afirma que apesar de determinados aspectos da biografia já existirem dentro de outros textos, somente Rousseau irá determinar definições mais claras, como a questão do pacto do sujeito com a linguagem. Esse pacto consiste em registrar com veracidade a sua própria vida, (o que pretende a narradora de Hatoum ao organizar um conjunto de vozes na sua narrativa), desse modo a biografia teria características como: autenticidade, veracidade, exemplaridade, legitimidade.
Mais tarde, Rousseau sofre um choque ao constatar que na modernidade, não é possível dizer tudo através da obra autobiografia, devido à dificuldade que está relacionada à linguagem.
Hoisel ressalta ainda que os estudos psicanalíticos abalam a concepção de literatura (biografia / autobiografia) no século XIX, por questionar o poder e o querer autorial, criticando assim, o nascimento do texto de forma que o autor que o produz trás consigo todas as interpretações corretas.
Hoisel conclui sobre a questão biográfica, que nós já temos a realidade tal qual ela é; uma produção da linguagem. É interpretar essa realidade só é possível através de um olhar que codifica ou decodifica através da linguagem, levando em consideração o seu contexto histórico, cultural (conhecimento e experiências passadas), segundo a sua percepção individual.
Logo a biografia não é apenas a reprodução do que foi vivido factualmente.
A obra é uma vivencia imaginária que percorre várias territorialidades onde o autor esteve físico e emocionalmente envolvido, e que resultou em experiências múltiplas. 

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

SIGNO




Signo linguístico é a menor unidade semântica de um código. Todo signo compreende significante e significado, o primeiro e a forma perceptível: som, letra, o segundo é o elemento conceitual, o conteúdo semântico.
Mariana enquanto estudava as teorias linguísticas refletia sobre os acontecimentos e sua importância.
Havia catorze dias que terminava com seu namorado e uma das últimas frases que ouvira dele foi que era insignificante, uma criatura insignificante.
 Não entendia os motivos dele, também não o ocupava. Sempre achava uma maneira de atribuir a falta a si mesmo.
Gostava de estar em casa, arrumando tudo, limpando as coisas, às vezes preparava lanches e ligava para ele convidando-o para namorarem à tarde, ou à noite. Ele sempre esperto, aparecia depois de visitar as outras namoradas, passava o mínimo de tempo com ela, não demostrava carinho, enquanto ela se desvelava para agradá-lo.
Após uma discussão, ele sai mencionado que os sentimentos dela não tinha importância.
Marina após chorar a perda, percebe agora, recolhida a sua insignificância que nunca o tivera verdadeiramente, iludira-se todo esse tempo.
Mas a compreensão da ciência, a ajudara a entender a sua realidade.


terça-feira, 27 de setembro de 2011

ARMADURA





A angústia a tomava, o desânimo a dominava, sentia suas forças se esvaírem todas as manhãs. Um sentimento de conquista vã a perseguia. Assim era o interior de Maria, uma tormenta que devastava seu exterior.
Não estava feliz, apesar de obter algumas conquistas, sua aparência era sofrível.
A motivação a deixara, não possuía mais a vontade de viver, de vencer, diziam alguns que um anjo negro pousara perto dela.
Caminhava na vida como um zumbi, ia ao trabalho, a igreja, ao mercado, sempre de forma dispersa, parecia um autômato, vivia em um estado alterado de espírito. Quando inquirida sobre esse comportamento afirmava que dessa forma, estava protegida das doenças do coração: o amor e a paixão.


sexta-feira, 16 de setembro de 2011

NOTÍCIA




No balanço da vida muita ansiedade e pouca realização.
Anseio por tudo, trabalho, busco, invisto e o retorno não vem.
Às vezes pacientemente acredito que o objetivo será alcançado no fim, mas as circunstâncias demonstram que o objetivo é inalcançável, já que sempre as estratégias falham no cumprimento da meta.
Promessas vãs. Ele nunca nega, nunca rejeita a ideia, mas também nunca cumpre.
Já me cansei de ter esperança, já não quero olhá-lo de frente. Meu sentimento deseja e minha razão repudia.
O vestido rasguei, o evento cancelei, a data apaguei da memória.
Essa carta fora endereçada a mãe de Thais, que ao ler constata a desilusão da sua filha.

A romanização do NW da PI





Antes da chegada dos romanos à Península Ibérica, habitavam essa região os povos pré-romanos que se diferenciavam, apesar de já estarem na mesma região. Uns possuiam uma cultura pacífica outros uma cultura militar ainda outros eram caracterizados pela cultura agrícola e rudimentar.
Desses povos todos que habitavam a Península Ibérica, os que mais se assemelhavam a cultura romana eram os turdetanos e tartécios, povo que habitavam a região da Bética. Dai que durante o processo de romanização, com a chegada dos romanos á Bética em 218 a.c, em consequência da 2ª guerra Púnica, a romanização da região foi praticamente instantânea, devido à identificação entre as culturas romana e turdetana. Isso favoreceu a rápida assimilação do latim vulgar pelos habitantes da Bética com pouca ou média influência de substrato par o latim vulgar, já que esses povos abandonaram o uso da sua língua local adotando o uso do latim vulgar desde cedo.
Com a romanização da Bética (sul da P.I), e a identificaçãodos povos que habitvam essa região estabeleceu-se uma provincia romana de facíl administração, já que a convivência tornara-se pacífica. Por isso não era necessario intervenções da capital  na região da Bética, estabelecendo-se então um controle à distância sem muitos contatos, o que mais tarde vai ser siggnifivativo para a diferenciação no sentido de conservação caracteristicas arcaizantes no latim vulgar falado na região da Bética.
A conquista da região da Terraconense se deu pelo norte da P.I, nessa região habitavam os povos Bascos povos Bascos, povos iberos e celtiberos que eram caracterizados por pouca civilização e pouca relação comercial, pois eram camponeses e não ofereceram resistência aos romanos, por isso, a Tarraconense é uma região sem muitas divisões políticas.
Essa região é importante, porque é nela que se estabelece a rota comercial romana e para onde converge o fluxo de povos de língua e culturas diferentes, também por ser rota de acesso a Roma capital do império e centro difusor de inovações linguísticas.
Esse trânsito comercial e cultural que se estabelece nessa região é que irá determina a características inovadora do latim vulgar falado nessa região, enquanto que na Bética, região sul, o latim vulgar permanece praticamente inalterado, daí a diferenciação ser tão acentuada em relação a corrente do norte.
Sobre o noroeste (NW) da Península ibérica (P.I) podemos afirmar que houve várias tentativas por parte dos vários imperadores romanos de conquistar essa região, porém as datas significativas são 27 d.C em que a campanha militar liderado por Augustus promove a ocupação da NW da península ibérica, porém sem a sua romanização, pois as relações no noroeste da P.I, ainda eram tensas, o exercito romano estava ainda se estabelecendo e tentando subjugar os povos ali existentes. Somente em 216, com a campanha militar de Caracalla, é que o NW da P.I ganha o estatuto de província romana, romanizado-se completamente coma criação da província romana da Gallaécia ET Astúrica. Vale ressaltar que levou cerca de 400 anos para o império romano conquistar a região (Gallaécia/Astúrica) perseveram a sua língua por mais tempo em relação aos povos do norte e do sul da P.I.
Aliado a esse fato, observamos também que a frente militar que romanizou o N.W da P.I, saiu da Bética, província romana de forte identificação com a cultura clássica romana e que falava um latim vulgar de características arcaizantes, devido a cronologia da romanização e ao isolamento geográfico e comercial, já que não mantinha relação estreita com centro difusor de inovações lingüísticas que era a capital do império – Roma.
Tais fatores serão preponderantes na diferenciação do latim vulgar e posteriormente na diferenciação das línguas românicas, como por exemplo, maior influência de substrato latino no português, diferenciação no espanhol falado na região da Andaluzia e fenômenos lingüísticos como a assimilação.
Diante disso percebemos um fato importante uma vez que, segundo a cronologia da romanização, quanto mais cedo ocorre a romanização maior característica arcaizante terá o latim vulgar, enquanto que quanto mais tarde ocorre a romanização maior características inovadora.
No entanto esse fato não se aplica do NW da P.I porque apesar  da romanização tardia dessa região (216 d.c), o latim vulgar levado para essa região era do exercito formado na Bética devido ao seu isolamento geográfico e comercial.
Para entendermos as características lingüísticas peculiares ao N.W da P.I, faz-se necessário analisarmos outros contatos como a presença dos Bárbaros (Germanos) nessa região.
Após a conquista do NW da P.I, o império romano dá sinais de enfraquecimento, devido à vasta extensão do império, as dificuldades de centralizar o poder, conflitos políticos internos entre governadores das províncias/imperadores /militares etc, aliado a isso, as pressões exercidas nas fronteiras por povos vizinhos, que ao perceberem o enfraquecimento do império romano, tentavam fugir dos Bárbaros (diversos povos germânicos aparentados), ameaças de invasão a cidade de Roma.
Os Germanos conquistam os territórios romanos pouco a pouco, em 106 d.c Roma perde a Dácia, em 409 d.c os romanos deixam a Britânia, em 458 os vândalos dominam totalmente a África após ter ocupados o norte da P.I.
A ascenção dos povos germânicos com o império visigodo se deve a um fator importante o longo convívio com os romanos propiciou aos povos germânicos o conhecimento do latim vulgar, que foi utilizado durante o período da invasão e conquista, os germanos utilizaram o latim como língua de dominação, o que consistem numa estratégia para a rápida dominação da P.I.
Ao chegarem na P.I os povos Germânicos entra uma população mestiça, resultado da fusão dos povos pré-romanos com os povos romanos que resultou nos povos Hispânicos que falavam latim vulgar entre os quais se difundia a religião cristã.
Com a invasão dos Bárbaros, a região da P.I apresenta novas particularidades, ocupação do norte pelos vândalos, centro e sul pelos visigodos e noroeste (NW) pelos Suenos. Embora os visigodos tenham assumidos todo o território da P.I, culturalmente o NW ficou sob o domínio dos Suevos, daí sua influência linguísticas naquela região.
Sobre as influências lingüística vale destacar a problemática que se estabelece a respeito dos visigotismos, que s não se pode precisar quanto ao tempo de estadia, se é de adstrato convivência linguísticas/empréstimo ou superstrato (léxicos germânicos no latim vulgar).
Em relação à influência Sueva na P.I, podemos afirmar que não houve influencia quase nenhuma, em nada modificou a língua latina no NW da P.I. Contudo os Suevos são de significativa importância porque isolaram o NW da P.I, evitando assim que as influências lingüísticas germânicas atingissem aquela região.
Desse modo as transformações ocorridas no latim vulgar levaram ao desenvolvimento protos-romances que consistia na diferenciação do latim vulgar qm dialetos menores isso caracteriza a ruptura lingüística, ou seja, perde-se o modelo lingüístico romano.
Os falantes desse novo modelo lingüístico que se desenvolve são os povos Hispano – godos que são o resultado do contato entre os Hispânicos e os povos Germânicos. Os hispano – godos são cristãos e falantes dos romanos.
A invasão Árabe ocorreu no sec VIII d.C, sua principal motivação foi religiosa, pois os árabes tinha como objetivo a difusão do Islã na P.I. Aliado a isso, a numerosa população árabe, as expectativas de bons resultados nos saques de outros povos, a vasta área litorânea e as terras férteis presentes na P.I, teriam sido atrativos para os povos Árabes.
A invasão árabe modifica a estrutura do N.W da Península Ibérica porque quando os invasores inundaram a maior parte do reino visigótico, os representantes da tradição toledana refugiam-se nas montanhas e nas costas das Astúrias, formando desse modo uma ligação entre as duas metades da antiga Gallaécia entre a Galiza e as Cantábria surge o reino das Astúrias.
Essas três regiões terão um destino lingüístico próprio; mais conservador mostra-se o reino de Leão e Astúrias, absorvendo particularidades lingüísticas vindo de Toledo, mais inovador, os hábitos lingüísticos da Cantábria que fora pouco influenciado pelo poder da tradição do Latim, transforma rapidamente o idioma românico  falado naquela região.
Dessa maneira, surge na Cantábria, antes da Reconquista Castelhana, um grande número de perculiarismos que hoje distinguem o Castelhano – Espanhol dos outros idiomas peninsulares.
A Galiza, no entanto, é mais tranqüila e não transforma tão rapidamente o idioma como a região Cantábrica, porém não se mantém tão conservadora coma região das Astúrias.
As primeiras alterações fonéticas nesta época são: a nasalização das vogais que antecediam as consoantes nasais; fenômeno presente até nossos dias, e características especifica do Português [l e n t u] = / l ẽ t u /, também deixou desaparecer o - n - e l – intervocálicos: general > geral, palu > pau
Desse modo percebemos que nessa segunda fase de transformações que ocorrem no N.W da Península Ibérica, resulta traços progressivos e individuais na língua conservadora da Hispânia Ulterior, diferenciando-a dando-lhe a sua fisionomia própria pela qual a reconhecemos até agora.
Vale ressaltar que essa separação é um processo gradual, e as suas várias etapas explicam a lenta transição por línguas intermediárias, do português para o Espanhol.
Em se tratando dessa nova divisão geográfica ocorrida na P.I podemos destacar que ao contrário do fenômeno da romanização, a P.I não foi arabizada. Isso devido, as características fenotípicas dos povos árabes, pois a população que habitavam a P.I era mestiça (Pré Romano + Romanos + Germânicos) à hispano – godo, cristã e falantes de romance possuíam uma unidade étnica e encaravam os árabes como inimigos (não guardavam relação de semelhança). Para os hispano – godo os árabes eram o “outro”, o diferente, daí não os assimilar socialmente através de casamentos mistos.
O governo árabe na P.I deu-se de duas formas: religiosa para os que aceitaram pacificamente se converterem ao islã, a esses foi lhe dado direitos árabes, os Muwlladyns. E o domínio comercial foi exercido sobre os povos que não se converteram ao islã mais conviviam com os árabes em comunidades fechadas, eram cristãos e falavam os romances moçárabes, (várias formas dialetais que eram formas de falar).
A essas comunidades fechadas que se relacionavam comercialmente com os árabes foi dado o nome de moçárabes.
É importante destacar a presença árabe na P.I no entendimento do desenvolvimento da língua Portuguesa, pois nesse período a situação linguística se inverte. O NW vai passar por inovações devido a presença dos povos toledanos que migraram para lá, enquanto as comunidades moçárabes apesar das influencias árabes no léxico vai se manter mais conservador (romance moçárabe mais arcaizante) devido ao seu isolamento, os moçárabes eram comunidades que viviam em focos de irradiação por toda a P.I, misturavam-se a população árabe em derredor, sem permeabilidade para a língua árabe, as influências significativas são no léxico, cultura, arquitetura.
Vale ressaltar que a relação do NW da P.I com os Árabes foi sempre hosti, se encontravam apenas durante as guerras / confrontos por isso, o NW manteve um contato (abstrato) menor com os árabes em relação aos moçárabes que mantinham relações comerciais e a relação de adstrato foi maior em relação ao NW. Da P.I.
Com relação a reconquista cristã séc IX, podemos destacar que a população cristã do norte se organizam em reinos, no século X, surgem os reinos de Leão, Castela, Aragão, Condado Catalão, Condado Galego Portucalense (que era submisso ao reino de Leão).
A reconquista foi financiada pela igreja católica através das cruzadas-expedições de cavaleiros cristão organizados para combater os infiéis, os inimigos, os hereges – os árabes e o islã. As cruzadas caracterizaram-se num conflito religioso – Catolicismo x Islamismo. A expulsão dos árabes da P.I foi gradual e à medida que os cristãos do norte avançavam para o centro-sul da P.I os cristãos (moçárabes) se misturam aos seus irmãos do norte, influenciando-se mutuamente no que diz respeito à língua.
Em 1442, os Árabes são expulsos totalmente da cidade de Granada na Espanha
É a partir da reconquista cristã que irá se configurar um espaço para a formação da língua Portuguesa, pois os reinos possuíram unidades políticas e lingüísticas, isso significa que as variedades dialetais do norte se fixam nas fronteiras dos reinos, como exemplo podemos citar: o romance aragonês, romance Leonês, roamance Castelão etc.
Desse modo, as guerras se davam, não só contra os árabes, mas também contra reinos vizinhos.
No século XII, a configuração dos Reinos é alterada, Afondo Henriques “herda” o condado portucalense (através de pressão e sítio político, obriga a sua mãe a lhe entregar este condado, rompendo com seu avô). Tal atitude de Afonso Henrique era pautada nas suas vitorias diante dos árabes, enquanto o reino de maior prestigio (o do seu avô) não obtinha vitorias significativas.
Nasce assim o reino de Portugal, com a obtenção da autonomia do Condado Portucalense por Afonso Henriques e a reconquista de mais da metade do território de Portugal.
Em relação à língua portuguesa, falada do (séc. XII) a língua portuguesa, falada na Galícia era denominada galego-português, superando-se depois em Galego e Português, nesse período até o século XIV não existia grandes diferenças linguísticas.
No entanto é a partir de D. Diniz, já no séc. XII que a língua oficial do reino se tornará o português, sendo a língua dos documentos oficiais. Essa separação política e lingüística dos Reinos Galegos e Português é marcado pelo rio Minho, embora a divisão política tenha ocorrido cedo, a divisão lingüística vai demorar mais tempo para acontecer.
 Outro fato importante no reinado de Afonso Henriques é que no séc XII a sede da nação portuguesa que estava localizada entre o rio Minho e Douro em Guimarães, é deslocado para Coimbra.
Portugal nasce como nação ágrafa, uma vez que o latim era usado em situações de escrita e falado raramente em ocasiões especiais. O galego-português surge heterogêneo em seus usos.
No séc XV inicia-se a distinção lingüística entre o Galego e o português. O Cancioneiro Medieval português (escrito em galego-português) apresenta variações gráficas (ortográficos) lexicais, que apontam para a diversidade dialetal presentes na língua dos séculos XIII e XIV.
 Já em meados do séc. XIV pode-se encontrar diferenças entre textos produzidos ao norte e ao sul do rio Minho. A língua galega e a língua Portuguesa começam a se distanciar significativamente. Porém é nos documentos notariais que se pode encontrar maiores comprovações da diversidade dialetal.
As transformações lingüísticas nesse período são queda do – l – intervocálico e a ausência de ditongação no português e no Galego, enquanto no espanhol, aragonês, catalão a ditongação se mantém.
É importante perceber que o Galego se aproxima mais do Português do que do Espanhol, embora esteja classificado como uma variação do espanhol, isso se deve a questões políticas territoriais, já que a Espanha possui maior território, maior população e conseqüentemente maior número de falantes de seu idioma de prestigio – o espanhol, e maior número de literaturas traduzidas para esse idioma.
Com o advento da nação Portuguesa era importante delimitar suas fronteiras políticas e lingüísticas, daí que D. Diniz no século XII eleva a língua Portuguesa como língua oficial de Portugal sendo a língua dos documentos oficiais. (língua de prestigio)
Desse modo, as línguas românicas firmam-se a partir do momento em que a afirmação da identidade nacional dos países emergentes torna-se necessário. É nesse período também que começa a se difundir o ensino da língua Portuguesa, surgindo assim as primeiras gramáticas, a exemplo da gramática de Fernão de Oliveira (1536), logo após a de João de Barros (1540) e a gramática de Pero de Magalhães de Gândavo (1574).
A normatização da Língua Portuguesa só seria pensada a partir da Expansão Comercial e Marítima Portuguesa, em que devido as distâncias e o tempo das viagens eram necessários documentos escritos como relatos dos viajantes e das terras conquistadas, a exemplo da Carta de Pero Vaz Caminha. É essa língua de prestigio que se forma no século XVI que mais tarde será trazida para o Brasil de 1500.