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Salvador, Bahia, Brazil
A língua está em mim, me perpassa, faz parte da minha formação como ser social inserido num grupo. Compõe ainda a minha própria formação acadêmica já que resolvi após o primeiro curso superior (Administração), cursar Letras. Essa língua me representa em todos meus conflitos, pois suas características são iguais as minhas, um ser multifacetado, de exterior sóbrio e estático, mas no íntimo um turbilhão em movimento. Assim como um rio congelado que apresenta a sua superfície estática, mas o seu interior está sempre em movimento, num curso perene. Capacidade de adaptação e compreensão com singularidade e regionalidades tolerantes como próprios à língua. Escrever é para mim, como respirar, sinto essa necessidade e é através da escrita como afirmou Aristóteles que transitamos desde o terror até a piedade de nós mesmos e do outro. Esse ofício da escrita nos eleva, nos projeta, nos ressignifica quando tocamos o outro com as nossas palavras, seja no universo ficcional, biográfico ou autobiográfico. Escrever é uma necessidade, escrever é transpirar no papel as nossas leituras.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

LITERATURA POPULAR








Segundo Burke (1978) a cultura popular caracterizada pela diversidade, apoiada por uma minoria culta que tenta no século XIV reformar essa cultura, toma rumos inesperados, isso se deve as grandes transformações econômicas, sociais e políticas do período entre 1500-1800.
Podemos elencar essas transformações como: o crescimento populacional que ocasionou à urbanização das cidades proliferando a migração dos camponeses do campo para área urbana. A revolução econômica caracterizada por transformações econômicas que resulta na ascensão do Capitalismo Comercial e expansão do comércio dentro da Europa, a divisão internacional do trabalho, a revolução nas comunicações, o desenvolvimento da cultura de subsistência na agricultura etc.
Essas transformações afetam a cultura popular em cheio, pois, essa cultura estava intimamente relacionada com o seu ambiente, adaptada a diferentes grupos profissionais e modos regionais de vida. Necessariamente mudaria quando mudasse seu ambiente.
Uma das principais causas da ascensão da cultura popular é a revolução comercial que levou-a a uma idade de ouro, porém mais tarde numa revolução comercial aliada a revolução industrial irá contribuir para a destruição da cultura popular. Isso porque a transformação dos meios de produção impossibilitará a manutenção da personalização da produção artística e cultural dos artesões e a expansão do mercado destruiu a cultura material local.
No entanto, a o mesmo tempo podemos observar a dialética dessa revolução comercial em que o processo que destruiria a cultura popular tradicional possibilitou antes algumas das suas belas realizações, sobre esse fato podemos observar que a cultura popular ganha força enquanto que no campo ocorre o empobrecimento cultural significativo, devido à migração.
É importante mencionar a questão do uso da alfabetização que será importante nessa analise já que agora a cultura popular está sendo comercializada sob a forma de livro impresso (antes utilizava-se as grandes narrativas).
Podemos perceber nesse fato que essa transformação irá afastar do povo a sua própria cultura, pois as narrativas que esse povo antes estavam acostumados a ouvir, agora só poderia ter acesso através da leitura, no entanto a grande massa não era alfabetizada, o que legitimava o livro como forma de poder simbólico, de separação, forma de barrar o outro ao acesso a cultura.
Sobre isso fazemos menção a Canclini que irá analisar esse movimento na modernidade em que a “nobreza” ou “Aristocracia” irá se valer de três formas de movimento ou operação a fim de que seja estabelecida a separação entre o culto e o popular/intelectual e o povo (massa), o nobre e o plebeu.
Segundo Canclini (2000), essa modernização com expansão restrita do mercado, democratização para minorias, renovação das idéias, mas com baixa eficácia dos processos sociais. Esses desajustes entre o modernismo e a modernização foram úteis às classes dominantes para preservar sua hegemonia mediante três operações: espiritualizar a produção cultural, (que significa marcar a diferenciação entre arte/artesanato), engessar a circulação dos bens simbólicos em coleções, concentrando-os em museus e centros exclusivos e propor como única forma legítima de consumo desses bens, essa modalidade também espiritualizada hierática de recepção que consiste em contemplá-los.
Ainda sobre as transformações da cultura popular no período entre 1500 – 1800, podemos elencar três problemas de acesso, em relação à divulgação da cultura para as massas, são eles: o acesso físico os livros não chegavam até os camponeses, o acesso econômico, os camponeses/artesões não podiam adquirir essa literatura devido ao preço do papel (que correspondia a uma parcela maior do que o custo de produção do que hoje em dia) e finalmente a terceira é o acesso linguístico a forma de registro desses livros, não era adequada ao camponês/artesão semi-alfabetizado ou analfabeto.
Vale ressaltar ainda duas transformações graduais que influenciam o declínio da cultura popular era uma cultura de todos: uma segunda cultura para os instruídos (clero) e a única cultura para os outros. Já em 1800, porém na Europa, o clero, a nobreza, os comerciantes, os profissionais liberais haviam abandonado a cultura popular às classes baixas das quais agora estavam separados por profundas diferenças de concepção de mundo.
Esse afastamento da cultura popular por essas classes possui razões deferentes para cada uma em particular, pois no caso do clero a retomada fazia parte das reformas católicas e protestantes. Para os nobres e a burguesia, a reforma foi menos importante do que a Renascença que os incentivou a adotarem maneiras mais polidas, um estilo novo e mais autoconsciente de comportamento, modelado por livros de boas maneiras que orientava a exercer autocontrole a indiferença, cultivar senso de estilo, andar de modo altivo, falar, escrever corretamente segundo regras formais evitando assim dialetos e termos técnicos utilizados pelos camponeses. Tais modificações tiveram sua função social.
É importante observar que essa retirada da cultura popular ocorreu em ritmos diferentes em diferentes partes da Europa, no entanto a explicação é clara: a cultura erudita transformou-se com grande rapidez entre os períodos de 1500 a 1800, períodos marcados pela Renascença, Reforma e Contra- Reforma, da Revolução científica e do Iluminismo, apesar de ainda nessa época existir um diálogo entre as duas culturas, (Mascates distribuíram livros e panfletos de Lutero e Calvino, Voltaire, Rousseau; pintores camponeses imitavam o barroco e o rococó com auxílio de gravuras). No entanto, isso não foi suficiente para impedir o distanciamento entre a cultura erudita e a cultura popular, pois as tradições orais e visuais não conseguiram observar rápidas transformações propostas.
Já no século XIX, o crescimento das cidades, a difusão das escolas e o desenvolvimento das ferrovias, entre outros fatores, tornavam possíveis e até inevitável a rápida transformação da cultura popular.





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