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A língua está em mim, me perpassa, faz parte da minha formação como ser social inserido num grupo. Compõe ainda a minha própria formação acadêmica já que resolvi após o primeiro curso superior (Administração), cursar Letras. Essa língua me representa em todos meus conflitos, pois suas características são iguais as minhas, um ser multifacetado, de exterior sóbrio e estático, mas no íntimo um turbilhão em movimento. Assim como um rio congelado que apresenta a sua superfície estática, mas o seu interior está sempre em movimento, num curso perene. Capacidade de adaptação e compreensão com singularidade e regionalidades tolerantes como próprios à língua. Escrever é para mim, como respirar, sinto essa necessidade e é através da escrita como afirmou Aristóteles que transitamos desde o terror até a piedade de nós mesmos e do outro. Esse ofício da escrita nos eleva, nos projeta, nos ressignifica quando tocamos o outro com as nossas palavras, seja no universo ficcional, biográfico ou autobiográfico. Escrever é uma necessidade, escrever é transpirar no papel as nossas leituras.

Monografia

UFBA - UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
INSTITUTO DE LETRAS
CURSO DE LETRAS VERNÁCULAS









História da Linguística / O Formalismo e o Funcionalismo/
A Virada Pragmática.









Salvador, Agosto, 2011


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História da Linguística / O Funcionalismo e
a Análise do Discurso.


Salvador, Agosto, 2011



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“O silêncio é o real do discurso.”

Orlandi








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SUMÁRIO




1          INTRODUÇÃO...............................................................................6,7

2           PANORAMA GERAL – HISTÓRIA DA LINGUÍSTICA..........8,9

3          ABORDAGEM FORMAL / FUNCIONAL................................10-15

4          A VIRADA PRAGRMÁTICA.....................................................16-25

5          EXEMPLO....................................................................................26,27

6          CONCLUSÃO.....................................................................................28

7          REFERÊNCIAS..............................................................................29-30







1          INTRODUÇÃO


Os embates teóricos e metodológicos entre os formalistas russos desemborcaram nos estruturalismos funcionais, projetados com o Circulo Linguístico de Praga, fundado por Trubetskoy e Jakobson, dentre outros, em 1926. As formulações teóricas que ali foram emboçadas disseminaram-se a partir do Congresso Internacional de Linguística de haia, em 1928, e da elaboração das Teses de Praga. Das referidas teses emana o principio básico do Funcionalismo, segundo o qual a natureza das funções linguísticas determinam a estrutura da língua.
O Funcionalismo é um "movimento particular dentro do Estruturalismo" (LYON, 1981, p. 166) defende a hipótese de "que a estrutura fonológica, gramatical e semântica das línguas são determinadas pelas funções que exercem na sociedade em que operam".
O Funcionalismo concebe a linguagem prioritariamente, como instrumento de interação social, validado pelos falantes com o objetivo principal de transmitir informações aos interlocutores em geral. Ou seja, quando se fala em Funcionalismo, insiste-se sobre tudo na ideia de uma analise linguística que considera metodologicamente o componente discursivo, dada sua função prioritária na gramática de uma língua.
As correntes Funcionalistas atuais, por sua vez, com mais veemência enfatizam as características inerentes ao emprego das expressões linguísticas no discurso, abrangendo fenômenos interacionais, sociais, culturais, cognitivos e outros.
No que concerne aos principais representantes do Funcionalismo clássico, é plausível citar os membros da Escola de Praga como (Buhler, Jakobson, e Martinet), a escola de Londres e Halliday. No âmbito das abordagens Funcionalistas vale colocar em evidencia os nomes Gívón, Heine, Bybee e Traugott. No Brasil destacam-se, entre outros os trabalhos de Ataliba Castilho, Sebastião Votre, A. Naro e Adair Gorski.
A "função" na teoria Funcionalista, não se aplica as relações de interdependência entre as palavras na oração (as ditas "funções sintáticas": objeto direto, objeto indireto, etc.); refere-se "ao papel que a linguagem desempenha na vida dos indivíduos (...)" (NEVES 2004, p.8). Para Halliday (1973; 104. Apud. Neves, 2004: 8), esse é o sentido básico e principal do termo "função" do Funcionalismo. Na gramática funcional de Halliday, importa investigar o modo como os significados são veiculados, o que implica considerar as formas da língua como um meio para a realização de um propósito, e não como um fim em si mesmas. A denominação Gramática Funcional diz respeito a uma teoria linguística que, assentada no componente significativo (caráter funcional), procura interpretar as formas linguísticas (caráter gramatical).
Como é intenção do falante comunicar-se mediante a realização de enunciados, ele aciona a função interpessoal, pela qual pode "agir" sobre o seu destinatário. Assim, a estrutura sintática – semântica da frase se adaptará a realidade, o que implica necessariamente, diferença na analise e na interpretação dos constituintes frásicos. O falante pode, conforme sua perspectiva, selecionar um novo predicador (verbo) e, consequentemente as unidades a ele relacionada (seus argumentos).Tomemos para exemplo a frase seguinte: " O maratonista corria muito." Nesta frase, há um predicador de 'ação' (correr) que determina uma estrutura semântica, a qual inclui, necessariamente um agente (maratonista). Esse predicador determina, portanto, um esquema sintático – semântico especifico.




2           PANORAMA GERAL – HISTÓRIA DA LINGUÍSTICA


Segundo, Weedwood (2002) a Linguística é uma ciência geral que estuda a principal modalidade dos sistemas sígnicos, as línguas naturais, que são a forma de comunicação mais altamente desenvolvida e de maior uso e que a mesma detém-se somente na investigação científica da linguagem verbal humana.
Segundo a autora uma peça de teatro, uma musica, uma mímica, um gesto, podem expressar, de formas diferentes, um conteúdo igual, mas só a linguagem verbal é capaz de revelar com maior eficiência qualquer um desses sistemas semióticos.
As línguas naturais possuem, entre outras, as propriedades de flexibilidade e adaptabilidade, que permitem expressar conteúdos bastante variados: emoções, sentimentos, ordens, perguntas, como também possibilitam falar do presente, passado ou futuro.
Ao observar a língua em uso o linguista procura descrever e explicar os padrões sonoros, gramaticais e lexicais que estão sendo usados, sem avaliar aquele uso em termos de um outro padrão: moral, estético ou crítico.
Para Weedwood (2002) a prioridade atribuída pelo linguista ao estudo da língua falada explica-se pela necessidade de corrigir os procedimentos de análise da gramática tradicional.
O prestígio e a autoridade da língua escrita em nossa sociedade, muitas vezes, são obstáculos para os principiantes nos estudos da Linguística, que têm dificuldade em perceber e aceitar a possibilidade de considerar a língua falada independentemente de sua representação gráfica.
Weedwood ressalta ainda que os critérios de coleta, organização, seleção e análise dos dados linguísticos obedecem aos princípios de uma teoria linguística expressamente formulada para esse fim e que os resultados obtidos são correlacionados às informações disponíveis sobre outras línguas com o objetivo de elaborar uma teoria geral da linguagem.
A autora apresenta a Filologia como conjunto de conhecimentos necessários para interpretar e conhecer um texto, que antigamente se ocupava em fixar e comentar os textos literários procurando extrair regras de uso linguístico e que, modernamente, estuda a língua, a literatura e todos os fenômenos culturais de um povo por meio dos seus textos escritos, distinguindo-se, no entanto, da linguística, na medida em que esta centra o seu interesse na língua, e aquela nos textos.

Weedwood (2002), afirma que o campo da linguística pode ser dividido por meio de três dicotomias: sincrônica, visa estabelecer os princípios fundamentais pertencentes a um determinado estado de língua, enfocando o sistema linguístico em funcionamento num determinado momento, sem a perspectiva histórica e diacrônica, na qual os fatos são analisados quanto às suas transformações, pelas relações que estabelecem com os fatos que o precederam ou sucederam; teórica, procurando estudar como as pessoas usando suas particulares linguagens conseguem realizar comunicação, quais propriedades todas as linguagens têm em comum, qual conhecimento uma pessoa deve possuir para ser capaz de usar uma linguagem e como a habilidade linguística é adquirida e aplicada, utilizando conhecimentos da linguística para solucionar problemas, geralmente referentes ao ensino de línguas, à tradução ou aos distúrbios de linguagem; microlinguística trata unicamente de sistemas linguísticos (visão mais estreita) e microlinguística, trata de tudo o que é pertencente às línguas (visão mais ampla);
A autora observa que na microlinguística podem ser inclusos os estudos que se preocupam com a “língua em si”, (fonética, fonologia, morfologia, sintaxe, semântica e lexicologia). E que também diversas áreas dentro da microlinguística têm recebido nomes próprios, (Psicolinguística, Sociolinguísticas, Linguística antropológica, e Linguagem computacional, etc).




3          ABORDAGEM FORMAL / FUNCIONAL


O formalismo, dada a abrangência de seus estudos, influenciou o Estruturalismo e as correntes advindas deste no século XX. No âmbito da Linguística Estrutural europeia, ou da análise estrutural de Ferdinand de Saussure (1857-1913), ganham importância a Escola de Praga, matriz da Linguística Funcional, tendo à frente as parcerias entre Nikolai Troubtskoi e Roman Jakobson; e a Escola de Copenhaque, de base formalista, com Louis Hjelmslev, cujas formulações teóricas orientaram a Escola Americana e a Linguística Descritiva de Bloomfield (FARIAS Jr., 2003, p.2).
Desde seus primeiros anos, o Formalismo, não se orientou por uma doutrina uniforme, decorrendo daí concepções diferentes dentro do próprio movimento, que apontaram para o surgimento de grupos discordantes, se não de todo, mas de boa parte de seus postulados sobre a língua e a linguagem. Na Europa, os formalistas organizaram-se em dois grande grupos: o Círculo Linguístico de Moscou, fundado em 1915, e o OPOJAZ (Sociedade para o Estudo da Linguagem Poética), fundado em 1916 na cidade de São Peterbusgo.
O Círculo Linguístico de Moscou tinha como objetivo sistematizar as descobertas sobre os problemas da linguagem prática e linguagem poética, enquanto o OPOJAZ visava elaborar princípios de descrição sincrônica e definir os dispositivos específicos da língua poética. Os linguistas do OPOJAZ, tendo à frente Viktor Shklovsky e Roman Jakobson, adotaram o método mecanicista ou formal, focado na técnica e no dispositivo centrado nos procedimentos técnicos de análise linguística. Para os referidos estudiosos, a literatura, como trabalho artístico, é a soma de dispositivos artísticos e literários que o artista manipula para criar sua obra, considerada como uma entidade autônoma, porém isolada do seu contexto e autor.
As deficiências desse método motivaram a elaboração de outro modelo: orgânico, criado pelos teóricos que se mantinham em atitude de discordância. Tal método, orientado pelos princípios da Biologia, ocupou-se do estudos das similaridades entre as formas literárias, tratadas como organismos individuais que conservam entre si traços comuns aos gêneros da literatura. A recorrência de determinados traços lingüísticos e a forma como os mesmos se apresentam definem os diferentes estilos da literários. No entanto, mecanicistas e orgânicos não explicaram as mudanças que, ao longo do tempo, afetam o sistema literário, seu código linguístico e os dispositivos de análise de seus organismos.
Como já citamos na introdução deste trabalho, os embates teóricos e metodológicos entre os formalistas russos desembocaram nos estruturalismos funcionais, projetados com o Círculo Linguístico de Praga, fundado por Trubetskoy e Jakobson, dentre outros, em 1926. As formulações teóricas que ali foram esboçadas disseminaram-se a partir do Congresso Internacional de Linguística de Haia, em 1928, e da elaboração das Teses de Praga. Das referidas Teses, emana o princípio básico do funcionalismo, segundo o qual a natureza das funções linguísticas determina a estrutura da língua. A Função é a tarefa atribuída a um elemento linguístico estrutural para atingir um objetivo no quadro da comunicação humana, Logo, a função determina a forma linguística. (MUSSALIM & BENTES, 2001, p.69-70).
Troubetskoi, fundamentando-se nas ideias de Saussure, contribuiu para o desenvolvimento da fonologia, sistematizando-a como disciplina, garantindo-lhe difusão internacional a partir da Primeira Conferência Internacional de Fonologia em 1930.
Roman Jakobson deu prioridade ao estudo da linguagem poética e aproximou outras disciplinas, como fonologia e a antropologia da linguística. Os conceitos básicos de seus estudos foram desenvolvidos em torno dos seguintes dispositivos: 1) similaridade e contiguidade; 2) Metáfora e Metonímia; 3) Equivalência; 4) Ambiguidade. Na perspectiva jakobsiana, a literatura e a linguística estreitamente estão ligadas nos fundamentos da poética. A poesia seria dominada pela metáfora, enquanto a prosa funcionaria sob a metonímia. Coube também Jakobson os louros pela classificação das funções da linguagem: a função referencial, emotiva, conotativa, fática, metalinguística, poética. Embora ele tenha acrescentado apenas duas funções às já formuladas por seus pares: a função poética e a função referencial. A definição dada por ele para a função poética implica que a linguagem poética não tem por função primordial descrever o mundo real; enquanto a função referencial não é mais que acessória, e ela é mesmo seriamente o pacificada pelo trabalho poético.
Dos desdobramentos das ideias dos formalistas e de suas oposições desenvolveram-se os trabalhos do funcionalismo que, longe de se constituir uma corrente distinta do estruturalismo, mantêm vínculos com a Linguística de Saussure e com outras correntes, as quais, segundo PAVEAU & SARFATI (2006, p. 115), “não constituem corpos teóricos completos e autônomos, mas correntes imbricadas umas nas outras, ligadas por relações de filiação ou de oposição e por escolhas teóricas complexas. De fato, o funcionalismo tem seu lugar no conjunto do movimento estruturalista; é um estruturalismo específico que se pode chamar de estruturalismo funcional”.
Esses autores concebem o funcionalismo como sendo mais que um conjunto de teorias, “um olhar sobre a linguagem e suas relações com o mundo”. E se há um posicionamento teórico, no “continente do estruturalismo ao qual o funcionalismo se opõe é ao formalismo”, cuja abordagem, privilegia o estudo do “funcionamento interno do sistema linguageiro”, as características internas à língua, ou seja, o aspecto formal da língua; enquanto o funcionalismo privilegia “as constantes transformações das formas da linguagem na sociedade”, o significado e o uso das formas linguísticas nas situações comunicativas.
Na perspectiva do Funcionalismo ganham relevo o trabalho dos linguistas André Martinet e Halliday. O primeiro defende, como princípio teórico, a definição de língua como “instrumento de comunicação duplamente articulado e de manifestação vocal”. O segundo defende uma abordagem sócio-funcional que incorpora a dimensão social à linguística. A linguagem, segundo ele, é dependente da cultura. Martinet pauta-se por uma linguística objetiva e generalista, seu trabalho consiste numa reflexão constante sobre a diversidade das línguas e as diferenças entre línguas. Os conceitos centrais de suas proposições linguísticas são apresentados em 1989 na obra Fonction et dynamique des langues. Conforme a conceituação de Martinet, os quatro domínios que consistem disciplinas autônomas compreendem: a Função, na qual “os traços linguageiros” são apreendidos e classificados em referência ao papel que desempenham na comunicação da informação; a Pertinência Comunicativa que advoga o fundamento de cada ciência em sua pertinência.
Na linguística funcional, estimamos que a pertinência é a pertinência comunicativa; a dupla articulação: fonemas e monemas, cada uma das unidades que resultam de uma primeira articulação está articulada a outras unidades; e a Linguística geral funcional, dividida em fonologia – o estudo da forma com que cada língua utiliza os recursos fônicos para assegurar a comunicação entre seus usuários, monemática - distingue os monemas lexicais e os monemas gramaticais; c) sintemática - estuda os sintemas (...) um segmento de enunciado que comporta vários monemas lexicais combinados entre si; d) sintaxe - estuda as relações de dependência dos monemas e as funções que eles assumem em um dado enunciado. (PAVEAU & SAFARTI, 2006, p.136-138).
Dentre outros funcionalistas, Halliday tem destaque com a elaboração de uma Gramática Funcional, definida por NEVES (1997, p.2) como uma “teoria da organização gramatical das línguas naturais que procura se integrar em uma teoria global da interação social”. Halliday estabeleceu o modelo sistêmico-funcional a partir de sua abordagem sobre a linguagem atrelada à função social, com trabalhos que abrangem o texto e o discurso. Para ele, a linguagem é uma parte do processo social e ao mesmo tempo metáfora de tal processo. E denomina “metafunções” a articulação entre os dados sociais e as formas linguísticas. Para ele “metafunções” são conceitos teóricos que “permitem compreender a interface entre a linguagem e o que está fora da linguagem”. O texto é privilegiado como unidade de estudo em vez da sentença ou unidade sintática. Ele propõe os seguintes tipos de função: a) ideacionais (ou cognitivas); b) interpessoais (ou modais); c) textuais.
Os formalistas do Círculo de Copenhaque, do qual Hjelmslev foi o fundador (1931), colocam-se, teoricamente, contra os funcionalistas do Círculo de Praga. Para os formalistas a língua é uma estrutura autônoma e deve ser interpretada como “uma unidade encerrada em si mesma”. CUNHA, Et.Al. (2003, p.19). Essa corrente encontrou sua expressão no contexto do Estruturalismo americano com os trabalhos de Bloomfield e Harris, apoiados nos estudos Antropologia.
Na primeira metade do século XX, as teorias europeias já estavam bastante difundidas na América do Norte. No entanto, os linguistas se confrontaram com línguas cujas estruturas diferiam do paradigma europeu, fato que os levou a desenvolver uma Teoria da estrutura das línguas. E adotaram o método descritivo para o conhecimento das línguas ameríndias. Antes de 1950, entrou em cena o Descritivismo, ou Distribucionalismo, caracterizado por uma abordagem teórica abstrata da linguagem e pela negação dos postulados funcionalistas. Bloomfield, um dos principais expoentes do descritivismo estruturalista, “adotou uma perspectiva explicitamente behaviorista do estudo da língua, eliminando, em nome da objetividade científica, toda referência a categorias mentais ou conceituas.” (WEEDWOOD, 2002, p.131).
Sob o argumento de que os estudiosos da linguagem não dispunham de meios para definir a maior parte das significações, Bloomfield propôs uma organização das formas linguísticas, que considerasse o caráter específico e estável de uma língua, a exemplo de algumas comunidades, nas quais alguns enunciados são semelhantes pela forma e significação. As formas linguísticas, como unidades de sinal, suscitam respostas a uma situação entre os interlocutores, o significado é apenas um estímulo e uma reação verbal. Bloomfield distingue duas formas linguísticas: a forma gramatical, constituída pela combinação dos texemas (traços de disposições gramaticais); a forma lexical pela combinação de fonemas que possui um sentido estável em uma comunidade linguística. PAVEAU & SARFATI (2006, p. 151-152).
Na década de 60, Chomsky propôs uma teoria transformacional e gerativa, ou Gerativismo. Elaborou uma teoria geral, através da qual introduziu conceitos fundamentais de sua lingüística. Sua concepção de língua considera a capacidade do falante de exprimir pensamentos através das frases. Distinguiu “estruturas profundas” (o sentido), gerado pelas “estruturas de superfície”(a camada sonora) da frase. (PAVEAU & SARFATI (2006, p. 167-171).
Chomsky, embora fosse discípulo Harris que recebeu influência de por Bloomfield, empenhou-se em elaborar uma gramática que não se limitasse ao descritivismo, mas que desse conta de explicar as razões das transformações de uma determinada língua e de suas as possibilidades de sequências e combinações verbais e sonoras. Chomsky situou o trabalho do linguista ao lado da competência dos falantes e dos conhecimentos intuitivos que estes têm sobre como usar língua.
A combinação do estruturalismo com o funcionalismo é também uma herança da Escola de Praga. Os funcionalistas são, portanto, estruturalistas na medida em que seu objeto é de fato a língua como sistema. Porém, a abordagem lingüística difere das abordagens formalistas, pois concebe a linguagem como um instrumento de interação social, e busca a motivação para os fatos da língua no contexto do discurso, extrapolando a investigação da estrutura gramatical. O tratamento de uma língua natural sob a perspectiva funcionalista, põe sob exame a competência comunicativa. A Perspectiva Funcional da Sentença (PFS) é um ponto fulcral para os funcionalistas, quanto à estrutura gramatical das línguas naturais.
CUNHA, Et.Al (2003, p.29) destacam outros aspectos que diferenciam o funcionalismo contemporâneo do formalismo: “primeiro por conceber a linguagem como um instrumento de interação social, e segundo por buscar no contexto discursivo a motivação para os fatos da língua.” Para esses estudiosos “a estrutura gramatical depende do uso que se faz da língua, ou seja, a estrutura é motivada pela situação comunicativa. Nesse sentido, a estrutura é uma variável dependente, pois os usos da língua, ao longo do tempo, é que dão forma ao sistema”. OLIVEIRA (2006, p. 98) observa que “Tanto o funcionalismo como o formalismo tratam do mesmo fenômeno: a língua. Contudo, a forma como vêem esse fenômeno é distinta, o que implica o uso de metodologias distintas no estudo desse fenômeno“.
Na perspectiva formalista, “a língua é analisada como um objeto autônomo, cuja estruturam, independe de seu uso”. Esta visão contrapõe-se à funcionalista que concebe a língua como um instrumento de comunicação, e como tal, “deve ser analisada como uma estrutura maleável sujeita às pressões oriundas das diferentes situações comunicativas que ajudam a determinar sua estrutura” (MARTELOTTA & AREAS, 2003, p. 20).

Há ainda outra divisão ou tipos de funcionalismo: o conservador, que aponta a inadequação do Formalismo ou do Estruturalismo, sem propor uma análise de estrutura; o moderado, que aponta essa inadequação e propõe uma análise funcionalista da estrutura; e extremado que nega a realidade da estrutura e considera que as regras se baseiam internamente na função, não havendo restrições sintáticas.
De modo geral, o Funcionalismo tem um denominador comum, porém podem ser distinguidos, pelo menos, dois tipos de funcionalismo: um funcionalismo direcionado a um modelo abstrato de uso da língua e outro, direcionado à língua tal como ela se manifesta em seu uso efetivo. Resumindo, formalismo e o funcionalismo são correntes teóricas da Linguística do século XX através das quais os estudiosos da Língua buscam explicar os fenômenos linguísticos. Embora estas correntes se ocupem do mesmo objeto de estudo e possuam entre si pontos convergentes, apresentam divergências quanto à forma de abordagem dos referidos fenômenos.


4          A VIRADA PRAGAMATICA:


4.1 AS TEORIAS PRAGMÁTICAS

          4.1.1 Intelectuais
Em inicio, a reflexão de tipo pragmático não estabelece, por assim dizer, nenhuma ligação com a reflexão linguística, já que ela se origina em uma série de interrogações essencialmente filosóficas. Mesmo se, na maioria dos casos, ela tenha acabado por se fundir e confundir-se com os estudos linguísticos, a pragmática nasceu da filosofia da linguagem.
A emergência e a constituição do domínio pragmático são antes de tudo imputáveis a uma situação de crise da filosofia, ocorrido no final do século XIX, em razão da qual as diferentes correntes de pensamento efetuaram um retorno radical à questão da linguagem. A conjuntura era então a de uma tripla problematização das matemáticas (Cantor descobre a presença de antinomias nos sistemas axiomáticos; Godel estabelece a incompletude da lógica), da lógica clássica (o debate que opõe Frege e Husserl e a Brentano marca o recuo do psicologismo e anuncia a pesquisa de uma linguagem e de um método capazes de garantir a objetividade das proposições) assim como da metafísica tradicional (ela se traduz pelo questionamento das construções especulativas herdeiras do idealismo e, sob influencia do Circulo de Viena, produziu um discurso de justificações da atividade humana).
Todo o edifício conceitual é colocado em causa, obrigado filósofos e teóricos a se debruçarem radicalmente sobre a questão da linguagem e de suas funções, condições sine qua non de toda atividade racional.
Essa crise da racionalidade tem como efeito o fato de tornar os teóricos mais do que nunca sensíveis ao parâmetro linguageiro. A descoberta de Cantor  (o conjunto infinito e o conjunto dos conjuntos infinitos) colocou à prova o caráter inevitável da significação e tornou necessária e urgente a construção de uma língua perfeita que tornaria impossível, no futuro, a formulação de pares incoerentes. Uma tal língua asseguraria ao calculo um fundamento estável.
O fato é que as línguas naturais (a "língua ordinária") em muitos aspectos são improprias para as operações de cálculo: equivocidade (ambiguidade), subjetividade (afetividade), circularidade (reflexividade), comunicabilidade (contra a informatividade Pura), indicialidade (ancoragem espaco-temporal) tais são os diferentes componentes pragmáticos de uma língua natural. A tornada de consciência desse estado de coisas motiva aquilo que a critica costuma
denominar a "virada linguística da filosofia" (the linguistic turn of philosophy).  Com esse rótulo, designa-se esse ponto de mutação do projeto filosófico que é instado, sob o impulso dessa crise, a se re-centrar sobre a questão da linguagem e sua potência.
A primeira filosofia analítica se desenvolve sob o impulso dos trabalhos de Frege sobre a redução da aritmética as operações da logica. No Tractatus logico-philosophicus, L. Wittgenstein (1989-1951) redefine a filosofia como uma atividade de elucidação e limita sua jurisdição à logica das proposições.
Segundo essa ótica, urna proposição, comparada a um "quadro" devera representar um estado do mundo. Com os Principia Mathemutica. B. Russell  (1872-1970) contribui, entre I910 e 1913, com a refundação das matemáticas sob princípios lógicos. A teoria dos tipos aporta notadamente urna solução ao paradoxo lógico (aquele "da classe de todas as classes que não e membro dela mesma". que expressa a antinomia do conjunto dos conjuntos infinitos). Russell distingue um sofisma nessa formulação. Aquilo que inclui "todas" os elementos de um conjunto no deve ser um elemento do conjunto. Tentando dar uma resposta ao problema da referenda ambígua ou da ausência de referência  (mascarada pela existência de proposições nem verdadeiras nem falsas). B. Russell elabora a teoria das descrições. Mas, em reação ao reducionismo
logicista, uma segunda corrente se desenvolve no interior da filosofia analítica. Seus principais representantes elegeram como objetos de pesquisa as formas  usuais do pensamento (1ógica das línguas naturais) assim como as formas usuais da linguagem (“linguagem ordinária"): G.F. Moore, G. Rvle, P.F. Strawson. S.F.
Toulmin. J.L. Austin entre outros, ilustram esse importante movimento.
Quando, no inicio dos anos 30 do século XX. Wittgenstein afasta-se da logica, e para orientar sua reflexão sobre a elucidação das propriedades de uma língua natural. A esse respeito, a critica distingue dois períodos na obra desse filósofo. Afastando-se de seus primeiros trabalhos de logica, o filósofo formula, em Recherches Philosophiques, as grandes linhas de um programa de pesquisa inédito, relativo ao exame das relações que uma língua natural estabelece com a categorização da experiência, a percepção, o mundo da
cultura. Wittgeinstein distingue principalmente a função de comunicação da linguagem vernácula: a cada domínio de praticas (formas de vida) corresponde uma multiplicidade de cenários de comunicação (jogos de linguagem). Sob influência da segunda filosofia analítica, os filósofos passaram a considerar de forma inusitada os propósitos da atividade filosófica.

4.1.2    Pragmática e linguística

Quer seja autônoma (filosofia da linguagem ordinária) ou incorporada (pragmática linguística), a pragmática conserva, apesar de tudo, uma identidade própria. Suas orientações tomam um caminho diferente daquele do Curso de Linguística Geral de Saussure. Dois debates históricos (Benveniste/Austin; Ducrot/Searle) fizeram a pragmática progressivamente adaptar-se à linguística. E importante caracterizar os jogos terminológicos de maneira a delimitar de forma mais rigorosa o espectro teórico da pragmática.
As denominações são abundantes e podem levar a confusão se não tomarmos cuidado com elas. Para precisar a terminologia, proporemos as seguintes definições:
-  O termo pragmática  qualifica um domínio de escudos, sem especificação de um objeto de pesquisa a priori;
- A expressão pragmática filosófica designa seja o fato de que a pragmática deriva historicamente da filosofia, o que constitui uma redundância. seja os projetos de refundação das grandes questões da filosofia (conhecimento. moral. politica...) a partir das aquisições da filosofia analítica;
- A expressão pragmática linguística designs o conjunto das teorias elaboradas, no quadro da linguística, a partir da integração dos conceitos e perspectivas de trabalho da filosofia da linguagem ordinária;
- Reservaremos a expressão pragmática da linguagem para designar o conjunto de modelos de tipo pragmático que tomam como objeto de estudos diferentes aspectos da linguagem não articulada (especialmente os sistemas culturais enquanto sistemas integrantes de comunicação).
A questão do contexto deve ser, igualmente, especificada, se quisermos fazer dele um concerto operatório. Levar em conta o nível de analise que esse termo designa revela-se com efeito determinante para a caracterização da pragmática em termos de construção teórica.
Frequentemente definida como a ciência do contexto, a pragmática distingue diferentes tipos, ou, mais exatamente, assinala diferentes níveis de estruturação do contexto:
- O contexto circunstancial corresponde ao ambiente físico imediato dos protagonistas (espaço, tempo. natureza e textura da comunicação);
-    O contexto situacional coincide com o ambiente cultural do discurso. Enquanto tal, ele define os critérios de validade (qual tipo de expressão,
considerada como "normal" em uma cultura, mostra-se "anormal" em uma outra). Ele opera como uma matriz de gêneros em função das praticas que determina;
- O contexto interacional caracteriza as formas do discurso e os sistemas de signos que as acompanham (turnos de fala, gestos...);
- O contexto epistêmico (ou pressuposicional) recobre o conjunto dascrenças e valores comuns aos locutores, seja de maneira a priori (pré-construido), seja a posteriori (construído).

4. 2      OS DOMÍNIOS TEÓRICOS
2.1. J. L. Austin (1911-1960): a teoria dos atos de fala

A ilusão descritiva. A constituição da "linguagem ordinária" em objeto de conhecimento procede, como já vimos, de uma oposição ao logicismo. E nesse contexto que é preciso situar a teoria dos atos de fala. Ela constitui uma superação da concepção clássica de linguagem. John L. Austin contesta, com efeito, o primado da frase afirmativa que fora erigida, na concepção representacionista, como protótipo da verbalização. A ilusão descritiva, ligada a essa concepção, nasce do desconhecimento de outros valores linguísticos.
Constativo/performativo. Tanto a gramatica tradicional quanto a filosofia da linguagem em sua versão logicista só reconhecem dois tipos de formações linguísticas: as proposições dotadas de sentido (verdadeiros ou falsos) e as sem-sentido. As proposições éticas (os enunciados da moral, bíblicos etc.), afirma Austin, logo chamaram a atenção dos filósofos, pois elas não são nem afirmações nem sem-sentido. A consideração desse tipo de enunciados abre uma nova pista para a compreensão da linguagem. Austin avança uma primeira hipótese: as línguas naturais se organizam em torno de uma distinção funcional entre dois tipos de enunciados (com exceção do sem-sentido): os enunciados constativos que descrevem uni estado de coisas (como no exemplo 1) e os enunciados performativos, que permitem realizar um certo tipo de ação (como no exemplo 2 ):
(1) O céu esta azul
(2) Eu prometo resolver esse problema
Os enunciados do tipo (1) são verdadeiros ou falsos, na medida em que eles dão ou não dão conta de um estado de coisas objetivo (o fato de o céu estar ou não azul no momento da fala) e obedecem a condições de verdade  (empiricamente observáveis). Os enunciados do tipo (2) não são nem verdadeiros nem falsos, mas susceptíveis de serem "felizes" ou "infelizes” (eles exprimem um engajamento do locutor, ou qualquer outro tipo de intervenção), eles respondem a condições de felicidade (a sinceridade presumida do locutor não e empiricamente verificável).
Aspectos da performatividade. Os enunciados performativos validam a ideia da sobre determinação da linguagem já que eles são regidos por diferentes tipos de convenções. Os exemplos escolhidos por Austin validam, pelo menos em principio, esse postulado: o casamento, a inauguração, a legação testamentaria. a aposta constituem atos de fala regidos por regras precisas e necessárias, partilhadas, ou ao menos conhecidas por todos os membros de uma mesma sociedade.
Todavia, o êxito dos atos de fala, por mais ritualizados que eles sejam, supõe o respeito a um certo numero de condições: linguísticas (certas formulas devem ser empregadas à exceção de outras); sociológicas (os locutores devem ser investidos de autoridade ou do estatuto requerido pela situação, em um tempo e lugar adequados), psicológicas (a disposição de espírito dos locutores deve estar conforme ao tipo de compromisso que eles assumem). Austin deu o nome de "teoria dos jogos" a formulação dessas exigências teóricas, enfatizando, assim, a importância da observação simultânea desse conjunto de regras. Com efeito, a desobediência a uma dessas três condições não permite que se alcance o êxito do ato. Por realismo, entretanto, Austin deixa entender que a transgressão do pré-requisito psicológico (a condição de sinceridade) não compromete fundamentalmente o sucesso do ato. A teoria dos atos de fala e, com efeito, construída do ponto de vista do locutor, mas a situação de exterioridade do destinatário a tal (ele não pode julgar a natureza subjetiva da disposi4ao intencional do locutor) que ele só pode ter certeza de condic6es formais.
É  patente que as atestações produzidas por Austin para exemplificar em que consiste a qualidade performativa de tal ou tal enunciado supõe em graus diversos a existência de uma instituição (civil, religiosa, ou ao mesmo tempo civil e religiosa). Existem, certamente, distinções entre esses diferentes enunciados: devido ao fato de serem configuradas por praticas discursivas específicas, a instituição da aposta não se compara com aquela do casamento, e a noção de regra social não implica necessariamente o recurso a certas autoridades competentes. Isto significa afirmar que a teoria da performatividade funda-se, antes de tudo na noção de contrato de fala. Ela supõe corno provável a origem teológica-jurídica de um certo numero de transações verbais.
Discussão. A exposição da teoria da performatividade se desenvolveu em dois momentos.
Em um primeiro momento. Austin tenta sustentar a teoria da performatividade. Esse estágio corresponde à pesquisa de critérios rigorosos. Na ausência de um critério lexicográfico estável (por exemplo, a presença do verbo dizer enquanto definidor de certos verbos). Austin orienta-se na direção de um critério gramatical. He trata de distinguir os empregos de um mesmo verbo performativo:                                                                            
(1) Ele me prometeu vir
(2) Eu te prometo vir
O exemplo (3) e um caso de emprego em que se preserva a significação performativa do verbo; no exemplo (4), pelo menos formalmente, a significação atualiza igualmente o valor performativo do verbo. A qualidade performativa não é, então, uma qualidade lexical intrínseca, mas ulna propriedade potencial que depende das condições do discurso. Portanto, (4) apresenta todos os traços de um modelo linguístico produtivo, construído sobre o padrão sintático/verbo + voz ativa + presente do indicativo/. Esse segundo critério não a mais sustentável. Outras formas linguísticas entram em concorrência com essa pretensa forma canônica: expressões com infinitivo (Evite fumar). Expressões deverbais (Cachorro caçador) etc. Por outro lado, o uso mostra que existem graus de performatividade, um mesmo ato de fala e susceptível de varias realizações, todas convencionais.
(1) Eu te prometo vir
(2) Quanto a mim, eu virei
(3) Ouça, eu virei
Já que a “força" do compromisso não é a mesma, apenas o exemplo (4) comporta um verbo performativo, enquanto que em (5) e (6) o valor do ato não e marcado. Essas variações linguísticas indicam o caráter explícito ou primário do valor performativo dos enunciados:                                                (4) formula um ato direto de fala, enquanto que, no melhor dos casos (5) e (6) formulam um ato indireto de fala (a partir do qual o destinatário poderá derivar um valor diferente da promessa). Enfim, a distinção constativo/performativo encontra um outro tipo de contra- exemplo: todo enunciado articula um traço de descritividade com um traço de performatividade.
Seja o exemplo: Está quente nesta sala. (a) P diz que P, e P só e verdadeiro se for verdadeiro que P, mas, por outro lado, (b) a enunciação de P em um certo contexto a susceptível de conferir um valor ilocucionário especifico que pode constituir uma simples indicação ou um ato de fala indireto (um pedido para que se abra a janela, um convite para deixar a sala, o detonamento de uma ação qualquer no caso de tratar-se de uma senha etc.). A interferência das condições de validação de um ato de enunciação (condições de verdade + condições de sucesso, ou "felicidade") mostra que não ha uma fronteira clara entre esses dois constituintes do sentido, o que tem como consequência a dissolução dessa primeira hipótese.
O questionamento parcial da performatividade, na ausência de critérios decisivos, conduziu Austin a reconstruir inteiramente a teoria dos atos de fala. No entanto, a modificação da pesquisa consistiu menos em um abandono do que numa sistematização da primeira perspectiva. Essa nova orientação tem um preço: a superação da hipótese performativa em proveito de uma hipótese que lhe sistematiza o principio. A concepção que disso resulta, apesar de manter o postulado convencionalista, não faz mais o valor pragmático de um enunciado depender de marcas linguísticas distintivas. A teoria da performatividade é integrada a uma teoria geral do ato de fala que a inclui como um de seus componentes.
Locucionário, ilocucionário, perlocucionário. Se o dizer é um fazer, ele impõe à teoria a necessidade de descrever precisamente em que consiste o ato de dizer, da mesma maneira que impõe a necessidade de esclarecer em que sentido dizer uma coisa é fazê-la. Aqui. Também, Austin procede por etapas. Ele caracteriza o dizer, primeiramente, tendo em vista os diferentes elementos que entram na formação de uma locução: as sonoridades, depois as sonoridade significantes de acordo cone a gramatica do idioma considerado (frases dotadas de um sentido), enfim o relacionamento dessas frases e de um referente (o que faz com que cada uma das frases seja um enunciado dotado de significação). Desse novo questionamento deriva urna nova conceituação e, nesse momento da pesquisa, Austin propõe uma nova hipótese. Ela consiste em afirmar que um ato de fala e um processo complexo que se compõe de três atos estreitamente intrincados:
a) um ato locucionário, que consiste em um ato de referência (o dito enquanto tal):
b) um no ilocucionário, que mostra o que se está fazendo, naquilo que se diz:
c) um no perlocucionário, realizado pelo fato de dizer aquilo que e dito.
Para Austin, esses três níveis de estruturação de um mesmo ato de fala não têm o mesmo estatuto em termos linguísticos. Observe um dos exemplos oferecidos por Austin para ilustrar essa distinção:
Ato (A) - locucionário: Ele me disse: "Você não pode fazer isso".
Ato (B) ilocucionário: ele protesta contra meu ato
Ato (C.a) - perlocucionário: ele me dissuade, me detém
Ato (C.b) - Ele me chama ao bom senso etc. Ele me importuna.
Existem tacos de ordem convencional entre o aspecto locucionário e o aspecto ilocucionário e, de fato, só a análise permite diferenciá-los. Por outro lado, não ha qualquer laço convencional susceptível da reger as relações entre o aspecto ilocucionário e o perlocucionário. O ilocucionário a um dado do código e, como tal, relativamente previsível. O perlocucionário não é outra coisa senão uma "consequência" desprovida de qualquer caráter de necessidade. Austin limita deliberadamente o programa de pesquisa da teoria dos atos de fala à análise do pólo locucionário/ilocucionário, excluindo do horizonte da teoria o estudo da perlocucão.
Intenção/linguagem. O relativo sucesso da hipótese ampliada conduz Austin a estabelecer uma classificação dos valores ilocucionários. Com esse objetivo, ele constrói uma tipologia que comporta cinco rubricas, diferenciadas segundo uma ordem conceitual. Esse principio de classificação se inscreve na tradição dos Thesaurus: veridictivos (concorda, decretar...). exercitivos (ordenar, demitir...), promissivos (prometer, consentir...), comportamentativos (desculpar, agradecer...), expositivos (afirmar, conjeturar ...). Uma ambiguidade caracteriza, entretanto, essa taxionomia: Austin pretende fazer um inventario racional dos tipos ilocucionários, mas, ao mesmo tempo, ele repertoria verbos. Isso coloca um problema metalinguístico, pois se trata de dois níveis de articulação de valores pragmáticos inteiramente diferentes. Todavia, essa confusão, talvez voluntária, oferece a vantagem de colocar claramente e de maneira original o problema das relações entre linguagem e pensamento: as estruturas intencionais (em número de cinco) são subjacentes às formas linguísticas (os verbos ou os nomes de atos denotados pelo significado do cada verbo repertoriado).
A teoria dos atos de fala integra um movimento de pesquisa complexo, feito de rupturas e de reformulações. Ela se organizou a partir de três proposições: uma hipótese restrita (performatividade), uma hipótese gera (ilocucionário), uma hipótese conceitual (taxionomia dos valores). Ela comporta, outrossim, uma teoria implícita do laco politico (teoria dos jogos), que apresenta um esboço das relações entre restrições contextuais e restrições discursivas, mas também insiste sobre as restrições institucionais, linguisticamente marcadas, que regem as relações intersubjetivas.
E necessário separar as criticas que emanam do domínio pragmático a as criticas externas.

A critica pragmática: J.R. Searle, a reconstrução da teoria dos atos de fala. O discípulo e continuador de Austin interferiu nos principais aspectos da teoria dos atos de fala e propôs uma reformulação mais rigorosa. Searle fez do ato de fala uma entidade com duas faces, comportando um conteúdo proposicional, uma força proposicional, explicitada ou não por um marcador de força ilocucionária. A seguir, ele se dedicou ao reexame da taxionomia dos valores ilocucionários (1979) e os reconstruiu segundo 12 critérios, sendo que somente os 4 primeiros formam, realmente, uma série de critérios de escolha:
(a) o objetivo ilocucionário (condição essencial);
(b) a direção de ajustamento, seja das palavras com o mundo, seja do mundo com as palavras (condição preliminar que inclui, também, o estatuto dos locutores);
(c) o estado psicológico expresso (condição de sinceridade);
(d) o conteúdo proposicional (uma relação colocada sobre o passado ou o presente, urna previsão do futuro).
Esses critérios regem a classificação das "forças ilocucionárias primitivas” em cinco rubricas:
- assertivas (afirmar, constatar...), que se caracterizam pela correspondência entre o enunciado e o estado de mundo;
- diretivas (ordenar, aconselhar...), que visam a modificar a situação do alocutário;
- compromissivas (prometer, jurar...), que visam a fazer corresponder o mundo com as palavras;
- expressivas (felicitar, agradecer...), que não visam nem a fazer corresponder as palavras com o mundo (caso 1), nem a modificar o mundo em função das palavras (caso 2);
- declarativas (decretar, abrir uma sessão...), que instituem um estado de fato ao mesmo tempo em que o descrevem, elas participam tanto de (1) quanto de (3).
Significação e contexto de conhecimento. Para além desse remanejamento local das teses de Austin. Searle planta as bases de um novo desenvolvimento da teoria dos atos de fala. Assim, a reflexão que ele desenvolve constitui uma tentativa de responder a questão de saber sob quais condições os sujeitos podem adequadamente interpretar os enunciados e, portanto,
inscreverem-se de maneira adequada nos processos de comunicação (verbal e não verbal). As perspectivas desse questionamento ultrapassam, em muito, pensamos, o problema das "condições de êxito" dos atos do fala. E a partir da radicalização do postulado institucional da hipótese performativa que Searle desenvolve a concepção intencionalista da significação. Submetendo a hipótese performativa a um exame rigoroso, Searle (1972. p. 92-93) propõe distinguir as restrições propriamente linguísticas que condicionam o proferimento desse tipo de enunciado (trata-se de regras normativas) e as restrições para-linguísticas (trata-se de regras constitutivas) às quais se conformam geralmente os sujeitos. Segundo Searle, a adequação de um enunciado, tanto na produção quanto na recepção, é função da conformidade dos sujeitos a um conjunto de regras institucionais que conferem a intenção de comunicação um valor coletivo (ou público). Esse questionamento aproxima-se, de forma mais forte, da crítica ao sentido literal. Em Le sens littéral (1982). Searle discute a pertinência dessa noção, mostrando que, de um ponto de vista estritamente pragmático, ela é inaceitável. Para estabelecer sua tese, Searle trabalha, intencionalmente, a partir de um exemplo cuja feitura leva a invalidar os exemplos dos lógicos. Se podemos interpretar corretamente uma frase como O gato está sobre o telhado, e em virtude de um certo número de "assunções contextuais" que  nos permitem atribuir uma significação a essa frase. Dito de outra maneira, nosso conhecimento de certas leis do mundo em que vivemos (por exemplo, a lei do campo gravitacional que dá sentido à preposição sobre nesse contexto) nos dispõe a realizar adequadamente esse trabalha de interpretação, independentemente das habituais considerações relativas às condições de verdade, à exatidão dos pressupostos, à indicialidade (que só permite determinar a referência). Para Searle, são essas capacidades do “plano de fundo”, que facilitam o processo interpretativo. Em uma pesquisa posterior (L’intentionnalité, 1985), o filósofo volta-se para a problemática dos contextos de conhecimentos, noção que ele define como “o conjunto das capacidades mentais não representativas que é condição de exercício de toda representação”.


5          EXEMPLO


 Em seu texto, Linguagem em Uso, José Luiz Fiorin (2002) trata da Linguística na perspectiva pragmática utilizando para isso diferentes exemplos que serão apresentados a seguir. O referido texto apresenta três dimensões de fatos linguísticos nas quais o estudo pelo viés pragmático é imprescindível: os fatos de enunciação, fatos de inferência e fatos de instrução. Cada um deles pode será abordado neste tópico a partir de exemplos.
Segundo este autor, os fatos de enunciação traduzem-se em realizações linguísticas concretas como ao fenômeno da dêixis, enunciados performativos, a utilização de conectores, negações e advérbios de enunciação. Por exemplo, se forem analisados os advérbios de enunciação em frases como Infelizmente, não posso fazer nada ou Francamente, não vejo como posso ajuda-lo, os advérbios não modificam o verbo, como a gramática tradicional poderia determinar, mas qualificam o próprio ato de dizer. Em outras palavras o sentido dessas frases não pode ser tomado aprioristicamente, antes na instância do discurso.
Quanto aos fatos de inferência, pode-se dizer que estes referem-se à comunicação não literal, ou seja, contextual. Quando se diz, por exemplo num contexto familiar, A lata de lixo está cheia, este enunciado não é simplesmente uma constatação do fato, pode ser interpretado como um pedido de se colocar o lixo para fora de casa, ou então uma ordem para isso ocorra. Este entendimento só é possível se for considerado a perspectiva pragmática. Semelhantemente, é isto que ocorre com os fatos de instrução.
Fatos de Instrução devem apontar os estudos para o entendimento de que as palavras do discurso (Ex.: conectores, conjunções, preposições, advérbios) significam porque há uma instrução sobre a maneira de interpretá-las. O linguista francês Oswald Ducrot explora esta questão com o seu estudo da conjunção “mas”. Para diferentes enunciados, o mas ganha uma nova interpretação que vai além do uso particular, tudo isso partindo de uma só instrução. É o que acontece no exemplo O tempo está feio, mas estou com vontade de dar um passeio. Se tomarmos o tempo está feio como a instrução P, tem-se a conclusão de não devo sair, a qual irá se denominar R. Porém, quando se diz estou com vontade de dar um passeio, codificada como Q, a conclusão seria a negação de R, traduzindo, devo sair. Se colocarmos as duas instruções P e Q unidas pelo mas o resultado é o ~R, ou seja, devo sair. Se essa mesma instrução P, Q e R forem articuladas de uma outra maneira, o resultado será diferente. Veja-se o exemplo a seguir: O tempo está feio, mas a chuva vai encher as represas. A proposição P, O tempo está feio, também há uma conotação ruim. Por outro lado, quando se une isto a a chuva vai encher a represa tira-se a conclusão de que isso é bom. Da conexão P, mas Q, a conclusão final é de que isso é bom. A mesma instrução do exemplo anterior, porém com um novo sentido.



6          CONCLUSÃO

O Estruturalismo que se originou a partir do Curso de Lingüística Geral de Ferdinand Saussure, introduziu conceitos importantíssimos como: Língua X Fala Sincronia X Diacronia e Significante X Significado. Ao encararmos o Estruturalismo como um estudo sistemático, percebemos que cada elemento deste sistema é determinado pelas relações de equivalência ou diferença que possuem com os demais elementos quando analisados juntos. È o conjunto das relações entre elementos que determinam a estrutura.
Nesse estudo, percebeu-se que no formalismo, a gramática é vista como uma tentativa de definir a língua, através de regras sintáticas e que a linguagem é abordada como um sistema autônomo, descontextualizado que tem o objetivo de apontar normas para a "correta" utilização oral ou escrita do idioma, isto é: escrever e falar a língua padrão.
Já no funcionalismo, a língua é um instrumento de interação social, pois existe em função de seu uso. A função da língua é estabelecer comunicação entre os usuários. Por isso a aquisição da linguagem se desenvolve na interação comunicativa e a sintaxe e a semântica devem ser estudadas dentro de uma proposta pragmática.
O funcionalismo se pautará no princípio de que toda a explicação lingüística deve ser buscada na relação entre linguagem e uso, ou na linguagem em uso no contexto social. Tem-se aí uma nova postura – a de que a interação é importante nos processos comunicativos. A teoria funcionalista explicará, por exemplo, o fenômeno linguístico nas relações sócio-interacionais entre falantes/ ouvintes, levando-se em conta, a pragmática, e possíveis intelecções discursivas.
Vale salientar que a teoria funcionalista se ramificou ou se dividiu em várias vertentes na atualidade. Hoje, há várias concepções dentro dessa teoria maior. Como exemplo pode-se citar: a pragmática, linguística textual, análise do discurso, dentre outras.


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