UFBA - UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
INSTITUTO DE LETRAS
CURSO DE LETRAS VERNÁCULAS
História da Linguística / O Formalismo e o Funcionalismo/
A Virada Pragmática.
Salvador, Agosto, 2011
História da Linguística / O Funcionalismo e
a Análise do Discurso.
Salvador, Agosto, 2011
Salvador, Agosto, 2011
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“O silêncio é o real do discurso.”
Orlandi
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO...............................................................................6,7
2 PANORAMA GERAL – HISTÓRIA DA LINGUÍSTICA..........8,9
3 ABORDAGEM FORMAL / FUNCIONAL................................10-15
4
A VIRADA PRAGRMÁTICA.....................................................16-25
5
EXEMPLO....................................................................................26,27
6
CONCLUSÃO.....................................................................................28
7
REFERÊNCIAS..............................................................................29-30
1 INTRODUÇÃO
Os embates teóricos e
metodológicos entre os formalistas russos desemborcaram nos estruturalismos
funcionais, projetados com o Circulo Linguístico de Praga, fundado por
Trubetskoy e Jakobson, dentre outros, em 1926. As formulações teóricas que ali
foram emboçadas disseminaram-se a partir do Congresso Internacional de
Linguística de haia, em 1928, e da elaboração das Teses de Praga. Das referidas
teses emana o principio básico do Funcionalismo, segundo o qual a natureza das
funções linguísticas determinam a estrutura da língua.
O Funcionalismo é um
"movimento particular dentro do Estruturalismo" (LYON, 1981, p. 166)
defende a hipótese de "que a estrutura fonológica, gramatical e semântica
das línguas são determinadas pelas funções que exercem na sociedade em que
operam".
O Funcionalismo
concebe a linguagem prioritariamente, como instrumento de interação social,
validado pelos falantes com o objetivo principal de transmitir informações aos
interlocutores em geral. Ou seja, quando se fala em Funcionalismo, insiste-se
sobre tudo na ideia de uma analise linguística que considera metodologicamente
o componente discursivo, dada sua função prioritária na gramática de uma
língua.
As correntes
Funcionalistas atuais, por sua vez, com mais veemência enfatizam as
características inerentes ao emprego das expressões linguísticas no discurso,
abrangendo fenômenos interacionais, sociais, culturais, cognitivos e outros.
No que concerne aos
principais representantes do Funcionalismo clássico, é plausível citar os
membros da Escola de Praga como (Buhler, Jakobson, e Martinet), a escola de
Londres e Halliday. No âmbito das abordagens Funcionalistas vale colocar em
evidencia os nomes Gívón, Heine, Bybee e Traugott. No Brasil destacam-se, entre
outros os trabalhos de Ataliba Castilho, Sebastião Votre, A. Naro e Adair
Gorski.
A "função"
na teoria Funcionalista, não se aplica as relações de interdependência entre as
palavras na oração (as ditas "funções sintáticas": objeto direto,
objeto indireto, etc.); refere-se "ao papel que a linguagem desempenha na
vida dos indivíduos (...)" (NEVES 2004, p.8). Para Halliday (1973; 104.
Apud. Neves, 2004: 8), esse é o sentido básico e principal do termo
"função" do Funcionalismo. Na gramática funcional de Halliday,
importa investigar o modo como os significados são veiculados, o que implica
considerar as formas da língua como um meio para a realização de um propósito,
e não como um fim em si mesmas. A denominação Gramática Funcional diz respeito
a uma teoria linguística que, assentada no componente significativo (caráter
funcional), procura interpretar as formas linguísticas (caráter gramatical).
Como é intenção do
falante comunicar-se mediante a realização de enunciados, ele aciona a função
interpessoal, pela qual pode "agir" sobre o seu destinatário. Assim,
a estrutura sintática – semântica da frase se adaptará a realidade, o que
implica necessariamente, diferença na analise e na interpretação dos
constituintes frásicos. O falante pode, conforme sua perspectiva, selecionar um
novo predicador (verbo) e, consequentemente as unidades a ele relacionada (seus
argumentos).Tomemos para exemplo a frase seguinte: " O maratonista corria
muito." Nesta frase, há um predicador de 'ação' (correr) que determina uma
estrutura semântica, a qual inclui, necessariamente um agente (maratonista).
Esse predicador determina, portanto, um esquema sintático – semântico
especifico.
2 PANORAMA GERAL – HISTÓRIA DA LINGUÍSTICA
Segundo, Weedwood
(2002) a Linguística é uma ciência geral que estuda a principal modalidade dos
sistemas sígnicos, as línguas naturais, que são a forma de comunicação mais
altamente desenvolvida e de maior uso e que a mesma detém-se somente na
investigação científica da linguagem verbal humana.
Segundo a autora uma
peça de teatro, uma musica, uma mímica, um gesto, podem expressar, de formas
diferentes, um conteúdo igual, mas só a linguagem verbal é capaz de revelar com
maior eficiência qualquer um desses sistemas semióticos.
As línguas naturais
possuem, entre outras, as propriedades de flexibilidade e adaptabilidade, que
permitem expressar conteúdos bastante variados: emoções, sentimentos, ordens,
perguntas, como também possibilitam falar do presente, passado ou futuro.
Ao observar a língua em
uso o linguista procura descrever e explicar os padrões sonoros, gramaticais e
lexicais que estão sendo usados, sem avaliar aquele uso em termos de um outro
padrão: moral, estético ou crítico.
Para Weedwood (2002) a
prioridade atribuída pelo linguista ao estudo da língua falada explica-se pela
necessidade de corrigir os procedimentos de análise da gramática tradicional.
O prestígio e a
autoridade da língua escrita em nossa sociedade, muitas vezes, são obstáculos
para os principiantes nos estudos da Linguística, que têm dificuldade em
perceber e aceitar a possibilidade de considerar a língua falada
independentemente de sua representação gráfica.
Weedwood ressalta ainda
que os critérios de coleta, organização, seleção e análise dos dados
linguísticos obedecem aos princípios de uma teoria linguística expressamente
formulada para esse fim e que os resultados obtidos são correlacionados às
informações disponíveis sobre outras línguas com o objetivo de elaborar uma
teoria geral da linguagem.
A autora apresenta a
Filologia como conjunto de conhecimentos necessários para interpretar e
conhecer um texto, que antigamente se ocupava em fixar e comentar os textos
literários procurando extrair regras de uso linguístico e que, modernamente,
estuda a língua, a literatura e todos os fenômenos culturais de um povo por
meio dos seus textos escritos, distinguindo-se, no entanto, da linguística, na
medida em que esta centra o seu interesse na língua, e aquela nos textos.
Weedwood (2002), afirma
que o campo da linguística pode ser dividido por meio de três dicotomias:
sincrônica, visa estabelecer os princípios fundamentais pertencentes a um
determinado estado de língua, enfocando o sistema linguístico em funcionamento
num determinado momento, sem a perspectiva histórica e diacrônica, na qual os fatos
são analisados quanto às suas transformações, pelas relações que estabelecem
com os fatos que o precederam ou sucederam; teórica, procurando estudar como as
pessoas usando suas particulares linguagens conseguem realizar comunicação,
quais propriedades todas as linguagens têm em comum, qual conhecimento uma
pessoa deve possuir para ser capaz de usar uma linguagem e como a habilidade
linguística é adquirida e aplicada, utilizando conhecimentos da linguística
para solucionar problemas, geralmente referentes ao ensino de línguas, à
tradução ou aos distúrbios de linguagem; microlinguística trata unicamente de
sistemas linguísticos (visão mais estreita) e microlinguística, trata de tudo o
que é pertencente às línguas (visão mais ampla);
A autora observa que na
microlinguística podem ser inclusos os estudos que se preocupam com a “língua
em si”, (fonética, fonologia, morfologia, sintaxe, semântica e lexicologia). E
que também diversas áreas dentro da microlinguística têm recebido nomes
próprios, (Psicolinguística, Sociolinguísticas, Linguística antropológica, e
Linguagem computacional, etc).
3 ABORDAGEM FORMAL / FUNCIONAL
O formalismo, dada a
abrangência de seus estudos, influenciou o Estruturalismo e as correntes
advindas deste no século XX. No âmbito da Linguística Estrutural europeia, ou
da análise estrutural de Ferdinand de Saussure (1857-1913), ganham importância
a Escola de Praga, matriz da Linguística Funcional, tendo à frente as parcerias
entre Nikolai Troubtskoi e Roman Jakobson; e a Escola de Copenhaque, de base
formalista, com Louis Hjelmslev, cujas formulações teóricas orientaram a Escola
Americana e a Linguística Descritiva de Bloomfield (FARIAS Jr., 2003, p.2).
Desde seus primeiros
anos, o Formalismo, não se orientou por uma doutrina uniforme, decorrendo daí
concepções diferentes dentro do próprio movimento, que apontaram para o
surgimento de grupos discordantes, se não de todo, mas de boa parte de seus
postulados sobre a língua e a linguagem. Na Europa, os formalistas organizaram-se
em dois grande grupos: o Círculo Linguístico de Moscou, fundado em 1915, e o
OPOJAZ (Sociedade para o Estudo da Linguagem Poética), fundado em 1916 na
cidade de São Peterbusgo.
O Círculo Linguístico
de Moscou tinha como objetivo sistematizar as descobertas sobre os problemas da
linguagem prática e linguagem poética, enquanto o OPOJAZ visava elaborar
princípios de descrição sincrônica e definir os dispositivos específicos da
língua poética. Os linguistas do OPOJAZ, tendo à frente Viktor Shklovsky e Roman
Jakobson, adotaram o método mecanicista ou formal, focado na técnica e no
dispositivo centrado nos procedimentos técnicos de análise linguística. Para os
referidos estudiosos, a literatura, como trabalho artístico, é a soma de
dispositivos artísticos e literários que o artista manipula para criar sua
obra, considerada como uma entidade autônoma, porém isolada do seu contexto e
autor.
As deficiências desse
método motivaram a elaboração de outro modelo: orgânico, criado pelos teóricos
que se mantinham em atitude de discordância. Tal método, orientado pelos
princípios da Biologia, ocupou-se do estudos das similaridades entre as formas
literárias, tratadas como organismos individuais que conservam entre si traços
comuns aos gêneros da literatura. A recorrência de determinados traços
lingüísticos e a forma como os mesmos se apresentam definem os diferentes
estilos da literários. No entanto, mecanicistas e orgânicos não explicaram as
mudanças que, ao longo do tempo, afetam o sistema literário, seu código linguístico
e os dispositivos de análise de seus organismos.
Como já citamos na
introdução deste trabalho, os embates teóricos e metodológicos entre os
formalistas russos desembocaram nos estruturalismos funcionais, projetados com
o Círculo Linguístico de Praga, fundado por Trubetskoy e Jakobson, dentre
outros, em 1926. As formulações teóricas que ali foram esboçadas
disseminaram-se a partir do Congresso Internacional de Linguística de Haia, em
1928, e da elaboração das Teses de Praga. Das referidas Teses, emana o princípio
básico do funcionalismo, segundo o qual a natureza das funções linguísticas
determina a estrutura da língua. A Função é a tarefa atribuída a um elemento linguístico
estrutural para atingir um objetivo no quadro da comunicação humana, Logo, a
função determina a forma linguística. (MUSSALIM & BENTES, 2001, p.69-70).
Troubetskoi,
fundamentando-se nas ideias de Saussure, contribuiu para o desenvolvimento da
fonologia, sistematizando-a como disciplina, garantindo-lhe difusão
internacional a partir da Primeira Conferência Internacional de Fonologia em
1930.
Roman Jakobson deu
prioridade ao estudo da linguagem poética e aproximou outras disciplinas, como
fonologia e a antropologia da linguística. Os conceitos básicos de seus estudos
foram desenvolvidos em torno dos seguintes dispositivos: 1) similaridade e contiguidade;
2) Metáfora e Metonímia; 3) Equivalência; 4) Ambiguidade. Na perspectiva
jakobsiana, a literatura e a linguística estreitamente estão ligadas nos
fundamentos da poética. A poesia seria dominada pela metáfora, enquanto a prosa
funcionaria sob a metonímia. Coube também Jakobson os louros pela classificação
das funções da linguagem: a função referencial, emotiva, conotativa, fática, metalinguística,
poética. Embora ele tenha acrescentado apenas duas funções às já formuladas por
seus pares: a função poética e a função referencial. A definição dada por ele
para a função poética implica que a linguagem poética não tem por função
primordial descrever o mundo real; enquanto a função referencial não é mais que
acessória, e ela é mesmo seriamente o pacificada pelo trabalho poético.
Dos desdobramentos
das ideias dos formalistas e de suas oposições desenvolveram-se os trabalhos do
funcionalismo que, longe de se constituir uma corrente distinta do estruturalismo,
mantêm vínculos com a Linguística de Saussure e com outras correntes, as quais,
segundo PAVEAU & SARFATI (2006, p. 115), “não constituem corpos teóricos
completos e autônomos, mas correntes imbricadas umas nas outras, ligadas por
relações de filiação ou de oposição e por escolhas teóricas complexas. De fato,
o funcionalismo tem seu lugar no conjunto do movimento estruturalista; é um
estruturalismo específico que se pode chamar de estruturalismo funcional”.
Esses autores
concebem o funcionalismo como sendo mais que um conjunto de teorias, “um olhar
sobre a linguagem e suas relações com o mundo”. E se há um posicionamento
teórico, no “continente do estruturalismo ao qual o funcionalismo se opõe é ao
formalismo”, cuja abordagem, privilegia o estudo do “funcionamento interno do
sistema linguageiro”, as características internas à língua, ou seja, o aspecto
formal da língua; enquanto o funcionalismo privilegia “as constantes
transformações das formas da linguagem na sociedade”, o significado e o uso das
formas linguísticas nas situações comunicativas.
Na perspectiva do
Funcionalismo ganham relevo o trabalho dos linguistas André Martinet e
Halliday. O primeiro defende, como princípio teórico, a definição de língua
como “instrumento de comunicação duplamente articulado e de manifestação
vocal”. O segundo defende uma abordagem sócio-funcional que incorpora a
dimensão social à linguística. A linguagem, segundo ele, é dependente da
cultura. Martinet pauta-se por uma linguística objetiva e generalista, seu
trabalho consiste numa reflexão constante sobre a diversidade das línguas e as
diferenças entre línguas. Os conceitos centrais de suas proposições linguísticas
são apresentados em 1989 na obra Fonction et dynamique des langues. Conforme a
conceituação de Martinet, os quatro domínios que consistem disciplinas
autônomas compreendem: a Função, na qual “os traços linguageiros” são
apreendidos e classificados em referência ao papel que desempenham na
comunicação da informação; a Pertinência Comunicativa que advoga o fundamento
de cada ciência em sua pertinência.
Na linguística
funcional, estimamos que a pertinência é a pertinência comunicativa; a dupla
articulação: fonemas e monemas, cada uma das unidades que resultam de uma
primeira articulação está articulada a outras unidades; e a Linguística geral
funcional, dividida em fonologia – o estudo da forma com que cada língua
utiliza os recursos fônicos para assegurar a comunicação entre seus usuários,
monemática - distingue os monemas lexicais e os monemas gramaticais; c) sintemática
- estuda os sintemas (...) um segmento de enunciado que comporta vários monemas
lexicais combinados entre si; d) sintaxe - estuda as relações de dependência
dos monemas e as funções que eles assumem em um dado enunciado. (PAVEAU &
SAFARTI, 2006, p.136-138).
Dentre outros
funcionalistas, Halliday tem destaque com a elaboração de uma Gramática
Funcional, definida por NEVES (1997, p.2) como uma “teoria da organização
gramatical das línguas naturais que procura se integrar em uma teoria global da
interação social”. Halliday estabeleceu o modelo sistêmico-funcional a partir
de sua abordagem sobre a linguagem atrelada à função social, com trabalhos que
abrangem o texto e o discurso. Para ele, a linguagem é uma parte do processo
social e ao mesmo tempo metáfora de tal processo. E denomina “metafunções” a
articulação entre os dados sociais e as formas linguísticas. Para ele
“metafunções” são conceitos teóricos que “permitem compreender a interface
entre a linguagem e o que está fora da linguagem”. O texto é privilegiado como
unidade de estudo em vez da sentença ou unidade sintática. Ele propõe os
seguintes tipos de função: a) ideacionais (ou cognitivas); b) interpessoais (ou
modais); c) textuais.
Os formalistas do
Círculo de Copenhaque, do qual Hjelmslev foi o fundador (1931), colocam-se,
teoricamente, contra os funcionalistas do Círculo de Praga. Para os formalistas
a língua é uma estrutura autônoma e deve ser interpretada como “uma unidade
encerrada em si mesma”. CUNHA, Et.Al. (2003, p.19). Essa corrente encontrou sua
expressão no contexto do Estruturalismo americano com os trabalhos de
Bloomfield e Harris, apoiados nos estudos Antropologia.
Na primeira metade do
século XX, as teorias europeias já estavam bastante difundidas na América do
Norte. No entanto, os linguistas se confrontaram com línguas cujas estruturas
diferiam do paradigma europeu, fato que os levou a desenvolver uma Teoria da
estrutura das línguas. E adotaram o método descritivo para o conhecimento das
línguas ameríndias. Antes de 1950, entrou em cena o Descritivismo, ou
Distribucionalismo, caracterizado por uma abordagem teórica abstrata da
linguagem e pela negação dos postulados funcionalistas. Bloomfield, um dos
principais expoentes do descritivismo estruturalista, “adotou uma perspectiva explicitamente
behaviorista do estudo da língua, eliminando, em nome da objetividade
científica, toda referência a categorias mentais ou conceituas.” (WEEDWOOD,
2002, p.131).
Sob o argumento de
que os estudiosos da linguagem não dispunham de meios para definir a maior
parte das significações, Bloomfield propôs uma organização das formas linguísticas,
que considerasse o caráter específico e estável de uma língua, a exemplo de
algumas comunidades, nas quais alguns enunciados são semelhantes pela forma e
significação. As formas linguísticas, como unidades de sinal, suscitam
respostas a uma situação entre os interlocutores, o significado é apenas um
estímulo e uma reação verbal. Bloomfield distingue duas formas linguísticas: a
forma gramatical, constituída pela combinação dos texemas (traços de
disposições gramaticais); a forma lexical pela combinação de fonemas que possui
um sentido estável em uma comunidade linguística. PAVEAU & SARFATI (2006,
p. 151-152).
Na década de 60,
Chomsky propôs uma teoria transformacional e gerativa, ou Gerativismo. Elaborou
uma teoria geral, através da qual introduziu conceitos fundamentais de sua
lingüística. Sua concepção de língua considera a capacidade do falante de
exprimir pensamentos através das frases. Distinguiu “estruturas profundas” (o
sentido), gerado pelas “estruturas de superfície”(a camada sonora) da frase.
(PAVEAU & SARFATI (2006, p. 167-171).
Chomsky, embora fosse
discípulo Harris que recebeu influência de por Bloomfield, empenhou-se em
elaborar uma gramática que não se limitasse ao descritivismo, mas que desse
conta de explicar as razões das transformações de uma determinada língua e de
suas as possibilidades de sequências e combinações verbais e sonoras. Chomsky
situou o trabalho do linguista ao lado da competência dos falantes e dos
conhecimentos intuitivos que estes têm sobre como usar língua.
A combinação do
estruturalismo com o funcionalismo é também uma herança da Escola de Praga. Os
funcionalistas são, portanto, estruturalistas na medida em que seu objeto é de
fato a língua como sistema. Porém, a abordagem lingüística difere das
abordagens formalistas, pois concebe a linguagem como um instrumento de
interação social, e busca a motivação para os fatos da língua no contexto do
discurso, extrapolando a investigação da estrutura gramatical. O tratamento de
uma língua natural sob a perspectiva funcionalista, põe sob exame a competência
comunicativa. A Perspectiva Funcional da Sentença (PFS) é um ponto fulcral para
os funcionalistas, quanto à estrutura gramatical das línguas naturais.
CUNHA, Et.Al (2003,
p.29) destacam outros aspectos que diferenciam o funcionalismo contemporâneo do
formalismo: “primeiro por conceber a linguagem como um instrumento de interação
social, e segundo por buscar no contexto discursivo a motivação para os fatos
da língua.” Para esses estudiosos “a estrutura gramatical depende do uso que se
faz da língua, ou seja, a estrutura é motivada pela situação comunicativa.
Nesse sentido, a estrutura é uma variável dependente, pois os usos da língua,
ao longo do tempo, é que dão forma ao sistema”. OLIVEIRA (2006, p. 98) observa
que “Tanto o funcionalismo como o formalismo tratam do mesmo fenômeno: a
língua. Contudo, a forma como vêem esse fenômeno é distinta, o que implica o
uso de metodologias distintas no estudo desse fenômeno“.
Na perspectiva
formalista, “a língua é analisada como um objeto autônomo, cuja estruturam,
independe de seu uso”. Esta visão contrapõe-se à funcionalista que concebe a
língua como um instrumento de comunicação, e como tal, “deve ser analisada como
uma estrutura maleável sujeita às pressões oriundas das diferentes situações
comunicativas que ajudam a determinar sua estrutura” (MARTELOTTA & AREAS,
2003, p. 20).
Há ainda outra
divisão ou tipos de funcionalismo: o conservador, que aponta a inadequação do
Formalismo ou do Estruturalismo, sem propor uma análise de estrutura; o
moderado, que aponta essa inadequação e propõe uma análise funcionalista da
estrutura; e extremado que nega a realidade da estrutura e considera que as
regras se baseiam internamente na função, não havendo restrições sintáticas.
De modo geral, o
Funcionalismo tem um denominador comum, porém podem ser distinguidos, pelo
menos, dois tipos de funcionalismo: um funcionalismo direcionado a um modelo
abstrato de uso da língua e outro, direcionado à língua tal como ela se
manifesta em seu uso efetivo. Resumindo, formalismo e o funcionalismo são
correntes teóricas da Linguística do século XX através das quais os estudiosos
da Língua buscam explicar os fenômenos linguísticos. Embora estas correntes se
ocupem do mesmo objeto de estudo e possuam entre si pontos convergentes,
apresentam divergências quanto à forma de abordagem dos referidos fenômenos.
4 A VIRADA PRAGAMATICA:
4.1 AS TEORIAS PRAGMÁTICAS
4.1.1 Intelectuais
Em inicio, a reflexão
de tipo pragmático não estabelece, por assim dizer, nenhuma ligação com a
reflexão linguística, já que ela se origina em uma série de interrogações
essencialmente filosóficas. Mesmo se, na maioria dos casos, ela tenha acabado
por se fundir e confundir-se com os estudos linguísticos, a pragmática nasceu
da filosofia da linguagem.
A emergência e a
constituição do domínio pragmático são antes de tudo imputáveis a uma situação
de crise da filosofia, ocorrido no final do século XIX, em razão da qual as
diferentes correntes de pensamento efetuaram um retorno radical à questão da
linguagem. A conjuntura era então a de uma tripla problematização das
matemáticas (Cantor descobre a presença de antinomias nos sistemas axiomáticos;
Godel estabelece a incompletude da lógica), da lógica clássica (o debate que
opõe Frege e Husserl e a Brentano marca o recuo do psicologismo e anuncia a
pesquisa de uma linguagem e de um método capazes de garantir a objetividade das
proposições) assim como da metafísica tradicional (ela se traduz pelo
questionamento das construções especulativas herdeiras do idealismo e, sob
influencia do Circulo de Viena, produziu um discurso de justificações da
atividade humana).
Todo o edifício
conceitual é colocado em causa, obrigado filósofos e teóricos a se debruçarem
radicalmente sobre a questão da linguagem e de suas funções, condições sine qua non de toda atividade racional.
Essa crise da
racionalidade tem como efeito o fato de tornar os teóricos mais do que nunca sensíveis ao parâmetro linguageiro. A descoberta de Cantor (o conjunto infinito e o conjunto dos
conjuntos infinitos) colocou à prova o caráter inevitável da significação e tornou necessária e urgente a construção de uma língua perfeita que tornaria impossível, no futuro, a formulação de pares incoerentes. Uma tal língua asseguraria ao calculo um fundamento estável.
O fato é que as línguas naturais (a "língua ordinária") em muitos aspectos são improprias para as operações de cálculo: equivocidade (ambiguidade), subjetividade (afetividade), circularidade (reflexividade), comunicabilidade (contra a informatividade Pura), indicialidade (ancoragem espaco-temporal) tais são os diferentes componentes pragmáticos de uma língua natural. A tornada de consciência desse estado de coisas motiva aquilo que a critica costuma
denominar a "virada linguística da filosofia" (the linguistic turn of philosophy). Com esse rótulo, designa-se esse ponto de mutação do projeto filosófico que é instado, sob o impulso dessa crise, a se re-centrar sobre a questão da linguagem e sua potência.
O fato é que as línguas naturais (a "língua ordinária") em muitos aspectos são improprias para as operações de cálculo: equivocidade (ambiguidade), subjetividade (afetividade), circularidade (reflexividade), comunicabilidade (contra a informatividade Pura), indicialidade (ancoragem espaco-temporal) tais são os diferentes componentes pragmáticos de uma língua natural. A tornada de consciência desse estado de coisas motiva aquilo que a critica costuma
denominar a "virada linguística da filosofia" (the linguistic turn of philosophy). Com esse rótulo, designa-se esse ponto de mutação do projeto filosófico que é instado, sob o impulso dessa crise, a se re-centrar sobre a questão da linguagem e sua potência.
A primeira filosofia
analítica se desenvolve sob o impulso dos trabalhos de Frege sobre a redução da aritmética as operações da logica. No Tractatus logico-philosophicus, L. Wittgenstein
(1989-1951) redefine a filosofia como uma atividade de elucidação e limita sua jurisdição à logica das proposições.
Segundo essa ótica, urna proposição, comparada a um "quadro" devera representar um estado do mundo. Com os Principia Mathemutica. B. Russell (1872-1970) contribui, entre I910 e 1913, com a refundação das matemáticas sob princípios lógicos. A teoria dos tipos aporta notadamente urna solução ao paradoxo lógico (aquele "da classe de todas as classes que não e membro dela mesma". que expressa a antinomia do conjunto dos conjuntos infinitos). Russell distingue um sofisma nessa formulação. Aquilo que inclui "todas" os elementos de um conjunto no deve ser um elemento do conjunto. Tentando dar uma resposta ao problema da referenda ambígua ou da ausência de referência (mascarada pela existência de proposições nem verdadeiras nem falsas). B. Russell elabora a teoria das descrições. Mas, em reação ao reducionismo
logicista, uma segunda corrente se desenvolve no interior da filosofia analítica. Seus principais representantes elegeram como objetos de pesquisa as formas usuais do pensamento (1ógica das línguas naturais) assim como as formas usuais da linguagem (“linguagem ordinária"): G.F. Moore, G. Rvle, P.F. Strawson. S.F.
Toulmin. J.L. Austin entre outros, ilustram esse importante movimento.
Segundo essa ótica, urna proposição, comparada a um "quadro" devera representar um estado do mundo. Com os Principia Mathemutica. B. Russell (1872-1970) contribui, entre I910 e 1913, com a refundação das matemáticas sob princípios lógicos. A teoria dos tipos aporta notadamente urna solução ao paradoxo lógico (aquele "da classe de todas as classes que não e membro dela mesma". que expressa a antinomia do conjunto dos conjuntos infinitos). Russell distingue um sofisma nessa formulação. Aquilo que inclui "todas" os elementos de um conjunto no deve ser um elemento do conjunto. Tentando dar uma resposta ao problema da referenda ambígua ou da ausência de referência (mascarada pela existência de proposições nem verdadeiras nem falsas). B. Russell elabora a teoria das descrições. Mas, em reação ao reducionismo
logicista, uma segunda corrente se desenvolve no interior da filosofia analítica. Seus principais representantes elegeram como objetos de pesquisa as formas usuais do pensamento (1ógica das línguas naturais) assim como as formas usuais da linguagem (“linguagem ordinária"): G.F. Moore, G. Rvle, P.F. Strawson. S.F.
Toulmin. J.L. Austin entre outros, ilustram esse importante movimento.
Quando, no inicio dos
anos 30 do século XX. Wittgenstein afasta-se da logica, e para orientar sua reflexão sobre a elucidação das propriedades de uma língua natural. A esse respeito, a critica distingue dois períodos na obra desse filósofo. Afastando-se de seus primeiros trabalhos de logica, o filósofo formula, em Recherches Philosophiques,
as grandes linhas de um programa de pesquisa inédito, relativo ao exame das relações que uma língua natural estabelece com a categorização da experiência, a percepção, o mundo da
cultura. Wittgeinstein distingue principalmente a função de comunicação da linguagem vernácula: a cada domínio de praticas (formas de vida) corresponde uma multiplicidade de cenários de comunicação (jogos de linguagem). Sob influência da segunda filosofia analítica, os filósofos passaram a considerar de forma inusitada os propósitos da atividade filosófica.
cultura. Wittgeinstein distingue principalmente a função de comunicação da linguagem vernácula: a cada domínio de praticas (formas de vida) corresponde uma multiplicidade de cenários de comunicação (jogos de linguagem). Sob influência da segunda filosofia analítica, os filósofos passaram a considerar de forma inusitada os propósitos da atividade filosófica.
4.1.2 Pragmática e linguística
Quer seja autônoma (filosofia
da linguagem ordinária) ou incorporada (pragmática linguística), a pragmática
conserva, apesar de tudo, uma identidade própria. Suas orientações tomam um
caminho diferente daquele do Curso de Linguística
Geral de Saussure. Dois debates históricos (Benveniste/Austin; Ducrot/Searle)
fizeram a pragmática progressivamente adaptar-se à linguística. E importante
caracterizar os jogos terminológicos de maneira a delimitar de forma mais
rigorosa o espectro teórico da pragmática.
As denominações são
abundantes e podem levar a confusão se não tomarmos cuidado com elas. Para precisar a terminologia, proporemos as
seguintes definições:
- O termo pragmática qualifica um domínio de escudos, sem especificação
de um objeto de pesquisa a priori;
- A expressão pragmática
filosófica designa seja o fato de que a pragmática deriva historicamente da filosofia, o que constitui uma redundância.
seja os projetos de refundação das grandes questões da filosofia (conhecimento.
moral. politica...) a partir das aquisições da filosofia analítica;
- A expressão pragmática linguística designs o conjunto
das teorias elaboradas, no quadro da linguística, a partir da integração dos conceitos e perspectivas de trabalho da filosofia da linguagem ordinária;
- Reservaremos a expressão
pragmática da linguagem para designar
o conjunto de modelos de tipo pragmático que tomam como objeto de estudos diferentes aspectos da linguagem não articulada (especialmente os sistemas
culturais enquanto sistemas integrantes de comunicação).
A questão do contexto
deve ser, igualmente, especificada, se quisermos fazer dele um concerto operatório.
Levar em conta o nível de analise que esse termo designa revela-se com efeito
determinante para a caracterização da pragmática em termos de construção teórica.
Frequentemente
definida como a ciência do contexto, a pragmática distingue diferentes tipos, ou, mais exatamente, assinala diferentes níveis de estruturação
do contexto:
- O contexto circunstancial corresponde ao ambiente físico
imediato dos protagonistas (espaço, tempo. natureza e textura da comunicação);
- O contexto situacional coincide com o ambiente cultural do discurso. Enquanto
tal, ele define os critérios de validade (qual tipo de expressão,
considerada como "normal" em uma cultura, mostra-se "anormal" em uma outra). Ele opera como uma matriz de gêneros em função das praticas que determina;
considerada como "normal" em uma cultura, mostra-se "anormal" em uma outra). Ele opera como uma matriz de gêneros em função das praticas que determina;
- O contexto interacional caracteriza as formas do
discurso e os sistemas de signos que as acompanham (turnos de fala, gestos...);
- O contexto epistêmico (ou pressuposicional)
recobre o conjunto dascrenças e valores comuns aos locutores, seja de maneira a priori (pré-construido), seja a posteriori (construído).
4. 2 OS DOMÍNIOS TEÓRICOS
2.1. J. L. Austin
(1911-1960): a teoria dos atos de fala
A ilusão descritiva. A constituição da "linguagem ordinária" em objeto de conhecimento procede, como já vimos, de uma oposição ao logicismo. E nesse contexto que é preciso situar a teoria dos atos de fala. Ela constitui uma superação da concepção clássica de linguagem. John L. Austin contesta, com efeito, o primado da frase afirmativa que fora erigida, na concepção representacionista, como protótipo da verbalização. A ilusão descritiva, ligada
a essa concepção, nasce do desconhecimento de outros valores linguísticos.
Constativo/performativo. Tanto a gramatica tradicional quanto a filosofia da linguagem em sua versão logicista só reconhecem dois tipos de formações linguísticas: as proposições dotadas de sentido (verdadeiros ou falsos) e as sem-sentido. As proposições éticas (os enunciados da moral, bíblicos etc.), afirma Austin, logo chamaram a atenção dos filósofos, pois elas não são nem afirmações nem sem-sentido. A consideração desse tipo de enunciados abre uma nova pista para a compreensão da linguagem. Austin avança uma primeira hipótese: as línguas naturais se organizam em torno de uma distinção funcional entre dois tipos de enunciados (com exceção do sem-sentido): os enunciados constativos que descrevem uni estado
de coisas (como no exemplo 1) e os enunciados performativos, que
permitem realizar um certo tipo de ação (como no exemplo 2 ):
(1) O céu esta azul
(2) Eu prometo resolver esse problema
Os enunciados do tipo
(1) são verdadeiros ou falsos, na medida em que eles dão ou não dão conta de um estado de coisas objetivo (o fato de o céu estar ou não azul no momento da fala) e obedecem a condições de verdade (empiricamente observáveis). Os
enunciados do tipo (2) não são nem verdadeiros nem falsos, mas susceptíveis de serem "felizes" ou
"infelizes” (eles exprimem um engajamento do locutor, ou qualquer outro
tipo de intervenção), eles respondem a condições de felicidade (a sinceridade
presumida do locutor não e empiricamente verificável).
Aspectos da
performatividade. Os enunciados performativos validam a
ideia da sobre determinação da linguagem já que eles são regidos por diferentes
tipos de convenções. Os exemplos escolhidos por Austin validam, pelo menos em
principio, esse postulado: o casamento, a inauguração, a legação testamentaria.
a aposta constituem atos de fala regidos por regras precisas e necessárias,
partilhadas, ou ao menos conhecidas por todos os membros de uma mesma
sociedade.
Todavia, o êxito dos
atos de fala, por mais ritualizados que eles sejam, supõe o respeito a um certo
numero de condições: linguísticas (certas formulas devem ser empregadas à exceção
de outras); sociológicas (os locutores devem ser investidos de autoridade ou do
estatuto requerido pela situação, em um tempo e lugar adequados), psicológicas
(a disposição de espírito dos locutores deve estar conforme ao tipo de compromisso
que eles assumem). Austin deu o nome de "teoria dos jogos" a formulação
dessas exigências teóricas, enfatizando, assim, a importância da observação simultânea
desse conjunto de regras. Com efeito, a desobediência a uma dessas três condições
não permite que se alcance o êxito do ato. Por realismo, entretanto, Austin
deixa entender que a transgressão do pré-requisito psicológico (a condição de
sinceridade) não compromete fundamentalmente o sucesso do ato. A teoria dos
atos de fala e, com efeito, construída do ponto de vista do locutor, mas a situação
de exterioridade do destinatário a tal (ele não pode julgar a natureza
subjetiva da disposi4ao intencional do locutor) que ele só pode ter certeza de
condic6es formais.
É patente que as atestações produzidas por
Austin para exemplificar em que consiste a qualidade performativa de tal ou tal
enunciado supõe em graus diversos a existência de uma instituição (civil, religiosa,
ou ao mesmo tempo civil e religiosa). Existem, certamente, distinções entre
esses diferentes enunciados: devido ao fato de serem configuradas por praticas
discursivas específicas, a instituição da aposta não se compara com aquela do
casamento, e a noção de regra social não implica necessariamente o recurso a
certas autoridades competentes. Isto significa afirmar que a teoria da
performatividade funda-se, antes de tudo na noção de contrato de fala. Ela supõe
corno provável a origem teológica-jurídica de um certo numero de transações verbais.
Discussão. A exposição da teoria da performatividade se desenvolveu em dois
momentos.
Em um primeiro
momento. Austin tenta sustentar a teoria da performatividade. Esse estágio
corresponde à pesquisa de critérios rigorosos. Na ausência de um critério lexicográfico
estável (por exemplo, a presença do verbo dizer enquanto definidor de certos
verbos). Austin orienta-se na direção de um critério gramatical. He trata de
distinguir os empregos de um mesmo verbo performativo:
(1) Ele
me prometeu vir
(2) Eu te prometo vir
O exemplo (3) e um
caso de emprego em que se preserva a significação performativa do verbo; no
exemplo (4), pelo menos formalmente, a significação atualiza igualmente o valor
performativo do verbo. A qualidade performativa não é, então, uma qualidade
lexical intrínseca, mas ulna propriedade potencial que depende das condições do
discurso. Portanto, (4) apresenta todos os traços de um modelo linguístico
produtivo, construído sobre o padrão sintático/verbo + voz ativa + presente do
indicativo/. Esse segundo critério não a mais sustentável. Outras formas linguísticas
entram em concorrência com essa pretensa forma canônica: expressões com infinitivo
(Evite fumar). Expressões deverbais (Cachorro caçador) etc. Por outro lado, o
uso mostra que existem graus de performatividade, um mesmo ato de fala e susceptível
de varias realizações, todas convencionais.
(1) Eu te prometo vir
(2) Quanto a mim, eu virei
(3) Ouça, eu virei
Já que a “força"
do compromisso não é a mesma, apenas o exemplo (4) comporta um verbo
performativo, enquanto que em (5) e (6) o valor do ato não e marcado. Essas variações
linguísticas indicam o caráter explícito ou primário do valor performativo dos
enunciados:
(4) formula um ato direto de fala, enquanto que, no melhor dos casos (5)
e (6) formulam um ato indireto de fala (a partir do qual o destinatário poderá
derivar um valor diferente da promessa). Enfim, a distinção constativo/performativo
encontra um outro tipo de contra- exemplo: todo enunciado articula um traço de
descritividade com um traço de performatividade.
Seja o exemplo: Está quente nesta sala. (a) P diz que P,
e P só e verdadeiro se for verdadeiro que P, mas, por outro lado, (b) a enunciação
de P em um certo contexto a susceptível de conferir um valor ilocucionário especifico
que pode constituir uma simples indicação ou um ato de fala indireto (um pedido
para que se abra a janela, um convite para deixar a sala, o detonamento de uma ação
qualquer no caso de tratar-se de uma senha etc.). A interferência das condições
de validação de um ato de enunciação (condições de verdade + condições de
sucesso, ou "felicidade") mostra que não ha uma fronteira clara entre
esses dois constituintes do sentido, o que tem como consequência a dissolução
dessa primeira hipótese.
O questionamento parcial
da performatividade, na ausência de critérios decisivos, conduziu Austin a
reconstruir inteiramente a teoria dos atos de fala. No entanto, a modificação
da pesquisa consistiu menos em um abandono do que numa sistematização da primeira
perspectiva. Essa nova orientação tem um preço: a superação da hipótese
performativa em proveito de uma hipótese que lhe sistematiza o principio. A concepção
que disso resulta, apesar de manter o postulado convencionalista, não faz mais
o valor pragmático de um enunciado depender de marcas linguísticas distintivas.
A teoria da performatividade é integrada a uma teoria geral do ato de fala que
a inclui como um de seus componentes.
Locucionário, ilocucionário,
perlocucionário. Se o dizer é um fazer, ele impõe à
teoria a necessidade de descrever precisamente em que consiste o ato de dizer,
da mesma maneira que impõe a necessidade de esclarecer em que sentido dizer uma
coisa é fazê-la. Aqui. Também, Austin procede por etapas. Ele caracteriza o
dizer, primeiramente, tendo em vista os diferentes elementos que entram na formação
de uma locução: as sonoridades, depois as sonoridade significantes de acordo
cone a gramatica do idioma considerado (frases dotadas de um sentido), enfim o
relacionamento dessas frases e de um referente (o que faz com que cada uma das
frases seja um enunciado dotado de significação). Desse novo questionamento
deriva urna nova conceituação e, nesse momento da pesquisa, Austin propõe uma
nova hipótese. Ela consiste em afirmar que um ato de fala e um processo
complexo que se compõe de três atos estreitamente intrincados:
a) um ato locucionário, que consiste em um ato de
referência (o dito enquanto tal):
b) um no ilocucionário, que mostra o que se está
fazendo, naquilo que se diz:
c) um no perlocucionário, realizado pelo fato de
dizer aquilo que e dito.
Para Austin, esses três
níveis de estruturação de um mesmo ato de fala não têm o mesmo estatuto em termos
linguísticos. Observe um dos exemplos oferecidos por Austin para ilustrar essa distinção:
Ato (A) - locucionário:
Ele me disse: "Você não pode fazer isso".
Ato (B) ilocucionário:
ele protesta contra meu ato
Ato (C.a) - perlocucionário:
ele me dissuade, me detém
Ato (C.b) - Ele me
chama ao bom senso etc. Ele me importuna.
Existem tacos de
ordem convencional entre o aspecto locucionário e o aspecto ilocucionário e, de
fato, só a análise permite diferenciá-los. Por outro lado, não ha qualquer laço
convencional susceptível da reger as relações entre o aspecto ilocucionário e o
perlocucionário. O ilocucionário a um dado do código e, como tal, relativamente
previsível. O perlocucionário não é outra coisa senão uma "consequência"
desprovida de qualquer caráter de necessidade. Austin limita deliberadamente o
programa de pesquisa da teoria dos atos de fala à análise do pólo locucionário/ilocucionário,
excluindo do horizonte da teoria o estudo da perlocucão.
Intenção/linguagem. O relativo sucesso da hipótese ampliada conduz Austin a estabelecer
uma classificação dos valores ilocucionários. Com esse objetivo, ele constrói
uma tipologia que comporta cinco rubricas, diferenciadas segundo uma ordem
conceitual. Esse principio de classificação se inscreve na tradição dos Thesaurus: veridictivos (concorda, decretar...).
exercitivos (ordenar, demitir...), promissivos (prometer, consentir...),
comportamentativos (desculpar, agradecer...), expositivos (afirmar, conjeturar
...). Uma ambiguidade caracteriza, entretanto, essa taxionomia: Austin pretende
fazer um inventario racional dos tipos ilocucionários, mas, ao mesmo tempo, ele
repertoria verbos. Isso coloca um problema metalinguístico, pois se trata de
dois níveis de articulação de valores pragmáticos inteiramente diferentes.
Todavia, essa confusão, talvez voluntária, oferece a vantagem de colocar
claramente e de maneira original o problema das relações entre linguagem e
pensamento: as estruturas intencionais (em número de cinco) são subjacentes às formas
linguísticas (os verbos ou os nomes de atos denotados pelo significado do cada verbo
repertoriado).
A teoria dos atos de
fala integra um movimento de pesquisa complexo, feito de rupturas e de reformulações.
Ela se organizou a partir de três proposições: uma hipótese restrita
(performatividade), uma hipótese gera (ilocucionário), uma hipótese conceitual
(taxionomia dos valores). Ela comporta, outrossim, uma teoria implícita do laco
politico (teoria dos jogos), que apresenta um esboço das relações entre restrições
contextuais e restrições discursivas, mas também insiste sobre as restrições
institucionais, linguisticamente marcadas, que regem as relações
intersubjetivas.
E necessário separar
as criticas que emanam do domínio pragmático a as criticas externas.
A critica pragmática:
J.R. Searle, a reconstrução da teoria dos atos de fala. O discípulo e continuador de Austin interferiu nos principais aspectos
da teoria dos atos de fala e propôs uma reformulação mais rigorosa. Searle fez do
ato de fala uma entidade com duas faces, comportando um conteúdo proposicional, uma força proposicional, explicitada ou não por um
marcador de força ilocucionária. A seguir, ele se dedicou ao reexame da
taxionomia dos valores ilocucionários (1979) e os reconstruiu segundo 12 critérios,
sendo que somente os 4 primeiros formam, realmente, uma série de critérios de
escolha:
(a) o objetivo ilocucionário
(condição essencial);
(b) a direção de
ajustamento, seja das palavras com o mundo, seja do mundo com as palavras
(condição preliminar que inclui, também, o estatuto dos locutores);
(c) o estado psicológico
expresso (condição de sinceridade);
(d) o conteúdo
proposicional (uma relação colocada sobre o passado ou o presente, urna previsão
do futuro).
Esses critérios regem
a classificação das "forças ilocucionárias primitivas” em cinco rubricas:
- assertivas (afirmar, constatar...), que
se caracterizam pela correspondência entre o enunciado e o estado de mundo;
- diretivas (ordenar, aconselhar...), que
visam a modificar a situação do alocutário;
- compromissivas (prometer, jurar...), que
visam a fazer corresponder o mundo com as palavras;
- expressivas (felicitar, agradecer...),
que não visam nem a fazer corresponder as palavras com o mundo (caso 1), nem a
modificar o mundo em função das palavras (caso 2);
- declarativas (decretar, abrir uma sessão...),
que instituem um estado de fato ao mesmo tempo em que o descrevem, elas participam
tanto de (1) quanto de (3).
Significação e
contexto de conhecimento. Para além desse remanejamento
local das teses de Austin. Searle planta as bases de um novo desenvolvimento da
teoria dos atos de fala. Assim, a reflexão que ele desenvolve constitui uma tentativa
de responder a questão de saber sob quais condições os sujeitos podem
adequadamente interpretar os enunciados e, portanto,
inscreverem-se de maneira adequada nos
processos de comunicação (verbal e não verbal). As perspectivas desse
questionamento ultrapassam, em muito, pensamos, o problema das "condições
de êxito" dos atos do fala. E a partir da radicalização do postulado institucional
da hipótese performativa que Searle desenvolve a concepção intencionalista da significação.
Submetendo a hipótese performativa a um exame rigoroso, Searle (1972. p. 92-93)
propõe distinguir as restrições propriamente linguísticas que condicionam o
proferimento desse tipo de enunciado (trata-se de regras normativas) e as restrições para-linguísticas (trata-se de regras constitutivas) às quais se conformam geralmente os
sujeitos. Segundo Searle, a adequação de um enunciado, tanto na produção quanto na recepção, é função da conformidade dos sujeitos a um conjunto de regras institucionais que conferem a intenção de comunicação um valor coletivo (ou público). Esse questionamento aproxima-se, de forma mais forte, da crítica ao sentido literal. Em Le sens littéral
(1982). Searle discute a pertinência dessa noção, mostrando que, de um ponto de vista estritamente pragmático, ela é inaceitável. Para estabelecer sua tese, Searle trabalha, intencionalmente, a partir de um exemplo cuja feitura leva a invalidar os exemplos dos lógicos. Se podemos interpretar corretamente uma frase como O gato está sobre o telhado, e em virtude de um certo número de "assunções
contextuais" que nos permitem
atribuir uma significação a essa frase. Dito de outra maneira, nosso
conhecimento de certas leis do mundo em que vivemos (por exemplo, a lei do
campo gravitacional que dá sentido à preposição sobre nesse contexto) nos dispõe
a realizar adequadamente esse trabalha de interpretação, independentemente das
habituais considerações relativas às condições de verdade, à exatidão dos
pressupostos, à indicialidade (que só permite determinar a referência). Para
Searle, são essas capacidades do “plano de fundo”, que facilitam o processo
interpretativo. Em uma pesquisa posterior (L’intentionnalité, 1985), o filósofo volta-se para a problemática dos
contextos de conhecimentos, noção que
ele define como “o conjunto das capacidades mentais não representativas que é
condição de exercício de toda representação”.
5 EXEMPLO
Em seu texto, Linguagem em Uso, José Luiz
Fiorin (2002) trata da Linguística na perspectiva pragmática utilizando para
isso diferentes exemplos que serão apresentados a seguir. O referido texto
apresenta três dimensões de fatos linguísticos nas quais o estudo pelo viés
pragmático é imprescindível: os fatos de enunciação, fatos de inferência e
fatos de instrução. Cada um deles pode será abordado neste tópico a partir de
exemplos.
Segundo este autor,
os fatos de enunciação traduzem-se em realizações linguísticas concretas como
ao fenômeno da dêixis, enunciados performativos, a utilização de conectores,
negações e advérbios de enunciação. Por exemplo, se forem analisados os
advérbios de enunciação em frases como Infelizmente, não posso fazer nada ou
Francamente, não vejo como posso ajuda-lo, os advérbios não modificam o verbo,
como a gramática tradicional poderia determinar, mas qualificam o próprio ato
de dizer. Em outras palavras o sentido dessas frases não pode ser tomado
aprioristicamente, antes na instância do discurso.
Quanto aos fatos de
inferência, pode-se dizer que estes referem-se à comunicação não literal, ou
seja, contextual. Quando se diz, por exemplo num contexto familiar, A lata de
lixo está cheia, este enunciado não é simplesmente uma constatação do fato,
pode ser interpretado como um pedido de se colocar o lixo para fora de casa, ou
então uma ordem para isso ocorra. Este entendimento só é possível se for
considerado a perspectiva pragmática. Semelhantemente, é isto que ocorre com os
fatos de instrução.
Fatos de Instrução
devem apontar os estudos para o entendimento de que as palavras do discurso
(Ex.: conectores, conjunções, preposições, advérbios) significam porque há uma
instrução sobre a maneira de interpretá-las. O linguista francês Oswald Ducrot
explora esta questão com o seu estudo da conjunção “mas”. Para diferentes
enunciados, o mas ganha uma nova interpretação que vai além do uso particular,
tudo isso partindo de uma só instrução. É o que acontece no exemplo O tempo
está feio, mas estou com vontade de dar um passeio. Se tomarmos o tempo está
feio como a instrução P, tem-se a conclusão de não devo sair, a qual irá se
denominar R. Porém, quando se diz estou com vontade de dar um passeio,
codificada como Q, a conclusão seria a negação de R, traduzindo, devo sair. Se
colocarmos as duas instruções P e Q unidas pelo mas o resultado é o ~R, ou
seja, devo sair. Se essa mesma instrução P, Q e R forem articuladas de uma
outra maneira, o resultado será diferente. Veja-se o exemplo a seguir: O tempo
está feio, mas a chuva vai encher as represas. A proposição P, O tempo está
feio, também há uma conotação ruim. Por outro lado, quando se une isto a a
chuva vai encher a represa tira-se a conclusão de que isso é bom. Da conexão P,
mas Q, a conclusão final é de que isso é bom. A mesma instrução do exemplo
anterior, porém com um novo sentido.
6 CONCLUSÃO
O Estruturalismo que
se originou a partir do Curso de Lingüística Geral de Ferdinand Saussure,
introduziu conceitos importantíssimos como: Língua X Fala Sincronia X Diacronia
e Significante X Significado. Ao encararmos o Estruturalismo como um estudo
sistemático, percebemos que cada elemento deste sistema é determinado pelas
relações de equivalência ou diferença que possuem com os demais elementos
quando analisados juntos. È o conjunto das relações entre elementos que
determinam a estrutura.
Nesse estudo,
percebeu-se que no formalismo, a gramática é vista como uma tentativa de
definir a língua, através de regras sintáticas e que a linguagem é abordada
como um sistema autônomo, descontextualizado que tem o objetivo de apontar
normas para a "correta" utilização oral ou escrita do idioma, isto é:
escrever e falar a língua padrão.
Já no funcionalismo,
a língua é um instrumento de interação social, pois existe em função de seu
uso. A função da língua é estabelecer comunicação entre os usuários. Por isso a
aquisição da linguagem se desenvolve na interação comunicativa e a sintaxe e a
semântica devem ser estudadas dentro de uma proposta pragmática.
O funcionalismo se
pautará no princípio de que toda a explicação lingüística deve ser buscada na
relação entre linguagem e uso, ou na linguagem em uso no contexto social.
Tem-se aí uma nova postura – a de que a interação é importante nos processos
comunicativos. A teoria funcionalista explicará, por exemplo, o fenômeno linguístico
nas relações sócio-interacionais entre falantes/ ouvintes, levando-se em conta,
a pragmática, e possíveis intelecções discursivas.
Vale salientar que a
teoria funcionalista se ramificou ou se dividiu em várias vertentes na
atualidade. Hoje, há várias concepções dentro dessa teoria maior. Como exemplo
pode-se citar: a pragmática, linguística textual, análise do discurso, dentre
outras.
7
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julia
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